Agrenco ainda espera retomar operações
Passado um ano do estouro de sua crise, a Agrenco conta os dias para saber se efetivamente conseguirá voltar a trabalhar em suas atividades de originação e exportação de grão, em particular de soja, e também na produção de biodiesel. No dia 28, os credores da empresa darão seu parecer sobre os candidatos à compra de parte dos ativos da empresa e também sobre o potencial " operador estratégico " , que cuidará das atividades operacionais da companhia.
O plano de recuperação da Agrenco, aprovado em 19 de março, prevê a venda da inacabada fábrica de biodiesel localizada em Marialva (PR) e da estrutura do terminal logístico em Del Guazú, na Argentina. Uma terceira fonte de receita virá com a liberação, pelos bancos credores, da soja que é mantida como garantia de pagamento dos débitos da companhia. O acordo para a liberação faz parte do plano de recuperação aprovado em março.
A venda da unidade de Marialva está bem encaminhada, mas a da estrutura na Argentina está em ritmo um pouco mais lento, segundo Nelson Bastos, presidente da Íntegra Associados, empresa que assessora a Agrenco em seu projeto de retomada.
" Apareceram interessados, mas a economia argentina tem seus problemas particulares, além dos problemas que todos já enfrentam com a crise econômica " , diz. Distante 113 quilômetros de Buenos Aires, o terminal logístico de Del Guazú fica em terreno de 670 mil metros quadrados, dois silos para estocagem e sistema de recebimento de grãos por rodovia e ferrovia. A unidade entrou em operação em março de 2007 e foi avaliada, em novembro de 2008, em R$ 22,8 milhões. O montante não inclui o valor do terreno.
Nada que atrapalhe a programação de retorno da Agrenco às atividades, segundo Bastos, que atuou também no processo de recuperação da Parmalat. " O plano pode andar normalmente mesmo se a venda da operação na Argentina ficar para mais tarde. Ela pode ocorrer com os recursos da venda de Marialva e da soja liberada " , disse. A fábrica paranaense - que está " de 75% a 80% pronta " , segundo diagnóstico da Setape, empresa contratada para avaliar os ativos - vale R$ 23,3 milhões.
Todas as atividades operacionais da Agrenco estão paradas desde 2008. A maior das três unidades de beneficiamento de grãos, que fica em Alto Araguaia (MT), foi inaugurada em março do ano passado, embora não tenha sido totalmente concluída. A unidade mato-grossense e a de Caarapó (MS) podem ser concluídas com o dinheiro a ser obtido com a negociação dos ativos do Paraná e da Argentina, segundo a programação apresentada no plano de recuperação já aprovado.
Se a Agrenco conseguir retomar suas atividades, o feito poderá se tornar referência no mercado. Em um intervalo de 18 meses, a empresa deixou o posto de uma das estrelas da onda de ofertas públicas iniciais de ações na Bovespa - em outubro de 2007, a Agrenco levantou R$ 666 milhões em seu IPO - para assumir o de pária no agronegócio e, então, caso o projeto dê certo, voltar a operar.
" A empresa ainda precisa cumprir etapas. O trabalho de recuperação não acabou, mas a situação já esteve muito pior " , diz Thomas Felsberg, do escritório Felsberg, Pedretti, Mannrich e Aidar Advogados e Consultores Legais, que também assessora a companhia. " E o caso pode se tornar um paradigma: uma empresa que chegou à situação a que chegou teve seu plano de recuperação aprovado por 100% dos credores de duas das três categorias - trabalhistas e quirografários, sem garantia real - em que eles estão divididos e por mais de 90% na terceira " - os que têm garantia real. As dívidas da empresa somam R$ 1,2 bilhão.
Patrick Cruz