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Debate: impacto na distribuição


BiodieselBR.com - 31 out 2012 - 15:56 - Última atualização em: 01 nov 2012 - 18:06
debate 04Os contratempos que a introdução do biodiesel na matriz energética nacional causou ao segmento de distribuição foram o tema principal do debate que encerrou o segundo painel do segundo dia da Conferência BiodieselBR 2012. A discussão foi mediada pelo diretor superintendente da Associação dos Produtores de Biodiesel do Brasil (Aprobio), Júlio Minelli, e reuniu Sandro Barreto (Petrobras), Ricardo Menezes (Brasilcom) e Ricardo Gullo (Alesat).

Minelli lembrou que pouco mais de um ano atrás, um debate sobre biodiesel que envolvesse os distribuidores seria pontuado por reclamações intensas a respeito dos problemas de qualidade que vinham assolando a cadeia de distribuição do produto desde a introdução do B5 em janeiro de 2010. Segundo o representante da Aprobio, a curva de aprendizado do setor se concretizou: as dificuldades vêm sendo resolvidas e há uma mudança notável na postura das distribuidoras. O mediador apontou principalmente para o relato feito por Gullo, de como o biodiesel pode criar novas oportunidades de negócios para as distribuidoras. “Esse não era o discurso dos distribuidores há um ano, e mostra o quanto o setor avançou”, disse, declarando-se satisfeito com o avanço.

Contudo, Minelli avaliou que ouvindo as falas dos palestrantes é fácil perceber grande preocupação com a situação da logística do segmento de combustíveis, que estaria saturada e representa um desafio a mais no caminho de um novo aumento da mistura obrigatória.

O mediador questionou Sandro Barreto a respeito da informação por ele apresentada de que a estatal estaria estudando formatos para criar um mercado de balcão para o biodiesel. Segundo o palestrante, a criação desse novo formato de comercialização não deverá acontecer no curto prazo e, mesmo quando for lançado, não prescindirá da intervenção da ANP. “Sem intervenção da ANP, não existe esse mercado [o de biodiesel]. Independente do sistema de comercialização, a agência sempre vai estar presente de alguma forma. O mercado de balcão vai funcionar como um mercado spot, mas dentro de um ambiente controlado onde as movimentações possam ser acompanhadas pela ANP, e vai haver um nível de transparência”, disse.

Minelli concordou que o mercado deve ser regulado de alguma maneira e que o atual modelo de comercialização do biodiesel é “mais saudável que o de etanol”. Segundo ele, em algum momento esse bom funcionamento vai permitir que o aumento de mistura acabe chegando de forma natural. “Ninguém sai da infância para a vida adulta sem passar pela adolescência”, completou.

Falando sobre o modelo de comercialização, Ricardo Gullo avaliou que o sistema atual tem sido “muito bom”, tanto para produtores quanto para distribuidores, e deveria ser mantido por “mais um ou dois anos”. “Acho que a consolidação do modelo é muito importante”, arrematou.

Voltando à questão das oportunidades de negócios que o biodiesel abre para as distribuidoras, o mediador perguntou a Ricardo Menezes sobre que investimentos os associados do Brasilcom vêm fazendo no setor de biodiesel. Ao que o palestrante respondeu que uma das empresas que fazem parte do sindicato, a Potencial Petróleo, está a caminho de se tornar um fabricante de biodiesel. “Eu falei ontem com o pessoal da Potencial e eles estão muito motivados com esse negócio. Eles estão verticalizando dentro da cadeia e essa é uma aposta no futuro do biodiesel”, contou.

Já Ricardo Gullo disse que, no momento, as iniciativas de marketing da Alesat envolvendo o biodiesel tiveram que ser paralisadas, em certa medida por causa do modelo de leilões. “O modelo não nos permite escolher nossos fornecedores de longo prazo. Num leilão eu vou comprar de um produtor e, no leilão seguinte, posso não comprar do mesmo. Por isso não vejo como fazer um trabalho de marketing nesse momento”, contrapôs.

No entanto, ele afirmou que em 2005, quando a Alesat introduziu voluntariamente o B2 em vários de seus postos, os resultados comerciais foram “muito bons”, com donos de frota que compravam a mistura e até elogiavam a qualidade do novo produto. Posteriormente começaram a ser registrados problemas de qualidade relacionados ao biodiesel, o que deixou as distribuidoras um pouco mais avessas a fazer esse tipo de campanha em torno de misturas maiores. As dificuldades, segundo Gullo, só vieram a ser resolvidas há pouco tempo, com a publicação da nova especificação. “Acho que isso pode voltar a ser trabalhado, mas depende da consolidação do setor para que eu possa fechar com um produtor só e levar uma campanha de marketing para os consumidores. O apelo ecológico hoje é muito forte”, considerou.

Outro ponto que Minelli trouxe ao debate foi o potencial exportador da indústria brasileira do biodiesel.

Sandro Barreto comentou que nos últimos anos a Petrobras vem trabalhando num projeto que tem como base a exportação de biocombustíveis – tanto etanol quanto biodiesel. “A gente está trabalhando nisso com profissionais de vários de nossos escritórios internacionais, acompanhando o mercado de biocombustíveis em diferentes países”, adiantou. “Não estamos tão longe de ter uma carga de biodiesel exportada e já quase fechamos contrato uma ou duas vezes”, revelou. Contudo, o mercado interno ainda tem se mostrado mais atraente para os fabricantes de biodiesel e será preciso mudar a cultura do setor.

Apesar das dificuldades, Barreto disse que a indústria nacional teria até algumas vantagens no mercado exportador. Uma delas tem a ver com a expansão da canola no Sul do Brasil, já que o biodiesel feito de óleo de canola tem mais facilidade de se enquadrar nos padrões europeus de qualidade. O biodiesel de sebo também leva vantagem por se qualificar para a dupla contagem no mercado europeu.

Outro mercado onde se pode avançar são os regionais, com os projetos do biodiesel metropolitano ou do biodiesel interiorano, tema que Ricardo Menezes levantou. De acordo com o palestrante, trabalhar com projetos envolvendo usos específicos em frotas de transporte público numa determinada cidade é bem mais simples do que tentar gerenciar misturas em territórios mais amplos, como um estado ou região do país.

Para ele, caso a proposta do biodiesel interiorano vingue, os postos de combustíveis em regiões de fronteira entre estados poderiam perder grandes fatias do mercado de diesel caso a maior adição de biodiesel levasse a aumentos nos preços. Isso também aumentaria a tentação para que agentes do segmento passassem a fraudar a mistura. “Isso não seria do interesse de ninguém”, completou.

Fábio Rodrigues – BiodieselBR.com

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Tags: C2012