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Negócio

Petróleo tem 3º ano de queda e empresas cortam investimentos


O Globo - 04 jan 2016 - 14:37
O preço do petróleo tipo Brent teve forte queda forte na última sessão de comercialização do ano de 2015 uma vez que o recorde de oferta da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) criou uma superabundância global sem precedentes que pode até impactar nos resultados em 2016. Segundo a agência de notícias Bloomberg, as operações a prazo da commodity perderam 32% em 2015 fechando em queda pelo terceiro ano consecutivo.

O barril de Brent para fevereiro fechou valendo US$ 37,80 no mercado de Londres, queda de 34% em 2015 e de 17% em dezembro. Em 2014, o preço havia caído 48%. Já o tipo WTI era negociado a US$ 37,79 por barril e caiu 31% no ano, o segundo ano negativo consecutivo após perda de 46% no ano passado.

Na quarta-feira (30), os preços caíram 3% depois do anúncio da Administração de Informação sobre Energia (EIA) indicando que os estoques dos Estados Unidos aumentaram 2,6 milhões barris.

As perspectivas imediatas para o valor da commodity continuam fracas. O banco Goldman Sachs diz que preços em torno de US$ 20 por barril podem ser necessários para pressionar o recuo da produção da atividade e permitir um reequilíbrio do mercado. O Morgan Stanley afirma que “ventos contrários estão crescendo para o petróleo em 2016”. A instituição financeira cita elevações contínuas na oferta global disponível, apesar de cortes em produtores de gás não-convencional, e desaceleração da demanda como principais razões. “A esperança de rebalancear em 2016 continua a sofrer sérios contratempos”, sustentou o banco.

Os comerciantes esperam que o petróleo americano seja disponibilizado aos mercados globais após a retirada, em dezembro passado, de uma proibição de exportação que já vigorava há 40 anos.

Prejuízo

Os preços do barril do Brent chegaram a ficar abaixo de US$ 36 este ano, limpando ganhos da década do ciclo da commodity movimentado pelo boom de demanda por energia da China. A desaceleração foi dolorosa para cadeia de fornecimento de energia, incluindo carregadores, petroleiras e países dependentes do petróleo, como a Venezuela, Rússia e nações no Oriente Médio.

Analistas estimam que a produção de petróleo supere a demanda entre 0,5 milhão e 2 milhões de barris por dia (bpd). Isso significa que até as projeções mais agressivas dos cortes de produção nos Estados Unidos de 500 mil bpd em 2016 provavelmente não seria capaz de reequilibrar totalmente o mercado.

O preço do petróleo começou a cair em meados de 2014 com a produção de gás não-convencional da Opep, Rússia e Estados Unidos ultrapassando a demanda. A crise acelerou no final do ano passado após a decisão da Opep de manter a produção alta para defender a participação no mercado internacional ao invés de reduzir a atividade para favorecer os preços. Em dezembro de 2015, a Opep não fechou acordo sobre metas de produção sob mesmo argumento, já que a organização apoia o retorno da exportação do Irã ao mercado após suspensão das sanções ocidentais.

Cortes

Com o preço do petróleo em queda, os maiores produtores mundiais de óleo e gás estão enfrentando o maior período de cortes de investimento em décadas. Com o barril custando cerca de US$ 37, os preços do petróleo estão muito abaixo dos US$ 60 que empresas como a Total, Statoil e BP precisam para equilibrar suas reservas, nível que já foi reduzido drasticamente nos últimos 18 meses.

As petrolíferas internacionais estão, mais uma vez, sendo forçadas a cortar gastos e empregos, vender ativos e atrasar projetos, já que a queda do preço do petróleo não sinaliza uma possível recuperação. As produtoras norte-americanas Chevron e ConocoPhillips publicaram os planos de corte no orçamento de 2016. A Royal Dutch Shell também anunciou mais US$ 5 bilhões em cortes.

Em 2016, os investimentos globais em petróleo e gás devem cair para o nível mais baixo nos últimos seis anos atingindo US$ 522 bilhões, após enfrentar uma queda de 22% chegando a US$ 595 bilhões em 2015, segundo a consultoria Rystad Energy, sediada em Oslo.

“Esta será a primeira vez, desde a crise de preços do óleo de 1986, que veremos um declínio nos investimentos por dois anos consecutivos”, disse o vice-presidente de Mercados de Petróleo e Gás da Rystad Energy, Bjoernar Tonhaugen, à Reuters.

As atividades que sobreviverem serão aquelas que irão oferecer os melhores retornos.

Mas com o índice de endividamento relativamente baixo, em cerca de 20% ou menos, fontes da indústria afirmam que as empresas pretendem assumir ainda mais empréstimos para cobrir o déficit na receita, visando proteger o pagamento de dividendos.

A Shell não corta seus dividendos desde 1945, uma tradição que a atual gestão não está disposta a quebrar. O restante do setor também é avesso a reduzir os pagamentos aos acionistas, que incluem os maiores investimentos e fundos de pensão do mundo, com receio de que os investidores abandonem o barco.

Entre as principais petrolíferas, a Exxon Mobil e Chevron são as que possuem a menor dívida, enquanto a Statoil e a Repsol têm o maior peso da dívida, de acordo com o analista Jason Gammel Jefferies.

Decisões

Após a rápida expansão na primeira metade da década, quando os preços da commodity estavam acima de US$ 100 por barril, as empresas agora devem se concentrar em atividades mais rentáveis, segundo Brendan Warn, analista de petróleo e gás da BMO Capital Markets.

“As companhias querem reduzir a extensão da atividade e escolher aqueles de maior retorno em capital”, afirma Warn.

A Shell, que planeja completar sua aquisição da BG por US$ 54 bilhões em fevereiro, pretende focar no mercado de gás natural liquefeito (GNL) e na produção de petróleo em águas profundas, especialmente no Brasil, sendo a BG líder nas duas áreas.

Com prioridades similares em mente, a BP está cada vez mais concentrada no Golfo do México e no Egito, onde conseguiu aprovar um investimento de US$ 12 bilhões em 2015.

Com milhares de postos de trabalhos cortados em 2015, novos cortes de emprego são esperados este ano à medida em que as companhias restringem seus objetivos, aponta Warn.

Além de reduzir despesas pelo engavetamento e adiamento de projetos, as gigantes petroleiras verão alguns custos caírem já que contratantes concordaram em reduções futuras de preços. Por exemplo, o custo anual para contratar um navio de perfuração foi de US$ 332 mil em 2015, comparado a US$ 405 mil em 2014, de acordo com a consultoria Rigzone, que coleta dados do setor.

O Globo e Reuters
Com adaptação BiodieselBR.com
Tags: Petróleo