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João Tenório

Ataques aos biocombustíveis é irreal


Senador João Tenório - 11 abr 2008 - 13:37 - Última atualização em: 19 dez 2011 - 11:29

A Subcomissão de Biocombustíveis do Senado vem denunciar a onda crescente – e injustificável – de manifestações no mercado internacional contra a produção de biocombustíveis, particularmente do etanol. Não existe o menor sentido no alarme criado por autoridades da União Européia e do Banco Mundial, responsabilizando o aumento da produção de biocombustíveis pela explosão geral dos preços dos alimentos. O que os europeus chamam de food X fuel é uma hipótese irreal, que visa esconder o verdadeiro foco do problema: o desequilíbrio inaceitável na distribuição de riquezas.

O desenvolvimento econômico traz, evidentemente, maiores pressões sobre o consumo de alimento e energia. Tais pressões vêm ocorrendo não apenas no Brasil, que vive hoje um novo ciclo de crescimento – o que é absolutamente louvável –, como em outros mercados emergentes, a exemplo de China e Índia. A subcomissão reitera, portanto,  a posição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que rebateu, na Europa, as críticas sobre o impacto dos biocombustíveis nos preços das commodities agrícolas e atribuiu o problema ao aumento da demanda mundial de alimentos, com a redução da pobreza.

Incentivar a produção agrícola e equilibrar oferta e demanda, de forma a evitar crises de abastecimento, é um desafio dos governos atuais. Um desafio que exige, isso sim, a revisão da política tributária e da política de juros, garantias do equilíbrio cambial e de investimentos em infra-estrutura. Não podemos esquecer, também, o enorme peso do petróleo – que vem numa escalada de preços absurda – na composição de preços e na explosão inflacionária.

No Brasil, particularmente, a agroenergia não compete de forma alguma com a segurança alimentar. Nosso etanol é obtido a partir da cana, e ocupa pouco mais de 3 milhões de um total de 400 milhões de hectares de terras agricultáveis. Mais que isso, o avanço da produção de cana deverá se dar sobretudo nas áreas de pastagens degradadas, que representam cerca de 60 milhões de hectares atualmente.

Não procedem, ainda, os questionamentos sobre o ganho ambiental dos biocombustíveis e as tentativas internacionais de apontar o etanol como ameaça potencial à devastação da Amazônia. Tais declarações são fruto de absoluta falta de informação ou por conveniências de mercado. Esse é um risco inexistente: a cana é gramínea e precisa de 1300/1500 mm de chuva por ano e de um período seco para se desenvolver; a Amazônia não é, assim, região apropriada para seu cultivo. A cana também não deverá empurrar outras culturas para a Amazônia, uma vez que sua expansão não depende de áreas ocupadas por outros produtos agrícolas para seu desenvolvimento.

Por tudo isso, o recuo da Alemanha em sua decisão de dobrar para 10% a mistura de etanol à gasolina, assim como a retirada de financiamento a um programa de etanol por parte do Reino Unido não nos parece fazer sentido. Também as acusações do presidente da França, Nicolas Sarkozy, de que Brasil e EUA praticariam dumping de biocombustíveis demonstram um desconhecimento dos mecanismos de produção do agronegócio ao menos no Brasil.

Essa “má vontade” do mercado europeu deve merecer a maior preocupação por parte do governo brasileiro. Afinal, nosso país tem como plano estratégico tornar o etanol uma commodity mundial.

A Subcomissão dos Biocombustíveis do Senado Federal defende ser da maior conveniência a formação de uma “Frente Pró-Bioenergia”, envolvendo Executivo, Legislativo, iniciativa privada e todos os setores ligados a esse programa que é estratégico para o país e para o mundo.

Senador João Tenório (PSDB-AL) é engenheiro químico e preside a subcomissão dos Biocombustíveis do Senado Federal (Crabio).

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