PUBLICIDADE
CREMER2024 CREMER2024
Univaldo Vedana

Mamona e pinhão-manso - dois pesos e duas medidas


Univaldo Vedana - 05 mar 2008 - 09:57 - Última atualização em: 13 mar 2012 - 17:08

O Programa Nacional de Produção e Uso de Biodiesel – PNPB – nasceu em janeiro de 2005, misturou política energética e social com incentivo para a agricultura familiar e as usinas que produzissem biodiesel de mamona.

O Governo Federal e as instituições de pesquisas apoiaram a idéia. Ministérios, governadores, prefeitos, empresas, empresários e pequenos produtores rurais entraram na onda. O Brasil inteiro falou em mamona para biodiesel. Afinal, a planta era domesticada, tinha décadas de cultivos e experiências por todas as regiões do Brasil. A mamona dá em qualquer lugar, em qualquer tipo de solo, na beira das estradas brasileiras está cheio de mamonas bonitas. A propaganda vendida era: plante mamona e ganhe muito dinheiro, vai virar biodiesel. Como se biodiesel valesse ouro.

Depois desta euforia inicial a ficha caiu. Mamona precisa de terra boa, adubo e chuva para produzir com lucros. A média brasileira de produção por hectare está abaixo dos 700 quilos. Esta produtividade não dá lucro para o agricultor. A planta dita domesticada não se mostrou tão mansa assim. Falta organização e investimentos em toda a cadeia de produção da mamona, coisas difíceis de serem implementadas na agricultura familiar. Dúvidas sobre o melhor manejo ainda persistem.
 

Não será surpresa se em 2009 a área plantada com pinhão-manso for maior que a de mamona


Por outro lado temos o pinhão-manso, planta com grande potencial. Quando o pinhão-manso surgiu todos os que defendiam a mamona o ignoraram e não deram importância. Até o dia em que o presidente Lula apareceu na primeira página do jornal Folha de São Paulo empunhando uma muda de pinhão-manso. O ministro da agricultura e a Embrapa afirmam que a planta não está domesticada e que serão necessários cerca de 10 anos para alguma conclusão científica.

Em janeiro de 2008, a cultivar do pinhão-manso foi registrada no Registro Nacional de Cultivares – RNC –, mas o Ministério da Agricultura fez questão de se eximir de possível responsabilidade sobre o insucesso dos que plantarem. Ocorrendo algum problema na produção, a solução tem de ocorrer entre o produtor rural e o vendedor de sementes ou mudas, sem poder alegar qualquer culpa do Ministério.

Resultado: A mamona que todos apoiaram espalhou esperanças e prejuízos por todo o Brasil. O lucro ficou com alguns intermediários e quem pagou a conta foram os pequenos produtores rurais.

O pinhão-manso que vem sofrendo sucessivos ataques por não ser uma planta domesticada está sendo plantado em território brasileiro por investidores espanhóis, suíços, pequenos médios e grandes produtores rurais, cooperativas e algumas usinas de biodiesel, por conta e risco dos mesmos.

Não será surpresa se em 2009 a área plantada com pinhão-manso for maior que a de mamona mesmo com as alfinetadas que a planta vem recebendo de alguns setores oficiais.

Univaldo Vedana é analista do setor de biodiesel e responsável pela primeira fábrica de biodiesel do país abrangendo todo o processo de produção.