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Negócio

Petrobras: Lula defende transição energética, mas quer investimentos em refinarias


SBT News - 27 mai 2024 - 11:33

Aprovada pelo Conselho de Administração na última sexta-feira (24), Magda Chambriard assumiu a presidência da Petrobras com missões bem claras e pré-definidas: seguir a linha do que pensa o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sobre o papel de empresa e investir em gás, fertilizantes e, principalmente, em refinarias. Entre as medidas no radar, está a recompra de estruturas de refino privatizadas, já que a construção de uma refinaria poderia levar cerca de 10 anos.

Chambriard está alinhada aos planos do governo e deve seguir alguns planos que, de certa forma, são contraditórios. Lula quer que a empresa aumente seu leque de atuação e atue como um polo de transição energética para energia sustentável, mas, ao mesmo tempo, o demitido Jean Paul Prates era constantemente cobrado para realizar investimentos ou recompra de refinarias para transformar petróleo em diesel e gasolina, combustíveis fósseis e altamente poluentes.

Além de tornar os combustíveis mais baratos e cumprir uma das promessas de campanha, o investimento nas fábricas seria para gerar mais empregos no país, no entendimento do Planalto. Já o aporte de verbas em gás e em fertilizantes buscaria alcançar outro compromisso eleitoral: a redução do preço dos alimentos.

Combustíveis e alimentos são vistos nos bastidores como dois pontos fundamentais para Lula reagir nas pesquisas de popularidade. Conforme mostrou o SBT News, Lula teve a maior aprovação justamente quando a comida esteve em baixa.

No entanto, a questão das refinarias vai de encontro ao discurso da transição energética. Lula afirma corriqueiramente que o Brasil deve liderar o mundo rumo a uma economia verde com menor emissão de carbono. Nessa linha, foi lançado o programa Mover, para fomentar a construção de carros elétricos, com investimentos bilionários de diversas montadoras no país, como a BYD e a Stellantis.

"A gente quer que os ricos paguem. E a gente vai isentar na cesta básica tudo o que é alimento de interesse do povo pobre", disse Lula durante evento em Alagoas. Na solenidade, ele ainda criticou a alta do preço do arroz, assunto também abordado pelo petista durante agenda em São Paulo, nesse sábado (25). Ao SBT, o presidente da República já havia criticado a "choradeira do mercado" e afirmou que a estatal deve pensar primeiro no Brasil e nos brasileiros.

"Se eu for atender apenas a choradeira do mercado, você não faz nada. Porque o mercado é um rinoceronte, dinossauro voraz. Ele quer tudo para ele, nada para o povo", disse o presidente em entrevista ao SBT, em 11 de março.
"É muito engraçado. Às vezes, eu vejo notícias assim. 'Petrobras cresce 30%'. 'Petrobras bate recorde de produção de gasolina'. 'Petrobras bateu recorde de exportação de petróleo'. 'Petrobras bateu recorde de arrecadação'. E a gente não ganha nada com isso", acrescentou Lula.

Analistas do setor avaliam que com o avanço da produção de energias limpas, o petróleo pode ser tornar menos relevante com o passar do tempo. Por isso, o investimento em refinarias pode ser algo com pouco retorno ao país, além de poluir mais e contradizer o discurso de liderança internacional na pauta ambiental.

"Há um debate internacional sobre questão da descarbonização e também sobre o aumento da proporção de energias limpas e redução da poluição. A tendência é que o petróleo se torne cada vez menos relevante como matriz energética. A gente hoje tem essa questão do carro elétrico, a gente tem a questão das usinas eólicas e usinas solares", disse o professor de finanças do Instituto Brasileiro de Mercados e Capitais (Ibmec) William Baghdassarian, que foi conselheiro fiscal da Petrobras durante o governo da ex-presidente Dilma Rousseff (PT).

O especialista avalia que diante do cenário atual, seria mais lucrativo para a Petrobras e para o governo focar na prospecção (exploração) de petróleo o máximo possível para aproveitar enquanto os combustíveis fósseis ainda estão em alta. Mesmo as vantagens do investimento em refinarias, como a geração de empregos, investimentos privados e crescimento do PIB, também podem ser alcançadas com a prospecção de petróleo no Amapá, por exemplo, que hoje é alvo de uma queda de braço entre o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, e a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva.

Silveira defende o aspecto econômico e definiu como "radicais" os ambientalistas contrários à exploração de petróleo em uma bacia no Amapá. Já Marina sai em defesa do ponto de vista ambiental, em mais uma queda de braço dentro do governo.

O governo quer que os investimentos em fábricas de fertilizantes ou refino sejam feitos pela própria Petrobras, pois os gastos da empresa não entram em limitações impostas por regras fiscais. No entanto, quanto maior o lucro da Petrobras, mais o governo terá flexibilidade para investir, diante das regras do novo arcabouço fiscal. Com a presença de Magda, Lula tentará dar celeridade às obras dessas frentes defendidas na Petrobras.

À imprensa, Silveira afirmou que Prates descumpria o plano de investimento pelo conselho administrativo. No documento aprovado pelo comitê, estavam medidas como maior celeridade para o início de investimentos em fertilizantes, gás e na reindustrialização do Brasil.

Parte da meta do governo Lula sobre refinarias refinarias já foi desobstruída na última (22), após decisão do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) que revisou obrigações da venda de refinarias, assumidas em 2019 no governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

Crise

A crise envolvendo Prates explodiu quando ele definiu distribuir apenas metade dos dividendos extraordinários da Petrobras, que tem o governo federal como acionista majoritário. A medida desagradou tanto o mercado quanto o entorno do presidente Lula, que queria destruição total dos lucros extraordinários. A maior crise foi com Silveira, que venceu a queda de braço nos bastidores.

A demissão de Prates teria ocorrido em uma videoconferência com a presença de Silveira e do ministro da Casa Civil, Rui Costa. Em nota interna, Prates comunicou que a demissão teve a presença "regozijadora" de ministros e desafetos.

Raphael Felice – SBT News