Petróleo deve ficar perto de US$ 100 por barril e puxar alta de preços no Brasil
O barril de petróleo tipo Brent, principal cotação internacional, deve permanecer próximo ao patamar dos US$ 100 até o fim do ano, o que pode levar a Petrobras a ter que aumentar os preços dos combustíveis no mercado nacional. A visão é do consultor e ex-diretor da Agência Nacional do Petróleo (ANP) Felipe Kury. Ele destaca que, se a estatal não aumentar os preços em linha com a alta internacional do barril, a janela para a atuação de importadores independentes pode se fechar e prejudicar o abastecimento nacional.
Kury afirma que os preços do barril no mercado internacional refletem as pressões do jogo geopolítico atual. “Pode-se esperar que os preços internacionais fiquem próximos aos US$ 98 a US$ 100 por barril. De um lado, os Estados Unidos estão buscando manter preços estáveis e talvez até reduzi-los, por causa da pressão na inflação. Do outro lado, há o contexto da Opep [Organização dos Países Exportadores de Petróleo] de buscar manter o barril nesse patamar. Essa conjuntura, esse cabo de força pode causar mais volatilidade nos preços”, diz.
Na semana passada, Opep e aliados (Opep+) anunciaram redução de 2 milhões de barris por dia (barris/dia) de petróleo na produção do grupo, válida de novembro deste ano ao fim de 2023. Analistas apontam, entretanto, que a redução efetiva da produção deve ser menor, dado que muitos desses países produzem abaixo das cotas de extração atuais do grupo.
Na projeção da consultoria S&P Global Commodity Insights, a oferta de petróleo desses países pode cair 700 mil a 800 mil barris/dia em novembro em relação aos níveis atuais. Em relatório, o UBS apontou que, mesmo que o corte na produção seja menor que o anunciado, é “significativo”.
Kury disse que o anúncio da Opep conseguiu reverter a queda vista em agosto e setembro nas cotações internacionais. Os preços dos combustíveis vendidos pela Petrobras nas refinarias às distribuidoras voltaram a apresentar defasagens nos últimos dias.
A defasagem impede a atuação de importadores independentes, que deixam de ter lucro com essas operações quando a estatal vende produtos abaixo das cotações internacionais. “Nos últimos meses, a Petrobras abaixou os preços dos combustíveis porque aproveitou essa redução [internacional], mas, se os preços externos continuarem na tendência atual, a Petrobras vai ter que reajustar preços para cima. O Brasil tem um fluxo de importações importante para suprir a demanda interna”, afirma.
O consultor indica, entretanto, que a partir do próximo ano a tendência é de uma nova retração no preço internacional do barril. Segundo ele, a possibilidade de recessão econômica no mundo pode levar a uma redução no consumo de petróleo. “Outro ponto importante é que os Estados Unidos estão projetando uma produção recorde para 2023”, afirmou.
Gabriela Ruddy – Valor Econômico