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Negócio

Vibra mantém a importação apesar de alta do petróleo


Valor Econômico - 24 mar 2022 - 09:40

A Vibra Energia, ex-BR Distribuidora, tem conseguido manter as importações de combustíveis mesmo com os preços altos e com o mercado internacional mais apertado como resultado da guerra na Ucrânia. “Não temos tido nenhum problema de importação”, disse ontem o presidente da companhia, Wilson Ferreira Jr., em conferência com analistas.

Segundo o diretor financeiro e de relações com investidores da Vibra, André Natal, a empresa não teve nenhum cancelamento de cargas até o momento devido à crise. O executivo afirmou que, desde o quarto trimestre do ano passado, está conseguindo manter as importações e fazer os repasses de custos mesmo com o aumento de preços do petróleo, causado pela recuperação econômica depois da fase mais aguda da pandemia.

Ele disse que os repasses dos aumentos aos preços praticados no mercado interno têm sido avaliados cuidadosamente. “Em momentos de alta de preços, em determinadas praças, é preciso fazer reajustes com cuidado para garantir que não se descole do mercado. Há o custo que precisa ser repassado e há o preço. Isso precisa ser muito bem balanceado para não gerar assimetrias”, disse Natal.

A Vibra, acrescentou o executivo, tem tido ganhos de participação de mercado. A companhia encerrou 2021 com fatia de 28,4% do mercado brasileiro de combustíveis, aumento de quase dois pontos percentuais em relação aos 26,5% que tinha no fim de 2020. A empresa fechou 2021 com lucro líquido de R$ 2,5 bilhões, alta de 36% na comparação anual. As receitas líquidas anuais somaram R$ 130,1 bilhões, crescimento de 59,7%.

“A companhia provavelmente ganhou fatia de mercado no primeiro bimestre [de 2022]. Temos mantido o atendimento à nossa rede e essa é a hora em que o revendedor reconhece o valor da bandeira”, afirmou Natal.

No cenário atual, empresas menores têm dificuldade de manter a importação de combustíveis com a alta dos preços e a maior disputa por derivados no mercado europeu, que está sendo afetado pelas menores exportações da Rússia. Nos últimos meses, importadores privados têm acusado a Petrobras de praticar preços abaixo da paridade com o mercado internacional, o que inviabiliza a importação por empresas menores.

Segundo Natal, a Vibra tem recebido demandas para suprir clientes de fora da rede de postos de bandeira própria, pela falta de suprimento de combustíveis em algumas regiões. Ele reforçou, entretanto, que a prioridade da companhia seguirá sendo atender à rede própria de postos. “O mercado de diesel deve seguir apertado em abril”, disse.

Para enfrentar a alta de preços, a companhia tem buscado também fortalecer a importação, com o acesso a diferentes fontes para suprir o mercado brasileiro, como o Golfo do México e a Índia. “Dado que não temos investimentos em refino no Brasil, precisamos fortalecer nossa capacidade de importar”, afirmou Ferreira Jr.

Em dezembro, a Vibra começou a implementar uma trading de derivados com o objetivo de ter maior flexibilidade e mitigar a exposição a flutuações na compra de produtos. “Somos o maior importador de derivados do país e nessa situação ficamos fortalecidos com a nova trading”, disse o presidente.

O diretor financeiro também comentou as iniciativas do governo brasileiro para lidar com a alta de preços. O executivo elogiou as mudanças aprovadas no Congresso para unificação das alíquotas estaduais de ICMS, mas disse que é importante que haja cuidado para que a proposta do fundo de estabilização para os preços de combustíveis não vire um controle de margem.

Dadas as atuais incertezas no mercado, a Vibra vai buscar manter uma liquidez mais alta. “Não há nenhuma garantia de que um acirramento da guerra não gere uma alta ainda maior de preços do petróleo”, previu Natal.

Segundo o executivo, o atual cenário pode levar a um maior consumo do capital de giro da empresa. Entretanto, a companhia não tem visto dificuldades até de acesso a crédito até agora. “Precisamos ter cautela e preservar o caixa para dar conta das transações que nos comprometemos a fazer”, disse.

Assim a Vibra não deve fazer pagamentos adicionais de dividendos. A decisão pode ser reavaliada no futuro caso os preços do petróleo voltem a cair. “Não achamos que a companhia deveria manter caixa à toa. Se o cenário mudar, podemos ter espaço para uma eventual distribuição adicional ou retornar com o programa de recompra [de ações]”, afirmou Natal.

A Vibra distribuiu em 2021 cerca de R$ 3,8 bilhões aos acionistas, sendo R$ 2,86 bilhões referentes a dividendos e juros sobre o capital próprio e R$ 920 milhões em programa de recompra de ações.

Entre as possibilidades de uso do caixa, está a aquisição da comercializadora de energia Comerc. A Vibra anunciou em outubro proposta para compra de 30% das ações ordinárias da Comerc por R$ 2 bilhões, via subscrição de debêntures conversíveis, além de oferta secundária de mais R$ 1,25 bilhão pela opção de compra de outros 20%. Ferreira Jr disse ontem que a Vibra tem a opção de viabilizar a aquisição do controle da comercializadora. “Foi uma aquisição de co-controle com perspectiva de aquisição do controle. Era necessário que a gente tivesse essa definição e ela está claríssima entre os sócios”, afirmou.

A operação está relacionada à estratégia da Vibra na transição energética. O executivo destacou que o portfólio de geração eólica e solar da Comerc se complementa à base de clientes da Vibra. Ferreira Jr afirmou que a junção das empresas gera valor também pelas perspectivas nos próximos anos de abertura a todos os consumidores do mercado livre de energia, no qual os consumidores escolhem os fornecedores. Hoje essa opção é restrita a clientes com demanda superior a 500 quilowatts.

Gabriela Ruddy – Valor Econômico