Não jogue o óleo de fritura
Quando termina de fritar os bolinhos, a dona de casa Fátima Aparecida, 37, descarta o óleo vegetal diretamente no ralo da pia da cozinha, mas não sem antes dilui-lo com detergente. Já a vizinha, Maria Antonia, 41, coa o óleo usado para reutilizá-lo e só depois descartá-lo. Com essas atitudes, ambas imaginam estar diminuindo os riscos que o aparentemente inofensivo óleo de cozinha traz ao meio ambiente. Mas não estão.
Um litro de óleo doméstico jogado no ralo da pia chega a contaminar de uma só vez um milhão de litros de água, quantidade suficiente para a sobrevivência de uma pessoa - desde banho, comida e consumo - por até 40 anos.
Ao ser despejado no ralo, o óleo vai formando crostas de gordura na tubulação, um "manjar dos deuses" para ratos e baratas, que acabam invadindo a casa sem que os moradores saibam o verdadeiro motivo. A mesma gordura que se acumula na tubulação, pode acumular nas artérias coronarianas, principalmente se o óleo for reutilizado. É que, após a queima (uso), ele se transforma em saturado, na temida gordura trans, responsável por problemas que afetam o coração.
“Os componentes do óleo de cozinha são muito agressivos e chegam aos rios, onerando em 100% o tratamento do esgoto", afirma Marlene Tobaldini, diretora regional da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) e presidente do conselho consultivo do Sesi/ Senai.
Embora ainda não haja logística para a coleta do óleo, Matos diz que a usina de Piracicaba tem capacidade para produzir 400 litros de biocombustível por dia. O objetivo do projeto, em fase embrionária, é que o óleo resultante de frituras residencial e industrial seja doado a entidades filantrópicas, para que possam vendê-lo à usina produtora de biocombustível, aumentando suas fontes de recursos financeiros. "Essa usina iria produzir o biocombustível de acordo com as normas da Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP)", enfatiza.
Na produção de biocombustível, explica o presidente da Agespub, 10% do óleo são descartados e 10% resultam em glicerina, utilizada na fabricação de sabonetes. "Mesmo com as perdas, temos 80% em biocombustível", destaca. A intenção da ONG é promover até a segunda quinzena deste mês palestras com entidades civis e filantrópicas para demonstração da importância da coleta do óleo de cozinha e dar início ao projeto.
A Agespub foi fundada em 2006 e tem entre suas metas de trabalho, a fomentação de práticas alternativas para a redução da emissão de gás carbônico (CO2) na atmosfera. O objetivo da ONG é colocar em prática, ainda neste ano, o projeto de transformação do óleo de cozinha em biocombustível. A ONG, destacam Wlamir do Amaral, secretário executivo da Agespub, e Sérgio Camarda, secretário geral, procura incentivar boas ações e divulgar práticas positivas realizadas nas administrações públicas de cidades integrantes da Bacia do Rio Piracicaba, Capivari e Jundiaí (PCJ), promovendo seminários, cursos e capacitação.
Para prestar esse tipo de serviço, a Agespub firmou convênios com a Universidade Metodista de Piracicaba e conta com o apoio de professores da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz e Escola de Engenharia de Piracicaba. A idéia da usina partiu da observação da realidade do município de Indaiatuba, pertencente à Bacia PCJ. "Em Indaiatuba, a usina utiliza tecnologia da Unicamp”, afirmam.
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A produção da usina, observam, chega a um mil litros por hora de biocombustível a partir de óleo de cozinha, que iria para o esgoto, caso não houvesse o projeto de aproveitamento. A usina de Indaiatuba é municipal e a prefeitura faz a coleta do óleo em estabelecimentos comerciais.
Toda a produção de biocombustível é utilizada no abastecimento da frota do Serviço de Água e Esgoto de Indaiatuba. "Queremos incentivar outros gestores públicos integrantes da Bacia PCJ a implantar em seus municípios usinas que fabriquem biodiesel a partir do óleo de cozinha", ressaltam. A Agespub caracteriza-se pela promoção de intercâmbio, troca de experiências bem sucedidas de uma cidade para outra, principalmente, no que se refere a projetos ambientais que visem a recuperação de Áreas de Preservação Permanente (APP), melhora da qualidade e quantidade da água da Bacia, que possui cerca de 60 municípios.
Além do projeto de aproveitamento de óleo de fritura, a ONG pretende incentivar os municípios da Bacia a desenvolver projetos de recuperação de aterros sanitários. A queima do biogás que é formado por grande parte de metano, afirmam os diretores da ONG, também emite CO2 à atmosfera. "Para evitar esse problema ambiental, é necessário a colocação correta de queimadores com filtros, preparação do solo com encanamentos específicos. O biogás pode ser aproveitado como fonte de recurso", enfatizam.
Mais informações:
marcosmarcelo@agespub.com.br;
DANIELE RICCI
ELIANA TEIXEIRA