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Lula lamenta fracasso da Rodada de Doha


Jornal do Comércio - 31 jul 2008 - 05:30 - Última atualização em: 09 nov 2011 - 19:06

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva se declarou ontem "chateado" e "incomodado" com o fracasso das negociações da Rodada de Doha, que ele atribuiu às eleições presidenciais nos Estados Unidos e na Índia. Em entrevista no Itamaraty, após almoçar com o presidente da Costa Rica, Oscar Arias Sánchez, Lula disse não restar alternativa imediata aos países senão negociar fora do âmbito da Organização Mundial do Comércio (OMC), partindo para acordos bilaterais.

Ao atribuir o fracasso das conversações da Rodada de Doha às eleições presidenciais nos Estados Unidos e na Índia, o presidente da República foi explícito, citando o último ano da gestão George W. Bush e a possível candidatura a presidente da Índia do ministro do Comércio, Kamal Nath, que endureceu as negociações em Genebra com a representante americana do Comércio, Susan Schwab.

"O Brasil fez o que podia e o que não podia para ter um acordo que favorecesse os países economicamente menores e de agricultura frágil", enfatizou. "Está claro que fizemos as concessões na área industrial e na agricultura e está claro que eles não fizeram o que tinham de fazer", completou o presidente da República, sem detalhar se estava se referindo aos Estados Unidos, Índia e China, os protagonistas da falta de consenso das conversações de Genebra.
Para Lula, a Rodada de Doha não acabou, tendo havido, com a ausência de acordo nas negociações, "uma pausa para reflexão". Lembrou que há um ano e meio vem insistindo nos encontros que têm com chefes de governo e de Estado que "o problema na OMC não é econômico, mas político". Na sua opinião, a rodada "não precisa mais de técnicos, mas de presidentes e ministros que possam sustentar suas posições e decidir".

Lula disse esperar que os Estados Unidos e a União Européia cumpram pontos que foram acordados até aqui. "Vamos continuar lutando. Os governantes perderam uma oportunidade extraordinária para ajudar os países mais pobres", ressaltou.

Ao seu lado, o presidente da Costa Rica declarou que o fracasso das conversações em Genebra "é uma demonstração da hipocrisia dos países ricos, que sempre dizem que querem ajudar os países da África e da América Latina". Arias classificou como "lamentável" a ausência de acordo nas conversações da Rodada de Doha.

Lula destacou a parceria de livre comércio entre o Mercosul e o Sistema de Integração Centro-Americana (Sica) que reúne os países da América Central, além de cooperações técnicas e de transferência de tecnologia entre Brasil e Costa Rica.

Ele ressaltou, também, que a política de biocombustíveis pode reduzir a pobreza na América Central. "O etanol e o biodiesel têm extraordinário potencial na geração de renda e de postos de trabalho, sem falar na redução de poluentes."

Governo norte-americano quer voltar a conversar com o Brasil
O governo americano admite que está disposto a voltar a conversar com o Brasil sobre a possibilidade de retomar as negociações comerciais entre o Mercosul e os Estados Unidos. Mas alerta que "não haverá um presente" por parte de Washington, enquanto negociadores alertam que a possibilidade de uma retomada ainda seria fortemente dificultada diante de o governo americano estar em seus últimos meses.

Ontem, ao ver a Rodada Doha da Organização Mundial do Comércio (OMC) desabar, o chanceler Celso Amorim admitiu que poderia voltar a conversar com a Casa Branca para uma aproximação em termos de uma negociação. Mas alertou que o processo não poderia repetir os mesmos erros da Alca, quando os americanos insistiam em regras de propriedade intelectual e investimentos.

"Estou sempre disponível para falar com o Brasil sobre liberalização comercial. Amorim exibiu liderança e foi um dos países que, junto com os Estados Unidos, endossou o pacote, mesmo que isso tenha causado alguma dor e desconforto. Estou sempre interessada em ter essa conversa", afirmou Susan Schwab, representante de Comércio da Casa Branca.

Mas a enviada do governo Bush deixou claro que acordos de comércio "não serão um presente" que Washington fará, insinuando que também cobrará um preço por fazer qualquer concessão em termos bilaterais ou regionais. "Ninguém vai assinar um acordo se não achar que é de interesse nacional", afirmou Schwab.

William Contreras, ministro da Venezuela para o Comércio, deixou claro que, assim que seu país aderir ao Mercosul, Caracas tentará impedir um acordo com os Estados Unidos. "Todos conhecem a posição da Venezuela. Além disso, o governo americano está debilitado."

Amorim voltou a destacar que acordos bilaterais serão um dos caminhos que o País adotará com a volta de um diálogo com a Europa e outros governos.

Chanceler brasileiro descarta se candidatar à OMC e apóia Lamy
O chanceler Celso Amorim vai apoiar o diretor-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC), Pascal Lamy, para um segundo mandato à frente da entidade.

O ministro brasileiro deixou claro que não pretende concorrer às eleições para o cargo de diretor da OMC. Seu nome vinha sendo indicado como um dos principais concorrentes para o processo que terá seu início já no segundo semestre.

"Apoio totalmente um segundo mandato para Lamy e está fora de cogitação uma candidatura minha. Garanto que não quero isso", disse o chanceler. "Prefiro servir meu País. Na OMC, eu teria de ser imparcial", afirmou.

Para o chanceler, Lamy seria um candidato "honesto, sério e equilibrado, que sabe ouvir os países em desenvolvimento", afirmou. Amorim deixou ainda claro que pretende se manter no cargo de ministro, "pelo menos enquanto o presidente Lula quiser".

Questionado se o presidente o indicaria para o cargo de diretor da OMC, Amorim respondeu: "Ele não quer. Bom, se ele quiser é que eu estou mal."