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Mamonas assassinas... porém sagradas


Expedito José de Sá Parente - Professor aposentado da UFC e diretor da Tecbio, empresa incubadora do - 29 nov 1999 - 22:00 - Última atualização em: 09 nov 2011 - 19:20

Planta bastante disseminada nos terrenos baldios, a carrapateira nos lembra a infância com alegria, pois o seu fruto substituía a pedra usada como bala de baladeira. Apesar de ser um instrumento bélico dos meninos, nunca provocou mais que a alegria e agitação dos adolescentes traquinos. Eles não sabiam que das bagas daqueles frutos, com a aparência de carrapatos, extraía-se o óleo de rícino, usado no passado próximo como eficiente vermífugo.

O tal óleo de rícino era o óleo de mamona, odiado por todos que foram obrigados a tomar. Para concluir aquela terrível degustação, o jovem era obrigado a tomar uma xícara média de café amargo. O resíduo da extração daquele odiado óleo é muito venenoso, assassino, mas que nunca matou ninguém. No mundo dos adultos, o óleo de mamona encontra milhares de aplicações na indústria química e farmacêutica. Várias delas, na produção de plásticos, de lubrificantes e de remédios.

Outras aplicações direcionam-se para as artes bélicas, na composição e fabrico de determinados produtos utilizados nos tanques, nas metralhadoras, nos mísseis e em outros armamentos. A história dos preços do óleo de mamona coincide com a história das guerras, quando as mamonas tornam-se verdadeiramente assassinas. De fato, a Massacre do Iraque fez o óleo de mamona atingir no mercado internacional o exorbitante valor de US$ 1.170 a tonelada, ou seja, R$ 3,40 o quilo.

Durante a Segunda Guerra Mundial, na Guerra do Vietnã e na Guerra do Golfo, o fenômeno da super elevação nos preços do óleo de mamona aconteceu repetidamente em sua evidente plenitude. Nas entressafras das guerras, os estoques do óleo de mamona se recompõem e os preços de mercado ajustam-se automaticamente, situando-se no patamar de US$ 400 a tonelada, ou seja, R$ 1,10 o quilo. O serrote dos preços do óleo de mamona quebrou muita gente, em especial, os pequenos e numerosos agricultores nordestinos, infelizmente o elo mais frágil e desprestigiado da cadeia produtiva.

O Ceará já foi o maior produtor de mamona, e o Brasil, o campeão mundial em ricinocultura. Hoje é a Bahia, disparado o grande campeão nacional. A China e a Índia são os maiores produtores, seguindo-se o Brasil que tem se contentado com o prudente terceiro lugar. Os produtores mundiais disputam o mercado químico, que apesar das múltiplas aplicações e direcionamentos, possui uma modesta demanda de 800 milhões de toneladas anuais. Eureka...

De assassinas para salvadoras, sagradas. Diante do inusitado, um fantástico desafio! Quem te viu, quem te vê, quem te verá? Um hectare de mamoneira pode gerar até 750 kg de óleo, podendo resultar 800 litros de biodiesel. Se consorciada com o feijão de ciclo curto, dois hectares de lavoura são suficientes para promover a inclusão social de uma família em estado de miséria. Um ônibus urbano, que pode consumir anualmente 40.000 litros do biocombustível, tem o poder mágico de promover a inclusão social de até 40 famílias, e ainda transformar-se num eficiente soldado no combate ao efeito estufa e à poluição ambiental.

Numa outra forma, com 270 litros de biodiesel é possível gerar um megawatt-hora de eletricidade. Gerando 5 Mwh de bioeletricidade promove-se a inclusão social de uma família rural. Neste ponto torna-se bastante oportuno e necessário ressaltar os benefícios ambientais do biodiesel, em especial, o de mamona.

É fato comprovado que a combustibilidade do biodiesel é muito superior a do petrodiesel, razão pela qual, a mistura biodiesel/petrodiesel na proporção de 20-25% resulta na completa eliminação da fuligem das emissões veiculares. Atribui-se às excessivas incrustações de fuligem nos pulmões, fenômeno especialmente constatado nos grandes centros urbanos, como um fator dominante da tuberculose crônica moderna, responsável por um número de óbitos superior aos motivados pela AIDS. Esta é a razão original do porque “todos os ônibus urbanos na França usam misturas biodiesel/petrodiesel em proporções balizadas em suas disponibilidades”.

Estimativas da Embrapa indicam que um hectare de lavoura de mamona é capaz de absorver anualmente, pela fotossíntese, cerca de 8 toneladas de gás carbono, devolvendo para a atmosfera, quase 6 toneladas de oxigênio puro, combatendo o danoso efeito estufa. Segundo o Tratado de Quioto, o seqüestro de gás carbono está valendo dinheiro, a razão atual de US$ 6 a tonelada, nos chamados “certificados de carbono” que prometem valer muito mais no futuro.