Opep+ decide futuro do petróleo sob pressão de Rússia e EUA
Os países da Opep+ se preparam para adotar uma nova estratégia depois da pandemia de Covid-19 em sua reunião de quarta-feira (3), com todos os olhos voltados para como vão reagir diante do aumento dos preços do petróleo.
Os representantes dos 13 membros da Opep (Organização dos Países Exportadores de Petróleo), encabeçados pela Arábia Saudita, e seus dez sócios (Opep+), liderados pela Rússia, estão numa encruzilhada.
Eles precisam decidir a continuidade do acordo atual, sob a direção do kuwaitiano Haitham Al Ghais, que sucede ao nigeriano Mohammed Barkindo, morto no início de julho.
Descrito como um "tecnocrata petroleiro respeitado e uma figura bem conhecida da Opep", ele assumiu suas funções de secretário-geral nesta segunda-feira (1), anunciou a organização em comunicado.
Depois dos drásticos cortes na produção na primavera de 2020 (no hemisfério norte), em resposta à queda da demanda provocada pela pandemia de coronavírus, os países produtores recuperaram a produção aos níveis anteriores à epidemia, pelo menos no papel.
Em tempos normais, a produção teria se estabilizado nesse ponto, mas o atual contexto de preços e a pressão dos Estados Unidos permitem pensar que haverá mudanças.
Viagem de Biden
Em meados de julho, o presidente americano, Joe Biden, viajou à Arábia Saudita, apesar de suas promessas de transformar o reino do Golfo num país "pária" depois do assassinato do jornalista Jamal Khashoggi em 2018.
Um dos motivos dessa visita controversa foi convencer Riad a continuar abrindo a torneira do petróleo para estabilizar o mercado e frear a inflação galopante.
A reunião de quarta poderá revelar se os esforços de Biden deram certo.
"O governo dos Estados Unidos parece antecipar que haverá boas notícias, mas é difícil saber se é pelos compromissos alcançados por Biden", disse Craig Erlam, analista da Oanda, à Agência France Presse.
"Não seria surpresa que os sauditas anunciem algo que Biden possa propor como uma vitória para seus eleitores", afirma Stephen Innes, da SPI Asset Management.
Segundo o centro de pesquisa Energy Aspects, de Londres, a Opep+ poderia ajustar seus atuais acordos para continuar aumentando os volumes de produção.
Entretanto, os analistas preveem possíveis aumentos drásticos, porque a Opep+ também deve ter em mente que os interesses da Rússia, um ator chave na aliança, são diametralmente opostos aos de Washington.
"A Arábia Saudita precisa caminhar no fio da navalha", afirma Tamas Varga, analista da PVM Energy. A aliança terá que permitir que os Estados Unidos salvem as aparências e tranquilizar a Rússia para garantir a estabilidade da Opep+.
Qualquer decisão que seja tomada na quarta terá de ser por unanimidade, e por isso se prevê uma reunião mais longa que o normal.
"É provável que qualquer pacto da Opep+ para aumentar a produção se choque com o ceticismo do mercado, dadas as evidentes limitações de abastecimento da aliança", afirma Han Tan, da Exinity.
A aliança não cumpre habitualmente as cotas de produção definidas, e já teve problemas para voltar ao nível anterior à pandemia.
Emeline Burckel – AFP