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Energia

Cascaes: Ficções energéticas


CanalEnergia - 03 jul 2006 - 11:13 - Última atualização em: 09 nov 2011 - 19:22

Um assunto que merece análises minuciosas é o elétrico. Se pretendermos agregar números que indiquem confiabilidade, riscos, qualidade, custos etc seremos obrigados a procurar e auditar informações com extremo cuidado. Muitas armadilhas são possíveis, criando na mente dos planejadores convicções falsas e perigosas.

Um bom exemplo é a usina feita pela Copel, Petrobras e AES na cidade de Araucária, no estado do Paraná. Abstraindo-se dos acordos no mínimo estranhos que possibilitaram sua construção, vamos descobrindo dados que assustam. As turbinas precisavam de uma estação caríssima (algo em torno de 50 milhões de reais) para que o gás fosse queimado sem danos para o equipamento.

A estação foi feita, não funcionou direito, “descobrindo-se” após essa experiência negativa que o gás poderia ser utilizado sem esse refinamento prévio. Pode mesmo? Adiante dizem-nos que o gasoduto em Curitiba teria a metade da capacidade declarada, isso se somando aos problemas criados pelos bolivianos. Agora falam em usar biodiesel, ótimo, vamos fazer mais experiências? Quanto custarão? Evidentemente só se cria conhecimento, sistemas, equipamentos e soluções, enfim, se alguma indústria e algumas cobaias fizerem experiências. Esse laboratório caríssimo, contudo, é pago pela nação em suas tarifas ou impostos.

O pesadelo herdado pela atual administração da Copel, pesadelo com outros sonhos caros e discutíveis, é um exemplo do que poderá existir em outros cantos de nosso Brasil. “Felizmente” os donos do Banco Central não estão deixando o Brasil crescer como poderia e deveria. O crescimento lento viabiliza correções de grande porte no setor elétrico e uma infinidade de equívocos, caros, mas suportáveis por um sistema que tem sido tremendamente apoiado por São Pedro, e São Paulo, Santa Catarina, Espírito Santo etc crescem menos.

O portal da Aneel apresenta outro aspecto assustador que é a relação de usinas com restrições ambientais. Temos ali projetos que entraram no planejamento energético e que talvez não sejam concluídos, agravando riscos de racionamento. Obviamente ainda devemos lembrar que equipamentos de grande porte também podem se danificar, inclusive instalações complexas de difícil recuperação. Não esquecendo que razões mecânicas, hidráulicas, industriais, logísticas e outros fatores legais poderão retardar projetos importantes, temos o direito de ficarmos preocupados.

O ONS tem, gradualmente, colocado em seu portal informações sobre os riscos operacionais. Existe a EPE, mais uma instituição que se estrutura para avaliar riscos.

O que tem acontecido em nosso país mereceria, contudo, uma avaliação permanente de alguma entidade totalmente desconectada dos poderes políticos e empresariais brasileiros. Sabemos que no jogo de interesses muito poderá estar sendo camuflado, inflado, adulterado a favor de quem paga o trabalho. A importância da área energética não permite descuidos, exige honestidade intelectual e capacidade de análise objetiva e tão minuciosa quanto for possível.

Pouco a pouco o setor elétrico se transforma, saindo do mundo fácil das hidroelétricas, entrando em outros cenários pouco conhecidos. Nesses novos universos podemos cair em mídias enganosas, servir de laboratório para grandes indústrias, pior ainda, ter instalações inúteis porque alguém ou algum grupo de “espertos” não resistiu à oportunidade de ganhar um dinheiro extra empurrando-nos soluções ruins.

A novela UEG Araucária ainda está longe do final. É um exemplo tenebroso do que pode acontecer aos brasileiros quando se deixam enganar por lideranças “equivocadas”. Felizmente esses grupos tiveram oportunidades de compensar erros de avaliação, substituindo contratos, indo buscar em outros lugares a energia que deveriam produzir (ainda que apenas no papel).

Os brasileiros estão encantados com as novidades criadas pelo biodiesel. Ótimo, é uma fonte de energia tão valiosa que poderá, por exemplo, transformar-se em produto de exportação, ganhando a partir daí preços internacionais e mercados alternativos (e nós?). Gás, biodiesel, óleo de qualquer origem, tudo implica em cuidados e riscos que precisamos avaliar com muito cuidado para não ficarmos no escuro entre fantasias e protótipos.

João Carlos Cascaes - presidente da Associação Brasileira de Defesa Cívica