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Biodiesel

Palma é a melhor fonte para biodiesel, diz especialista


Agência Estado - 29 nov 1999 - 22:00 - Última atualização em: 09 nov 2011 - 19:22

A soja não é a cultura mais indicada para a produção de biodiesel, mas poderá servir como matéria-prima em um primeiro momento. A avaliação é do coordenador do Projeto Biodiesel Brasil, Miguel Dabdoub. Professor da USP, Dabdoub trabalha no Laboratório de Desenvolvimento de Tecnologias Limpas (Ladetel), que desenvolve, em parceria com a indústria automotiva, protótipos de caminhões e máquinas agrícolas movidas a biodiesel.

O biodiesel é feito a partir de uma reação química entre um álcool e um óleo vegetal. Dabdoud explica que o produto foi lançado na Europa como forma de subsidiar a produção de canola, e ganhou maior importância por causa do Protocolo de Kyoto. Na Europa, a produção é feita com o álcool metanol, derivado da indústria petroquímica. "Mas no Brasil é possível fazer o combustível a partir do etanol, graças à nossa grande produção de cana", diz.

Segundo Dabdoub, o Brasil tem grande potencial como produtor de biodiesel, graças à grande área de terras agricultáveis. Contudo, ele não acredita que a soja, principal produto agrícola nacional, seja competitiva como matéria-prima para a produção do combustível. "A soja gera uma produção de óleo por hectare que é muito baixa, se comparada com a de outras plantas, como as palmeiras", explica. Com 5 milhões de hectares de soja, é possível responder por 5% do consumo de diesel do Brasil. Com a mesma área de dendê, responde-se por 100% do consumo", compara.

Atualmente, o diesel é o principal fonte de energia no Brasil. O petróleo responde por 43% da produção de energia do Brasil, sendo seguido pela biomassa, com 27%, e pela energia hidrelétrica, com 14%. "Como dentro do item petróleo o diesel é majoritário, se for possível conseguir um substituto para ele a matriz brasileira vai ficar muito mais limpa."

Segundo o coordenador, apesar do grande potencial do biodiesel, o governo precisará atuar para tornar viável a iniciativa. "O álcool hoje em dia é competitivo, mas quando foi lançado precisou ter uma série de incentivos para adaptação da tecnologia e porque seu custo era elevado", diz Dabdoub. "No caso do biodiesel, o custo seria muito menor do que o do álcool, mas também é necessária uma política de apoio." Para o professor, o Brasil precisa discutir melhor uma política para o setor. Ele sugere que a produção de dendê será uma saída para o biodiesel, mas critica a atual legislação brasileira. "Como não se pode considerar projetos com a palmeira do dendê como seendo projetos de reflorestamento, perde-se uma boa oportunidade até mesmo de se obter créditos de carbono por florestamento."

Dabdoub também critica o foco na produção de mamona como fonte do biodiesel. "Os primeiros estudos que fizemos mostram que o diesel resultante da mamona é muito viscoso e tem problemas de densidade, sendo muito menos competitivo do que o biodiesel de outras origens", explica. "Acho louvável buscar iniciativas para pequenos agricultores do Nordeste, mas é preciso tomar cuidado para que o resultado final não o elimine de vez da atividade."