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Biodiesel piora a qualidade do diesel


Hoje em Dia - MG - 07 fev 2011 - 07:30 - Última atualização em: 09 nov 2011 - 19:15

O acréscimo de biodiesel ao diesel reduziu a qualidade do combustível vendido no país. Segundo levantamento da Agência Nacional do Petróleo (ANP), o volume de diesel abaixo dos padrões mínimos de qualidade aumentou em 89% desde 2005, ano anterior ao início da adição.

Naquele ano, apenas 1,9% do diesel vendido no país não correspondia aos padrões de qualidade da ANP. Hoje, 3,6% do combustível apresentam não conformidades com esses critérios. O problema gera prejuízos para os revendedores e traz riscos de defeitos nos motores movidos a diesel.

Em 2006, a ANP autorizou a adição de 2% de biodiesel no óleo diesel, mistura chamada de B2. Em 2008, a adição tornou-se obrigatória e foi aumentada gradativamente, passando para 3%, 4%, até os atuais 5% (B5). Dados coletados pela ANP em postos de todo o país mostram que, desde então, o índice de não conformidade do produto passou a subir. Em julho de 2008, quando a adição do composto passou de 2% para 3%, o índice de não conformidade teve piora de 15% comparado com 2005. Entre 2008 e 2009, a elevação de amostras fora do padrão foi de 40%, quando passou de 2,2% para 3,1%.

Em Minas Gerais, os indicadores de qualidade do combustível estão ainda piores. Em dezembro de 2010, o índice de não conformidade do diesel vendido na capital mineira foi de 9,4%, valor acima da média nacional. Em 2008, o índice era de 4,9%, ou 91% menor.

O vice-presidente do Sindicato Nacional das Empresas Distribuidoras de Combustíveis e Lubrificantes (Sindicom), Alísio Vaz, credita essa queda na qualidade à adição do biodiesel e à venda irregular de diesel com maior teor de enxofre. “Tem dois fatores que influenciam nesse resultado. De um lado, tem a maior degradação do diesel por causa da adição do biodiesel. Por outro lado, tem o fato de o diesel do interior, que tem maior teor de enxofre, estar sendo vendido na região metropolitana, enganando o consumidor. Quando a fiscalização passa nos postos e descobre isso, diminui o índice de qualidade”, afirma.

O presidente do Sindicato Varejista de Derivados do Petróleo do Estado de Minas Gerais (Minaspetro), Paulo Miranda, diz que a característica de degradação mais rápida do biodiesel traz prejuízos para os distribuidores. “Nós estamos gastando mais dinheiro porque, como o combustível degrada e pode trazer prejuízos aos veículos, é preciso ter um controle maior dos tanques. Eles passaram a ser limpos três vezes mais que antes”, afirma.

O membro da seção de tecnologia do diesel da Sociedade dos Engenheiros da Mobilidade (Sae Brasil), Christian Wahnfried, explica que a causa dessa degradação mais rápida do biocombustível é o fato de ser feito de compostos que se degradam facilmente sob a ação do ar, de umidade ou do calor. “O biocombustível que chega nas distribuidoras está em conformidade com os padrões, mas existem fatores, como umidade e bactérias, que podem acelerar a degradação dentro do tanque”, explica. Segundo ele, essa degradação pode afetar o filtro, impedindo a passagem do diesel e a injeção do combustível. Com isso, o carro perde potência e aumenta emissão de fumaça.

Falta de conformidade é maior no Estado
A qualidade do álcool mineiro, assim como a do biodiesel, está abaixo da média nacional. Enquanto o índice de não conformidade aos parâmetros da Agência Nacional do Petróleo (ANP) do etanol brasileiro está em 2,2%, em Minas Gerais o indicador é 4,6%. Já a gasolina fica exatamente na média do país, com 1,3%.

Com relação ao diesel, o Estado ficou em segundo lugar no ranking de pior qualidade, perdendo apenas para o Amazonas, que ficou com o índice de 15,4%. Em São Paulo, o percentual de não conformidade ficou dentro da média nacional, com 2,3%, e no Rio de Janeiro o valor fechou o ano em 5,4%.

O principal problema detectado pela pesquisa está relacionado ao aspecto dos combustíveis mineiros, que sai dos padrões da ANP. De acordo com a coordenadora do Laboratório de Ensaio de Combustíveis da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), órgão responsável por parte da pesquisa, Vanya Marcia Duarte Passa, esse critério de análise refere-se às características visuais do combustível, como a sua cor, mas pode estar associado à adulteração do produto. “Às vezes, a mudança do aspecto é indício da adição de água ou outros produtos no combustível. Isso afeta diretamente o consumidor”, explica.

Segundo o presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Derivados do Petróleo de Minas Gerais (Minaspetro), Paulo Miranda, além da adição de água, o álcool mineiro ainda tem queda na qualidade porque muitos revendedores compram direto dos produtores. O correto seria que comprassem de distribuidoras, que têm maior controle de qualidade do produto. “Isso é feito como forma de sonegar impostos, mas acaba causando problemas quanto à qualidade do produto. Estimamos que o Estado tenha um índice de 30% de sonegação de imposto desse combustível”, diz.

Para combater esse tipo de abuso, o Ministério Público Estadual tem uma parceria com a ANP. De acordo com o promotor de justiça especializado na área de produtos, Amauri Artimos da Matta, o órgão faz uma fiscalização com os fiscais do Procon Estadual, levando em conta denúncias de consumidores. No ano de 2009, o órgão interditou 21 postos de gasolina por apresentarem alguma adulteração no combustível vendido. Em 2010, foram seis interdições. “O maior problema que encontramos é o álcool molhado, que é a mistura de água no combustível. A região sul do Estado é onde há maior índice de adulteração”, afirma.

Por meio da assessoria de imprensa, a ANP informou que é feita constantemente uma fiscalização dos postos. Aqueles que estão em desconformidade com as regras de qualidade podem ser autuados, interditados ou multados em valores que variam de R$ 20 mil a R$ 5 milhões.

Tatiana Lagôa