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Décio Luiz Gazzoni

Biodiesel no mundo


Décio Luiz Gazzoni - 23 abr 2007 - 15:44 - Última atualização em: 09 nov 2011 - 19:23

Os biocombustíveis estão opondo interesses mundo afora. Ao longo do último mês assistimos um duelo interessante, em que no córner direito estavam Lula e Bush e no esquerdo Chavez, Fidel e Morales. Obviamente que o jogo de interesses é multi-facetado e não pode ser simplificado. Mas, no lado direito, Bush busca reduzir a dependência americana do petróleo de Chavez, Ahmadinejad e assemelhados. Lula sonha com o Brasil ocupando uma parte apetitosa deste novo mercado. Do outro lado, Chavez tem medo de perder os petrodólares que lhe permitem fazer o seu jogo geopolítico. Fidel e Morales nada mais são que escudeiros pobres, que ajudam a tocar o bumbo para Chavez desfilar. O companheiro iniciou batendo no etanol, mas já assestou as petro-baterias contra o biodiesel. Ocorre que, enquanto a banda furiosa faz todo este barulho, o mundo, movido pela pressão ambiental, se move cada vez mais na direção dos biocombustíveis.

    O Brasil tem o maior programa mundial de biocombustíveis, chegando a substituir até 30% da gasolina, e estamos recém iniciando um programa de biodiesel. Entretanto, quando se projeta o médio e o longo prazo, as oportunidades do Brasil não estão na coluna do consumo mas na da produção. Enquanto isto, iniciativas de produção e uso de biodiesel pipocam em todo o mundo.

    A Europa arrancou na frente e hoje detém mais de 50% da produção e do consumo de biodiesel no mundo. Pode perder posição relativa nos próximos anos, porém continuará sendo o player mais importante. A produção total em 2005 foi de 3,2 milhões de toneladas, para uma capacidade instalada de 4,2 milhões de toneladas. Em 2006, cerca de 60% do total do óleo de canola produzido na UE destinaram-se à produção de biodiesel e a Europa deixou de ser um exportador líquido para ser um importador de óleo. O continente europeu possui uma frota ponderável de veículos diesel (inclusive de passeio) e a tendência é que a proporção de veículos de ciclo diesel continue alta nos próximos anos. Isto significa que parcela ponderável da legislação que obriga a substituição de combustíveis fósseis em 5,75%, no ano de 2010, será cumprida pelo consumo de biodiesel.

Dentro da Europa, a Alemanha é o grande motor da produção de biodiesel, seguida pela França e Itália. A Alemanha produziu, no ano passado, quase 2  bilhões de litros de biodiesel, sobre o qual não incide a taxa de óleo mineral, permitindo a venda a € 0,10 por litro mais barato do que o diesel. A França, em 2005, produziu quase 500 mil toneladas de biodiesel e se manteve como a segunda maior produtora na Europa. O governo francês pretende aumentar a capacidade produtiva para 1,1 milhão de toneladas de biodiesel até o final de 2007.

Apesar da liderança, a Europa não atingiu a meta voluntária de 2% de biocombustíveis em 2005, que foi de 1,4%. A Política Agrícola Comum prevê um auxílio ao produtor de €45 por hectare, para pavimentar o caminho para cumprir as metas de substituição. Isto porque, para 2020, a meta é de misturar 20% biocombustíveis aos combustíveis fósseis..

    Nos EUA há uma situação oposta, ou seja, os veículos de passeio são primordialmente movidos à gasolina, o que justifica os incentivos à produção de etanol. Nos EUA, os incentivos fiscais atingiram US$ 150 milhões em 2006, impulsionando a produção do biodiesel. O incentivo federal é um crédito fiscal oferecido no ato da mistura com o diesel, e vale US$ 0,01/gal para cada ponto percentual de biodiesel misturado ao diesel.

Nos EUA, dada a independência dos estados, existem, atualmente, mais de 30 leis em 22 estados. Minnesota estabeleceu a compulsoriedade da mistura de 2%. A liderança no varejo é de Illinois, devido a diversas políticas de fomento. A produção americana em 2006 foi de 660 milhões de litros. Em 2007, a previsão é de 1,5 bilhão de litros. No final de 2006, havia 88 plantas de biodiesel nos EUA, com capacidade instalada de 1,5 bilhões de litros. Para 2007 estão sendo construídas 50 novas plantas, aumentando mais 2,6 bilhões de litros na capacidade de produção. Nos EUA, o custo de processamento é de US$ 0,50/gal, somados ao custo da soja de US$ 1,95/gal de biodiesel. O custo operacional total (excluindo-se o custo de capital) é de US$ 2,49/gal, fazendo com que o preço ao consumidor exceda a US$ 3,00/gal.

Na Ásia e na Austrália estão os países que mais aumentaram o consumo de combustíveis fósseis nos últimos anos. Mas na Ásia também encontram-se grandes produtores de óleo vegetal, concentrando 80% da produção de óleo de dendê (Malásia e Indonésia). Nestes paises, na Índia e na China tem aumentado muito a produção de biodiesel. A China acaba de construir 5 grandes plantas de biodiesel, com capacidade de produção da ordem de 120 mil toneladas anuais.

Na Tailândia o governo envolveu-se fortemente na promoção do biodiesel. As políticas de promoção consumiram US$ 40 milhões no ano passado, sendo 60% do valor destinado a expandir o plantio de palma. A Malásia iniciou a construção de plantas para produzir B5. Na Austrália, a meta é dispor de capacidade para produzir 800 milhões de litros por ano em 2008. Do ponto de vista legislativo, há o Energy Grants Credits Scheme Act de 2003, que prevê a isenção fiscal para biodiesel e etanol, e um crédito de equalização preços entre o o diesel e o biodiesel.

Todos estes fatos eram impensáveis até o início desta década. É a arrancada vertiginosa do biodiesel no mundo – bem como o do etanol – que faz com que os interessados em manter o status quo antigo se manifestem com tanta energia contra o biodiesel.

Décio Luiz Gazzoni é Engenheiro Agrônomo, membro do Painel Científico Internacional de Energia Renovável.
[email protected]

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