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Biodiesel

Escala de produção garante soja como líder no biodiesel


DCI - 13 mar 2006 - 06:31 - Última atualização em: 09 nov 2011 - 19:22

Ao anunciar o segundo leilão de biodiesel para o dia 30 de março, a Agência Nacional de Petróleo (ANP) apontou a soja como a principal cultura agrícola que deverá abastecer o setor nos próximos anos. Na opinião do diretor-geral da ANP, Haroldo Costa, o grão apresenta vantagem comparativa em relação aos seus concorrentes, que são a mamona e o dendê. Para ele, a tecnologia usada para extrair combustível de soja está mais desenvolvida.

Para atender a expectativa da ANP de comprar 170 milhões de litros de biodiesel, os produtores terão de investir pesadamente na produção do combustível, que hoje é de 1 milhão de litros por mês. Anualizado, esse valor chegaria a 12 milhões de litros, muito abaixo do que os prováveis 18 candidatos terão de ofertar no leilão. Para Costa, isso não representa um problema. “A produção não crescia porque não tinha demanda, mas agora terá”, diz o diretor. A estimativa é que até dezembro de 2007 sejam comprados 800 milhões de litros de biodiesel. No primeiro leilão, realizado em novembro, foram comercializados 70 milhões de litros do combustível.

A Granol , uma das maiores fornecedoras do primeiro pregão, produz o biodiesel em uma fábrica arrendada em Campinas (SP) e deve inaugurar em agosto uma unidade própria em Goiás, capaz de produzir 100 milhões de litros de biodiesel ao ano. Além disso, a empresa comprou uma unidade esmagadora em Cachoeira do Sul (RS) que passará a produzir o combustível em dois anos.
Por enquanto, a Granol luta para não ter prejuízo na produção do biodiesel. Tradicional no esmagamento de soja, a empresa aproveitou sua estrutura para investir na produção a partir do óleo de soja.

Mas o único cliente da empresa ainda é a própria ANP. “Há interesse pelo biodiesel, porém o combustível ainda está mais caro que o diesel de petróleo, subsidiado pelo governo”, explica a diretora financeira da empresa, Paula Regina Ferreira.

‘O biodiesel perde a competitividade quando o petróleo cai abaixo de US$ 60 por barril, patamar próximo aos preços atuais”, explica o pesquisador da Embrapa Soja e secretário executivo da Câmara Setorial da Cadeia Produtiva de Oleaginosas e Biodiesel, Décio Gazzoni.
Segundo a diretora da Granol, um fator que encarece a produção de biodiesel é a necessidade de 30% da matéria-prima ser proveniente da agricultura familiar. Do contrário, a empresa não pode participar dos leilões estatais.

Além disso, o esmagamento da soja resulta em 72% de farelo e apenas 18% de óleo. Sandra explica que quando há aumento no preço de um derivado, há queda no do outro, já que não é possível aumentar a oferta de apenas um deles. Por isso, a produção de biodiesel a partir da soja pode representar um risco de abastecimento do mercado do combustível. “Logicamente, o mercado de soja regula a oferta de óleo se os preços do farelo caem demais”, avalia a diretora.

Para Sandra, a Europa também pode contribuir para o desequilíbrio entre os preços do farelo e do óleo, pois a demanda por farelo diminuiu na região com a gripe aviária. “Há plantas de produção de biodiesel sendo construídas na Europa, que vão demandar óleo de soja”, diz ela.

Novas culturas

Uma saída de longo prazo para a dependência da soja na produção do biodiesel seria a viabilização econômica da fabricação a partir de outras oleaginosas, com maior valor energético. A mamona, por exemplo, produz 48% de óleo quando esmagada.
“No começo, a produção precisa vir das culturas que já temos, mas é preciso aumentar a densidade energética das matérias-primas do biodiesel”, analisa Gazzoni. Para isso, a Embrapa trabalha na pesquisa de sementes não utilizadas na fabricação de óleo e no melhoramento genético das espécies.

Quanto ao consumo de biodiesel, o pesquisador afirma que já é comum que os produtores abasteçam as máquinas com óleo de soja nos estados produtores. “O óleo diesel é um dos itens mais onerosos para a produção rural”, declara o presidente da Associação dos Produtores de Soja do Mato Grosso (Aprosoja), Rui Prado.

Para diminuir os gastos com o combustível, produtores rurais do estado querem implantar uma fábrica de biodiesel em Cuiabá (MT), em uma unidade da Bunge desativada em 2005.

O projeto está sendo desenvolvido pelas associações dos produtores de soja (Aprosoja), algodão (Ampa) e pela Cooperativa Agroindustrial do Centro-Oeste (Coabra). Segundo a Aprosoja, a unidade pode entrar em funcionamento em janeiro de 2007 e terá capacidade de produzir cerca de 400 toneladas de biodiesel diariamente. Mas o produto só poderá ser destinado à frota dos produtores da cooperativa que vai administrar a usina, uma exigência da ANP, que proibiu ainda a mistura do biodiesel da usina com o diesel de petróleo.

Danielle Nogueira/Luiz Silveira