Déficit de armazenagem de grãos no Brasil demanda investimentos, diz Conab
O Brasil bateu recordes sucessivos de produção de grãos nos últimos anos, devendo fechar a safra 2020/2021 com 273,8 milhões de toneladas, mas a capacidade de armazenamento não cresceu no mesmo ritmo. O resultado é um déficit de armazenagem de 122 milhões de toneladas, segundo dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), considerando apenas a relação entre o tamanho da produção e a capacidade estática dos armazéns.
Para o superintendente de armazenagem da companhia, Stelito dos Reis Neto, no entanto, faltam investimentos no setor. Ele reconhece que os 122 milhões não representam a necessidade real de armazenagem, devido, principalmente, à temporalidade das safras - permitindo que o mesmo armazém pode guardar a soja e depois o milho - e às demandas de consumo e exportação.
Em live realizada nesta quarta-feira (5/5), Neto admitiu que os maiores produtores de grãos, como Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás e Matopiba, têm gargalos devido à grande diferença entre o tamanho da produção e a capacidade estática. Uma projeção da Conab aponta que, apenas na região do Matopiba, por exemplo, faltará espaço para armazenar 13 milhões de toneladas caso a primeira safra fique nos silos por até cinco meses.
Em Mato Grosso, o gargalo é menor: considerando a armazenagem por cinco meses, faltaria espaço para 3,48% da produção. Mas, isso apenas se toda a estrutura de armazéns estiver funcionando 100%, o que de fato não acontece. “A partir de 85% da capacidade estática ocupada, já se delineia problemas para armazenagem”, diz Reis Neto.
A solução apontada pela Conab é a construção de mais armazéns, o que demanda tempo e altos investimentos. Para mitigar o problema no curto prazo, Reis Neto recomenda agilização no fluxo dos grãos nos armazéns, uso de estruturas temporárias (silos-bolsa) e planejamento logístico com informações regionais. Ele disse que a Conab pretende disponibilizar dados regionais atualizados a cada 15 dias, mas não citou data para o lançamento do serviço.
A alternativa de armazenagem em silos-bolsa foi destacada por Angelo Pedrosa, sócio da Vinculum Agro e ex-diretor da Cargill. Segundo ele, a tecnologia só foi introduzida no Brasil em 2003, mas registra um crescimento de uso de 25% ao ano. Em 2019, a estimativa era de 20 milhões de toneladas armazenadas nesses dispositivos. Para 2025, a projeção é de 60 milhões de toneladas. Ele ressaltou que a Argentina, que detém a tecnologia, já armazena nas bolsas 45 milhões de toneladas de grãos e farelos, 30% de sua produção.
Logística
Thome Luiz Guth, superintendente de logística operacional da Conab, apontou na live a necessidade de mais investimentos também em logística de transporte para o escoamento das safras. Segundo ele, um gargalo importante são os portos, que têm capacidade para movimentar 187 milhões de toneladas, mas já se projeta para 2025, a necessidade de elevar esse número para 191 milhões de toneladas. Além disso, o tempo de espera nos portos, estimado hoje em 71 horas, precisa diminuir.
“O Brasil tem investido em outros modais de transporte, mas precisa pensar na estrutura de seus portos.”
Guth apontou ainda que os produtores têm optado por operar cada vez mais com os portos do arco norte, que movimentaram em 2015, 21% das cargas portuárias, e em 2020 chegaram a 34%, ultrapassando o volume do porto de Santos.
Eliana Silva – Globo Rural