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Univaldo Vedana

Biodiesel: mudança de foco


Univaldo Vedana - 23 out 2007 - 16:36 - Última atualização em: 09 nov 2011 - 19:23

O Brasil já possui uma capacidade instalada de dois bilhões de litros por ano de biodiesel e outro tanto em construção. As melhores tecnologias e equipamentos de última geração, tanto americanas como européias estão sendo empregadas aqui, além das tecnologias brasileiras de transesterificação bem como a exclusiva tecnologia de esterificação de ácidos graxos.

O parque industrial instalado e em construção, permitirá ao Brasil produzir até quatro bilhões de litros de biodiesel por ano. Usei a palavra 'permitirá', porque uma coisa é termos as usinas com capacidade instalada outra é fazer com que essas usinas produzam a plena capacidade.

Hoje no Brasil existem apenas duas usinas que produzem sua própria matéria-prima e não precisam recorrer a óleos com cotações internacionais para a produção de biodiesel, as outras precisam comprar a matéria-prima no mercado (na grande maioria soja ou óleo de soja). O óleo de soja fechou a semana de 19 de outubro cotado a R$ 2.150,00 a tonelada, posto São Paulo. O maior preço do ano e com as previsões apontando para cima.

O sebo bovino, responsável hoje por cerca de 15% do biodiesel produzido no Brasil acumula alta, somente neste ano, superior a 40%, e está cotado a R$ 1.400,00 a tonelada, posto São Paulo. Devemos levar em conta que a produção de biodiesel com sebo para 2008 não deve ultrapassar os duzentos milhões de litros. O sebo tem outras aplicações industriais que geram subprodutos de primeira necessidade, imprescindíveis à população. E um novo aumento do preço do sebo poderá ocorrer após a próxima rodada de leilões de biodiesel na primeira quinzena de novembro.
 

 "Esta grande ociosidade é e será o grande problema a ser enfrentado e superado pelo setor nos próximos anos."


Se de um lado temos usinas prontas, tecnologias, equipamentos de última geração, centros de pesquisas e universidades com pesquisas em andamento sobre novos catalisadores, processos e novas aplicações para os subprodutos e efluentes que garantem a permanência do país na vanguarda tecnológica do setor, por outro lado temos uma utilização de apenas 20% dessa capacidade instalada de produção de biodiesel. Esta grande ociosidade é e será o grande problema a ser enfrentado e superado pelo setor nos próximos anos. A falta de matéria-prima para biodiesel exigirá esforços concentrados de todos os envolvidos. A começar pelo Ministério da Agricultura em estabelecer políticas agrícolas para a produção de óleos específicos para biodiesel, tanto para a agricultura mecanizada como para a agricultura familiar. Ao lançar o PNPB o governo incentivou a produção de mamona na agricultura familiar, passados três anos a produção continua nos mesmos patamares, prova evidente que alguma coisa não funcionou.

Na agricultura mecanizada, que já está instalada, a resposta poderá ser mais rápida, pois usam culturas anuais, com um intervalo de no máximo cinco meses entre o plantio e a colheita. Porém estas culturas também precisam de planejamento e programação, dependem de sementes certificadas de boa qualidade e origem comprovada, que são produzidas no ano anterior. Por isso se os produtores rurais resolverem em 2008 plantar 300 mil hectares de girassol na safrinha não haverá sementes suficientes.

Grande parte das usinas estão prontas, outras ficarão nos próximos meses, o governo acenou com um adicional de 1% na mistura obrigatória com os novos leilões, cabe agora ao setor centrar todos os esforços para resolver o principal gargalo do biodiesel: a falta de matéria prima.

Univaldo Vedana é analista do setor de biodiesel e responsável pela primeira fábrica de biodiesel do país abrangendo todo o processo de produção.