Petrobras domina mercado, mas importações são até 25% da demanda
A Petrobras domina o mercado de combustíveis, com parcela de 79,9% do fornecimento de diesel às distribuidoras e 74,5% da gasolina, segundo dados da ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis) compilados pelo Poder360. Ainda assim, as importações são uma parcela relevante do mercado, cuja dinâmica deve ser alterada pela nova estratégia de precificação da Petrobras.
Segundo dados da ANP, até março de 2023, as importações representavam 25,5% do mercado de diesel. A dependência externa para a gasolina e o GLP (gás liquefeito de petróleo), por sua vez, é de 12,6% e 18,5%.
Na terça-feira (16), a Petrobras anunciou o fim do PPI (Preço de Paridade de Importação), que equiparava os preços praticados no mercado interno ao valor dos combustíveis importados. A política foi adotada em outubro de 2016 e favoreceu a atividade de importação, uma vez que esses agentes ganharam competitividade em relação à estatal.
A nova estratégia deve priorizar o custo alternativo do cliente, ou seja, o preço que deve ser praticado para a Petrobras ser mais competitiva na negociação com as distribuidoras. Vai considerar também o “custo de oportunidade” da estatal. Mas a cotação do petróleo no mercado internacional ainda deve ser norteadora dos preços, afirmou o presidente da Petrobras, Jean Paul Prates.
Para o sócio da Leggio Consultoria, Marcus D’Elia, caso a Petrobras pratique preços abaixo do PPI, as distribuidoras devem passar a adquirir da estatal como fornecedora prioritária. “Não é que não vá haver importação, é um volume relevante, vai continuar e vai continuar sendo vendido a PPI. Só que as distribuidoras vão comprar somente o necessário”, declarou.
D’Elia afirma que a Petrobras passará a ter mais responsabilidade sobre o abastecimento nacional, uma vez que a atividade de importação se tornará menos atrativa.
“A distribuidora vai tentar acertar esse número [suficiente para a demanda], mas, se houver alguma variação de consumo relevante não prevista, a responsabilidade para garantir o suprimento do produto vai se voltar para a Petrobras, como era no passado”, disse o especialista.
Na avaliação da pesquisadora do Ineep (Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis) Carla Ferreira, os impactos ainda não estão claros porque será uma nova dinâmica de mercado. Entre a implementação do PPI, há 6 anos, e o seu término, o mercado ganhou novos agentes, tanto na importação quanto no refino.
“Pode ser que haja impactos regionais, por isso temos que acompanhar o mercado. Pode ser que importadores menores, por exemplo, que não consigam estabelecer estoques ou alguma coisa do tipo para atender a esse mercado com essa nova dinâmica de preços”, afirmou.
A pesquisadora afirma ainda que a Petrobras pode aumentar a sua participação de mercado no refino, com o aumento da capacidade de suas refinarias. “De qualquer forma, [o mercado] não vai conseguir ser suprido pela Petrobras porque, apesar de ser a menor parte, a demanda por importação é alta”, disse Ferreira.
Há também os limites da margem de refino da Petrobras, afirma D’Elia. Segundo ele, a estatal não poderia praticar preços muito abaixo do PPI, uma vez que esse fator variaria de 3% a 10% a depender da unidade.
“A margem de refino, basicamente, é influenciada pelo preço do [produto] refinado e o preço do petróleo, que é o principal insumo da refinaria”, afirmou. Isso significa que a estatal não teria espaço para reduzir o preço do combustível na comercialização com distribuidoras sem comprometer seus resultados.
Competitividade
A refinaria de Mataripe, da Acelen na Bahia, é a unidade privada com maior parcela de mercado no Brasil. Foi a 1ª unidade privatizada pela Petrobras, em 2021, conforme acordo celebrado com o Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica).
Segundo D’Elia, é possível que refinarias privadas continuem competitivas com a Petrobras, mesmo que a estatal pratique preços menores. Isso porque unidades como Mataripe e Ream (Refinaria de Manaus) –ambas privatizadas pela Petrobras—foram construídas para atender a mercados regionais.
“A área de influência dessas refinarias é bastante protegi da, vamos dizer assim, pela distância que existe entre as refinarias no Brasil. Elas já foram projetadas para atender regiões distintas. Elas não foram projetadas para competir. Então, é muito difícil tomar uma área de influência ou ameaçar a área de influência de uma refinaria”, afirmou.
Contudo, segundo a pesquisadora do Ineep, ainda não está claro como a Petrobras deve usar o critério de “regionalização” dos seus preços. O presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, disse que a estatal vai adotar preços de acordo com os seus clientes em cada região.
“É uma coisa que precisamos acompanhar. Vem como uma novidade de regionalização dos preços, porque até então os preços eram nacionais. Tem a ver com essa dinâmica de que tem uma refinaria privada na Bahia, outra em Manaus, tem pontos em que os importadores são mais fortes e outros em que a Petrobras é dominante. É uma inserção que vai se dar em cada polo”, afirmou.
Por cliente
Prates disse, nesta 3ª feira (16.mai), que os valores praticados pela Petrobras devem variar de acordo com a localização da refinaria, a logística de internalização do produto e o tipo de cliente.
“Não só os preços nas áreas de influência [de cada polo] variam, como de cliente para cliente tem que variar também. O cliente que compra muito é diferente do cliente que compra um pouco, o cliente que pede num ponto de entrega remoto é diferente do ponto de entrega mais coletivo, o cliente que é mau pagador contumaz é diferente daquele que é um bom pagador”, afirmou o presidente da Petrobras.
Segundo D’Elia, a diferenciação de valores por clientes pode levar a uma maior concentração de mercado na distribuição. O especialista afirmou que os contratos da Petrobras com as distribuidoras têm como um de seus princípios a “isonomia de preço no polo”, ou seja, o preço seria o mesmo para todos os clientes em um determinado polo de venda de combustíveis.
“Se eu, por exemplo, coloco um preço mais baixo para uma distribuidora que compra grandes volumes e um preço mais alto para quem compra pequenos volumes, rapidamente haverá uma concentração”, disse D’Elia. Isso porque os preços devem desencorajar a atuação de distribuidoras regionais, que negociam volumes menores.
Lais Carregosa – Poder 360