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Biodiesel alavanca faturamento da Granol


Valor Econômico - 15 dez 2009 - 07:27 - Última atualização em: 09 nov 2011 - 19:10
Tradicional processadora de grãos de capital nacional que enfrentou sérios problemas financeiros no início desta década, a paulista Granol encontrou no crescente mercado brasileiro de biodiesel uma oportunidade para deixar as agruras para trás e praticamente triplicar de tamanho.

A empresa se destacou como a maior fornecedora de biodiesel para o programa governamental de disseminação do uso do combustível misturado ao diesel no país em 2008. A posição deve ser mantida em 2009, e a estratégia para defender esta liderança em 2010, quando a concorrência deverá aumentar, já está definida.

No 16º leilão de compra de biodiesel da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), em 17 de novembro, a Granol foi mais uma vez a vencedora. Ofertou 80 milhões de litros diante de um preço de referência de R$ 2,35 por litro e preço médio ponderado de R$ 2,33 (deságio médio de 1%) e fincou as bases para avançar no mercado no ano que vem, quando estreia a mistura de 5% de biodiesel no diesel (B5).

A adoção desse percentual deveria começar a valer apenas em 2013, mas tendo em vista o crescimento do parque produtivo no país o governo decidiu antecipá-la — até porque o consumo de diesel recuou no país em 2009, principalmente por causa dos reflexos da crise financeira global.

Mesmo com a crise e seus efeitos no processamento de grãos e na exportação de derivados em geral, Paula Regina Ferreira, diretora financeira da Granol e filha do principal acionista da empresa, antecipa que o faturamento total voltará a aumentar em real em 2009, como acontece desde 2005. Números preliminares indicam que a receita alcançará R$ 1,717 bilhão, 2,1% mais que em 2008.

Em dólar, contudo, haverá queda. A projeção sinaliza US$ 855 milhões, 10,5% menos em igual comparação. A guinada cambial verificada após o aprofundamento da crise financeira irradiada dos EUA, em setembro do ano passado, deixou como saldo prejuízo em 2008, mas, de acordo com Paula, a Granol encerrará 2009 no azul.

Fundada no interior paulista em 1966, a processadora de grãos sobreviveu à intensa concentração deste segmento liderada por multinacionais como Cargill, ADM e Bunge com atuação regionalizada focada no mercado a granel. Ancorada pela soja, avançou a partir da aposta em clientes institucionais de farelo para a produção de ração e de óleo vegetal para o varejo.

Após quase quebrar por não contar com uma política apropriada de hedge quando houve a maxidesvalorização do real, em 1999, quando contou com a “compreensão” de fornecedores e clientes para continuar a operar, vislumbrou a oportunidade aberta pelo biodiesel já em 2004.

“A Granol foi uma das primeiras empresas a levar a questão do biodiesel ao governo. É um produto com grande sinergia com o nosso negócio”, afirma Paula. Para a produção do combustível alternativo, investiu na soja como principal matéria-prima e não errou, já que o grão segue como a fonte economicamente mais viável para sustentar o avanço do mercado.

A companhia estreou na área com o arrendamento de uma unidade de oleoquímicos em Campinas (SP), em 2006. Depois investiu R$ 150 milhões em duas plantas — em Anápolis (GO) e Cachoeira do Sul (RS) —, onde já estavam instalados dois de seus cinco complexos industriais. Tem pronto um projeto para uma terceira planta em São Paulo, que depende da evolução das vendas e de questões tributárias como a incidência de ICMS no transporte interestadual, que tira competitividade da operação.

“O biodiesel ainda não é economicamente viável sem o programa do governo, mas o mercado está se consolidando e já há uma matriz considerável no país”, diz Paula Ferreira. A Granol mantém parceria com pequenos produtores em Mato Grosso do Sul, mas ainda considera que, de um modo geral, trabalhar com pequenos produtores é um dos grandes desafios do programa.

Em 2008, segundo a ANP, a Granol liderou as vendas de biodiesel nos leilões realizados, com participação de 20%. A fatia foi inflada pelo fato de que algumas empresas não cumpriram totalmente seus compromissos de entrega. Em 2009, mesmo sem esta “ajuda”, a Granol projeta manter a liderança no fornecimento.

Com a queda das vendas de diesel no país em 2009, muitas das quatro dezenas de companhias que atuam nesse mercado não entregarão 100% do volume comprometido nos leilões. As regras do governo preveem um percentual de 10% para mais ou para menos nas entregas acertadas.

Com o avanço, o biodiesel deverá representar 37% do faturamento da empresa em 2009, segundo os dados preliminares fornecidos pela diretora. Óleos para alimentação humana e fins industriais deverão responder por 14%, enquanto o farelo de soja, destinado sobretudo à produção de rações, ainda abocanhará uma fatia de 45% das vendas totais. “Outros” negócios completam os 100%.

Com o biodiesel, a participação do mercado interno na receita total deverá alcançar 66%, ficando as exportações com os 34% restantes. “Apesar do biodiesel, nosso ‘core business’ continua sendo o esmagamento de sementes e oleaginosas”, afirma Paula. A Granol tem capacidade anual para esmagar 1,9 milhão de toneladas de grãos e refinar 250 mil toneladas de óleo bruto. A empresa tem 1,3 mil funcionários e 8 mil clientes ativos.

Evolução do faturamento da GRanol
Granol: divisão das vendas por produto e por mercado

Fernando Lopes
Tags: Granol