O Caminho é Baixar Custo e Aumentar a Produtividade
De 15 a 18 de agosto, realizou-se em Aracaju o II Congresso Brasileiro de Mamona. Se fosse possível resumir em poucas palavras o resultado das discussões técnicas e palestras apresentadas nestes quatro dias, certamente se chegaria à conclusão que a produção da matéria prima é o tema mais delicado e limitante para o crescimento do Programa Brasileiro de Biodiesel e que não há futuro neste campo sem grandes investimentos em desenvolvimento de tecnologia. Essa conclusão não se aplica apenas à mamona, mas a todas as oleaginosas que se propõem a compor a cesta de matérias-primas para biodiesel no Brasil.
A palestra de abertura foi feita pelo Dr. Hira Chand Pathak, professor da Sardar Krushinaga Dantiwada University, o principal centro de pesquisa de mamona no mundo e onde são desenvolvidos os híbridos de alta produtividade plantados na Índia. As estatísticas apresentadas dão conta de produtividades médias superiores a 2.000 kg/ha na principal região produtora (Estado de Gujarat), com alguns pontos específicos onde esta se aproxima de 4.000 kg/ha, como no distrito de Junagadh, no mesmo estado. O sistema de produção indiano está calcado em uso plantio de sementes de alta qualidade junto com um bom sistema de assistência técnica e de comercialização.
Voltando para o Brasil, encontramos uma produtividade média bem inferior a 1.000 kg/ha provocada pela quase ausência de assistência técnica aos produtores, uma tecnologia de produção ainda incipiente e um sistema de comercialização desestruturado. Ainda temos um longo caminho para alcançar nosso principal concorrente!
A maior discussão em torno da mamona permanece sendo a dúvida sobre se não seria mais vantajoso manter esse nobre óleo como matéria-prima para a indústria química, onde seu preço sempre será mais atraente. Uma análise necessária sobre esse tema é de que o mercado de óleo de mamona para a indústria química suporta pagar preços elevados, mas sua demanda está limitada em torno de 500 mil t por ano (com poucas perspectivas de crescimento), o que é inexpressivo dentro do mercado mundial de óleos vegetais.
Para que o óleo de mamona seja usado na produção de biodiesel, é óbvio que seu preço deve ser equivalente ao de outras oleaginosas, pois não faz sentido usar uma matéria-prima mais cara. Os produtores de mamona reclamam que neste ano o preço da mamona esteve muito baixo, mas a tendência dentro de alguns anos é de que o preço se estabilize num patamar inferior à média histórica.
Significa que o caminho é baixar os custos e aumentar a produtividade, aliás, o mesmo caminho trilhado por todas as culturas que têm importância econômica no Brasil atual. Essa meta só pode ser obtida pelo uso de tecnologia apropriada, como sementes melhoradas, fertilização e correção do solo, manejo fitossanitário e, em alguns casos, irrigação e colheita mecanizada.
Ficar insatisfeito com o preço baixo não adianta. É melhor começar a imaginar um cenário futuro em que a mamona terá um lugar entre as grandes culturas nacionais, onde produziremos com alta tecnologia e com preços competitivos frente a outros óleos - inclusive o petróleo.
Liv Soares Severino, é engenheiro agrônomo pela Universidade Federal do Ceará, mestre em fitotecnia pela Universidade Federal de Viçosa, pesquisador em sistemas de produção na Embrapa.