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Sem capital de giro, Agrenco adia o reinício das operações


BiodieselBR.com - 10 jun 2010 - 06:03 - Última atualização em: 09 nov 2011 - 19:13

A Agrenco está enfrentando mais dificuldades do que previa para retomar suas atividades. A fábrica de biodiesel que a empresa constrói em Alto Araguaia, em Mato Grosso, está praticamente concluída, mas a falta de capital de giro para financiar a operação barra inclusive a aquisição de matérias-primas para alimentar a unidade.

A empresa, que pediu recuperação judicial em setembro de 2008 e tem dívidas de cerca de R$ 1 bilhão, iniciou o ano com a expectativa de que Alto Araguaia começasse a rodar no primeiro trimestre. Com as receitas obtidas a partir da estreia da planta, a ideia era começar a cumprir o acordo de pagamento dos credores e inaugurar a outra fábrica que está sendo erguida em Caarapó, Mato Grosso do Sul, até maio passado, o que também não foi possível.

São reveses até agora encarados com relativa tranquilidade pela Íntegra Associados, responsável pela gestão da Agrenco nesses tempos bicudos. E que já estão sendo combatidos por um novo presidente. Para o lugar de Marco Antonio de Modesti, que se tornou o principal executivo de uma companhia de alimentos no Nordeste, chegou Valdenir Soares, ex-Votorantim. E ele está animado.

"Sempre amassei barro", afirma. No setor de agronegócios, Soares, que completa 46 anos em julho, tem a experiência de ter ocupado durante anos cargos elevados na Citrovita, braço de suco de laranja da Votorantim que recentemente confirmou que negocia a fusão de suas operações com as da rival Citrosuco.

Os gestores da Agrenco estimam que, com um capital de giro de US$ 80 milhões, a companhia consegue voltar a operar. No acordo de parceria operacional fechado com a suíça Glencore, está prevista a possibilidade de um aporte emergencial de até US$ 50 milhões, por parte da múlti, para capital de giro. Os outros US$ 30 milhões são de responsabilidade da Agrenco, que negocia com os credores uma saída para irrigar o caixa.

Mesmo assim, pontua Soares, "é possível dizer que a entrada em operação da Agrenco não é mais apenas um plano, é uma realidade". Conforme ele, a sazonalidade da produção de grãos sinaliza que a maior demanda por capital de giro será em dezembro, mas a meta, evidentemente, é encontrar uma solução para o problema bem antes disso.

Pronta e funcionando, a fábrica de Alto Araguaia terá capacidade para esmagar 1 milhão de toneladas de soja por ano e produzir 600 toneladas diárias do biodiesel feito com a oleaginosa. As vendas desse biocombustível, que se tornou o foco da Agrenco após o pedido de recuperação judicial, poderão gerar um faturamento anual de R$ 800 milhões.

Soares visitou a planta mato-grossense na semana passada. Segundo ele, o alto escalão local está trabalhando, a unidade de esmagamento de soja está 100% pronta e a de produção de biodiesel deve ser concluída ainda nesta semana. A planta de cogeração de energia deverá ser terminada entre o fim de junho e o início de julho.

Na cogeração, o projeto prevê que um terço da energia seja usado pela unidade e dois terços sejam vendidos no mercado. A eletricidade pode ser produzida a partir de capim, bagaço de cana ou cavaco de madeira. Para a produção de capim, a Agrenco arrenda uma área de 30 mil hectares na região de Alto Araguaia.

A fábrica de Caarapó tem as mesmas características de Alto Araguaia, mas, a grosso modo, a metade da capacidade de produção. Assim, quando estiver a pleno vapor será capaz de gerar um faturamento anual de cerca de R$ 400 milhões. Neste momento, a expectativa do presidente é que a planta sul-mato-grossense entre em operação até o fim deste ano.

Outra possibilidade que a Agrenco tem para obter recursos é a venda de ativos da subsidiária argentina, que também pediu recuperação judicial no país. No vizinho, a empresa conta com terminal portuário com armazéns e outras benfeitorias, além de dois conjuntos de armazéns remotos para a estocagem intermediária de grãos. "Há interessados", diz Soares.

Empresa delineia estratégia para recuperar sua imagem

Além de buscar o capital de giro necessário para impulsionar sua retomada operacional, a Agrenco trabalha em outras frentes para tentar recuperar sua imagem no mercado, conforme Valdenir Soares, que assumiu a presidência da empresa em abril.
REGIS FILHO/VALOR Apesar das dificuldades, Soares diz que a entrada em operação da Agrenco “não é mais um plano, é uma realidade”

Para melhorar o relacionamento com os portadores de seus Brazilian Depositary Receipt (BDR), diz, foi instituído um boletim informativo quinzenal. Também foi adotada uma nova linha no relacionamento com órgãos governamentais — “administrativa, não jurídica” —, e em todos as frentes a atenção com os processos internos foi redobrada. O registro de companhia aberta da companhia foi cancelado pela CVM em fevereiro passado.

Segundo ele, foram estabelecidas as metas de zerar pendências fiscais e de transformar a empresa em referência para o “selo verde” do Ministério do Desenvolvimento Agrário. Com as limitações legais impostas pela recuperação judicial, a fábrica da empresa em Alto Araguaia (MT) teve o selo suspenso, o que restringe a participação da planta nos leilões de compra de biodiesel da ANP. “A agricultura familiar faz parte dos negócio da Agrenco”.

Ipsis Litteris

"Há algum tempo eu tinha planos de trabalhar em uma empresa com dificuldades e limitações. Nessa situação, outros diferenciais e competências são colocados à prova", afirma Valdenir Soares, que assumiu a presidência da Agrenco em abril. O gosto pelo setor de agronegócios também pesou na opção do executivo. Ele conta que queria, ainda, trabalhar com um produto de futuro, e que o fato de a Agrenco ter mudado o foco de trading para biodiesel foi outro fator que colaborou. "Acompanhei os problemas da Agrenco pelos jornais e encaro o desafio com naturalidade", diz ele.

Egresso do grupo Votorantim, onde trabalhou de 1994 a 2009, Soares diz que atualmente "está aprendendo a soja", que é a principal matéria-prima para a produção do biocombustível no Brasil. Desde o início deste ano, o percentual obrigatório de mistura de biodiesel no diesel passou a ser de 5%, o que ampliou a demanda doméstica e aqueceu o mercado. O exemplo argentino mostra que o potencial exportador do produto também é grande, principalmente para os países da União Europeia

Fernando Lopes
Tags: Agrenco