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Energia

Energia renovável diferencia o Brasil entre os emergentes


Gazeta Mercantil - 02 mar 2006 - 08:56 - Última atualização em: 09 nov 2011 - 19:22

Diretor do Bird diz que o PIB não é um "número sagrado" e que a economia do País evoluiu. O fato de o Brasil ter crescido apenas 2,3% no ano passado, com o segundo pior desempenho entre todas as economias latino-americanas – perdendo apenas para o Haiti –, parece ter preocupado pouco o diretor-geral de avaliação do Banco Mundial, Vinod Thomas. Otimista declarado com o Brasil, o indiano de 56 anos diz que o sucesso de uma economia não pode ser medido apenas pelo Produto Interno Bruto (PIB). O número tem sua importância, concorda, mas o Brasil precisa olhar para o futuro e ver que está diante de uma janela de oportunidade que vai fechar em pouco tempo. "O momento é hoje, não é amanhã", alerta ao citar que o Brasil ainda tem perspectivas melhores no longo prazo entre os países do chamado Bric – Brasil, Rússia, Índia e China.

"O Brasil tem as melhores perspectivas no longo prazo. Há recursos naturais, o País é geograficamente bem localizado, a população é empreendedora e não há conflitos internos, como os movimentos separatistas", enumera. "É impressionante como a macroeconomia brasileira conseguiu se transformar com o sucesso do programa de controle da inflação implantado em 1994, no governo Itamar Franco. Mas nem tudo mudou. A incidência da pobreza e a má distribuição de renda são dois exemplos."

Sobre o crescimento do PIB, Thomas prefere não usar apenas o dado para verificar a eficácia da gestão econômica de um país. Para o diretor do Banco Mundial, o número revela apenas quanto a economia cresceu, sem contar as conseqüências disso na vida prática, sem saber qual parcela da população foi beneficiada pelo crescimento. "Você não pode comparar ‘crescimentos’ porque é muito mais fácil crescer quando se tem um nível baixo. O PIB não é um número sagrado", diz.

Apesar do aparente fracasso das iniciativas governamentais para reduzir a pobreza, Thomas lembra que nem todas as experiências foram inválidas. Para ele, o Brasil implantou um dos melhores programas de acesso universal à educação básica e saúde pública do mundo durante esse período. Ele concorda que a qualidade dos serviços não é satisfatória, mas observa que a inclusão dos mais pobres em si já é algo a ser comemorado. "Poucos citam isso, mas se fizermos uma lista com 100 experiências mundiais de universalização da educação básica e saúde, o Brasil estará entre os dez primeiros lugares", sustenta.

O fim da inflação e o acesso ao ensino básico são experiências que poderiam servir de exemplo para que o governo e a sociedade possam mirar outras prioridades, sugere. "Tudo pode mudar. Se compararmos com os outros grandes países emergentes, o Brasil não precisa fazer muito, não é preciso termos uma revolução como em outras nações. Aqui, precisamos fazer as reformas e mudar a forma como tratamos os recursos naturais e humanos", diz.

Juros e reformas


Thomas diz que é preciso pensar o País com quatro pilares de mudança. No primeiro, é necessário reduzir o custo da dívida – ao cortar juros – e, assim, aumentar a capacidade de investimento do Estado. Em seguida, cita que é preciso incluir os pobres em qualquer grande projeto a ser tocado no Brasil. "Incluir pessoas é um grande desafio", diz.

Outro aspecto é a desburocratização, como os trâmites para a abertura e fechamento de uma empresa. Por fim, o economista diz que os recursos naturais precisam ser encarados como aspecto positivo. "No Brasil, parece que a natureza é um constrangimento ao progresso, ao desenvolvimento. Pelo contrário, outros países não têm esse capital que pode ser o grande diferencial", completa a lista.

Ainda sobre as mudanças, Thomas foge do discurso padrão ao destacar a importância das reformas política e da microeconomia – com marco regulatório mais claro – e ainda a necessidade de universalização do ensino médio. O economista também reforça o coro dos colegas brasileiros ao pedir uma ampla reforma previdenciária e tributária.

Tocadas as mudanças, Thomas acredita no potencial do Brasil como uma economia diferenciada dos demais emergentes e cita como exemplo a capacidade de geração de energias renováveis. Entusiasta do álcool e biodiesel, o indiano diz que o Brasil pode liderar o processo de implantação de novas energias no mundo.

Fernando Nakagawa