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Biodiesel

Paulo Ludmer: Energias alternativas


Paulo Ludmer - 14 mar 2006 - 22:56 - Última atualização em: 09 nov 2011 - 19:22

O ufanismo do Brasil com sua produção de energias alternativas merece considerações. Nada é só bom, o tempo inteiro, para tudo e todos. Celebra-se hoje o Próalcool e o Biodiesel. Creio que é preciso por os pés no chão. Alerta, aprender as lições já vividas. E monitorar.

No final dos anos 80, no Estado de São Paulo, saíamos do governo ungido de Paulo Maluf, para o primeiro eleito de Franco Montoro. Na época, desenvolvíamos o Pró-Turfa, diante das notáveis jazidas indicadas no Vale do Paraíba. Foi uma dinheirama para nada.

O período foi pródigo. Realizamos além da Paulipetro (que aqui está fora do escopo), o Pró-xisto. O País investiu, com recursos da Petrobras, o desenvolvimento da produção de óleo cru a partir do xisto betuminoso, em Irati, no Sul. Ali extraímos óleo e enxofre. Faz mais de 25 anos este experimento no Canadá que, hoje, nos atuais níveis de preços mundiais do petróleo, vai transformando em maior escala a partir de suas areias oleosas em Alberta.
Vale dizer: um país pobre de recursos para os investimentos estatais, como tem sido o Brasil, gastou mal, em hora precoce, de modo açodado.

Montoro assumiu São Paulo com sua Cia. Energética, a Cesp, fracassando na produção de metanol de madeira. A Cesp chegou a gastar alguns milhões de dólares em sua planta de Corumbataí. Ao final, a unidade não extraiu metano, quanto mais metanol.

Nunca se poderá esquecer que o então empreendedor Sergio Motta, depois ministro de FHC, construiu a Coalbra — Coque Álcool de Madeira, no triângulo mineiro, para produzir álcool de madeira, a partir de florestas ociosas na região. A tecnologia era russa, porém direcionada para a extração de lignina e outros derivados da madeira. Os brasileiros pagaram mais essa aventura.

E o Pró-Óleo? A Mercedes Benz, o Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA), o IPT-SP e tanta gente séria, testaram motores a biodiesel nos anos 80. Valeu de tudo: babaçu, girassol, arroz e o que desse óleo.

Ocorre que o barril de diesel no mercado internacional valia quatro vezes menos do que um barril de óleo vegetal, para ração animal, nas bolsas de commodities. A substituição era inviável. Ademais, inundar o mercado derrubaria preços (internos e ou externos) do farelo de soja ou o que quer que fosse.

Alguém recorda do álcool de mandioca da Petrobras em Curvelo, em Minas Gerais? Não havia mandioca para a usina num raio de distância econômico! Pior, o mandorová, uma lagarta, comia as folhas do tubérculo.

E no Pró-álcool? Trouxemos difusores sul africanos para competir com nossas reconhecidas moendas de cana. Hoje tentamos trazer enzimas... Disseminamos pequenas usinas... enquanto o programa mergulhava e os veículos a álcool sumiam.

Infelizmente, das melhores idéias, atrasamos a multiplicação de biodigestores, baratos, ecologicamente perfeitos, produtores de gás metano e fertilizantes, reinjetando aquilo que tiramos da terra, num compromisso ético com as gerações futuras.

Por tudo isso, pergunta-se: é hora de abandonarmos nosso enorme potencial hidrelétrico por energias alternativas? É hora de multiplicarmos o preço da energia elétrica no Nordeste e no Sul com geradores eólicos? As tecnologias e as fontes energéticas escolhidas são as mais aderentes ás necessidades presentes e futuras do País?

Há pontos sem retorno. O Próalcool renasceu e é cobiçado pelo mundo, desde seu etanol, ao bagaço e ao vinhoto (fertilizante potássico). E o biodiesel? Como errar menos?

O autor é jornalista, engenheiro, professor de Comunicação da FAAP, diretor da ABRACE – Associação Brasileira de Grandes Consumidores Industriais de Energia e de Consumidores Livres e escritor com o site www.pauloludmer.com.br