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Décio Luiz Gazzoni

O Preço do Óleo


Decio Luiz Gazzoni - 12 nov 2007 - 16:54 - Última atualização em: 09 nov 2011 - 19:23

O óleo vegetal disparou de preço no mercado internacional. No mercado doméstico, além da cotação internacional, já se estabeleceu um ágio para comercialização local tendo em vista que o óleo, em grande quantidade, desapareceu do mercado. Esta última é a preocupação principal de onze de cada dez produtores de biodiesel, maior ainda que o preço do óleo. Isto porque, se alguém procurar o mercado spot para adquirir óleo, somente consegue estabelecer um princípio de negociação se aceitar receber o óleo lá pelo segundo semestre do próximo ano. Com isso, os negócios emperraram e quem não dispunha de contratos firmes de compra de óleo para entrega no prazo em que necessita da matéria prima, está com a usina entregue às moscas.

A bem da verdade, não se pode culpar, exclusivamente o Programa Brasileiro de Produção e Uso de Biodiesel pela escassez do óleo. Também não se pode culpar, exclusivamente, os programas existentes em outros 70 países, que induzem a mistura de biodiesel ao óleo diesel. Mas, sem dúvida este é um dos fatores da escalada da demanda e do conseqüente aumento de preços. O outro fator, tão importante quanto a demanda por energia renovável, é o aumento da demanda de óleo por parte da indústria nutricional. Ocorre que, nunca antes na História da Humanidade, houve um incremento tão grande da renda per cápita no Mundo, posto que vivenciamos cinco anos de estrondoso progresso e enriquecimento mundial.

No Brasil, não sentimos este fenômeno com muita força, porque nosso crescimento, nos últimos anos, tem sido pífio (abaixo da média mundial, abaixo da média dos países emergentes, abaixo da média da América Latina). Na verdade, o Brasil puxa a média do crescimento econômico regional e mundial para baixo! Porém, em inúmeros países emergentes, capitaneados por Índia e China, o incremento de renda incorpora ao mercado alimentar dezenas de milhões de consumidores, a cada ano. É como se fosse um “Fome Zero” capitalista.

O efeito da escalada de preços pode ser visto na Figura 1, de onde podem ser tiradas algumas lições:

1.    O preço de cada óleos flutua aproximadamente da mesma forma que os demais, o que indica um forte entrelaçamento de causas comuns;
2.    Alguns óleos têm cotação histórica mais elevada (ex., amendoim), enquanto outros têm cotação histórica mais baixa (ex., dendê);
3.    No período de 1995 a 1999, a cotação dos óleos se manteve relativamente estável, devido à previsibilidade da demanda e aos estoques reguladores em patamar conveniente;
4.    O período 2000-2001 é caracterizado por baixa demanda e produção elevada, o que deprimiu os preços;
5.    A partir de 2002 o Mundo experimenta o incremento da renda per cápita e a elevação da demanda, o que joga os preços para um patamar superior;
6.    A partir de 2004, os programas de produção de biodiesel excitam ainda mais a demanda, provocando um incremento de preços médio de 50% sobre a base de 2001;
7.    O maior incremento ocorre no final de 2006 e durante 2007, quando os preços aumentam mais de 150% sobre a base de 2001.

Nos últimos 12 meses, o crescimento da cotação dos óleos foi claramente sustentado pela demanda, tanto da indústria nutricional quanto da energética. Os Estados Unidos reduziram a sua produção de soja em 14 milhões de toneladas, ao mesmo tempo em que aumentavam a demanda de biodiesel. Isso ajudou a levar os estoques reguladores para um patamar perigosamente baixo, o que assegura a permanência dos preços altos por um período mais longo.

A excessiva concentração do comércio internacional de óleo na soja e no dendê é uma das causas da dificuldade de reação da oferta e contenção da escalada de preços. A soja é, sabidamente, uma matéria prima muito ruim para produção de óleo (média de 500-600kg/ha). Contrariamente, o dendê é a matéria prima de maior densidade energética de que dispomos (5-6.000kg/ha). Entretanto, desde que é tomada a decisão de investir em dendê, até que o óleo efetivamente chegue ao mercado, em quantidades apreciáveis, podem decorrer 5 a 6 anos, o que confere ainda mais consistência à escalada de preços.

No meu entender, este cenário se estenderá para o próximo ano. Poderá ser mitigado com a retomada de uns 2 milhões de hectares para a produção de soja americana, e se as safras do Brasil e da Argentina forem excepcionais. Afora isto, não há nada no horizonte que signifique queda abrupta de preços para o próximo ano.

Décio Gazzoni é Engenheiro Agrônomo, colunista do portal BiodieselBR.com e membro do Painel Científico Internacional de Energia Renovável.

Escalada de preços dos principais óleos vegetais, comparativamente à cotação do barril petróleo. (Preço base Roterdamm, média de cada ano)
Figura 1. Escalada de preços dos principais óleos vegetais, comparativamente à cotação do barril petróleo. (Preço base Roterdamm, média de cada ano)

Preços médios dos principais óleos vegetais, nos últimos 12 meses. (Preço base Roterdamm, média de cada mes)
Figura 2. Preços médios dos principais óleos vegetais, nos últimos 12 meses. (Preço base Roterdamm, média de cada mes)

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