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Negócio

FT: Principais traders de petróleo alertam que preços podem ultrapassar US$ 200 o barril


Financial Times - 25 mar 2022 - 10:36

Alguns dos mais respeitados traders de petróleo do mundo estão prevendo que os preços da commodity poderão ultrapassar US$ 200 o barril este ano, graças ao crescente boicote internacional à Rússia e falta de fontes alternativas de fornecimento.

Pierre Andurand, um dos gestores de fundos hedge mais conhecidos do setor, disse nesta quinta-feira que os suprimentos de petróleo russo para a Europa poderão desaparecer depois da invasão da Ucrânia por Vladimir Putin, o que levará a uma reformulação duradoura dos mercados mundiais de energia.

“Acordem! Não retornaremos aos negócios normais dentro de poucos meses”, disse ele no seminário FT Commodities Global Summit em Lausanne, na Suíça. “Acho que perderemos o fornecimento russo do lado europeu para sempre”. O petróleo poderá até mesmo chegar aos US$ 250 este ano, o dobro dos níveis atuais, disse ele.

Outros veteranos do mercado petrolífero que falaram no seminário concordaram que o petróleo e os produtos refinados russos, como o diesel, não retornarão ao mercado europeu no curto prazo, mesmo que um cessar-fogo com a Ucrânia seja acertado.

Analistas estimam que até 3 milhões de barris/dia de petróleo russo poderão sair do mercado.

Doug King, diretor do Merchant Commodity Fund da RCMA, prevê que os preços do petróleo vão disparar para algo entre US$ 200 e US$ 250 o barril este ano. “Isso não é transitório. Será um choque de oferta de petróleo”, disse ele.

O petróleo do tipo Brent, a referência internacional, atingiu US$ 122 o barril na quarta-feira, antes de um encontro entre líderes da União Europeia (UE) e da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) em Bruxelas, nesta quinta-feira, que poderá resultar em novas sanções contra a Rússia. Os preços chegaram a US$ 139 imediatamente após a invasão da Ucrânia, e mesmo depois de recuarem disso, continuam 90% acima do nível registrado nesta mesma altura do ano passado.

“Da maneira como as coisas estão indo, não acho que este será um problema temporário”, disse Alok Sinha, diretor global de petróleo e gás do Standard Chartered. “Agora teremos que lidar com isso como um problema de longo prazo, o que significa que teremos que encontrar um crescimento alternativo de oferta.”

Daniel House, trader sênior de petróleo da Socar, uma divisão trading da companhia nacional de petróleo do Azerbaijão em Houston, disse que é improvável que a indústria de petróleo de xisto dos Estados Unidos ofereça um socorro, aumentando a produção para reduzir os preços.

“Mesmo que eles quisessem acelerar, trata-se de um processo de 12 meses”, disse ele, acrescentando que alguns produtores poderão levar até 18 meses para oferecer petróleo novo. “A cavalaria não está chegando tão rapidamente como chegou quando tínhamos incentivos anteriores para eles aumentarem a produção.”

A indústria de xisto dos EUA já foi conhecida por suas farras de produção alimentadas por endividamento, mas desde então os executivos prometeram não gastar mais do que o fluxo de caixa, nem queimar capital em projetos caros.

King disse que os preços do petróleo no mercado futuro terão de aumentar bastante antes que a indústria de xisto dos EUA possa aumentar a produção e entregar os retornos de caixa esperados pelos investidores. O contrato do petróleo WTI, a referência americana, para entrega em dezembro de 2024 foi negociado abaixo de US$ 80 o barril na quarta-feira.

Bem Luckock, diretor adjunto de negócios com petróleo da Trafigura, prevê um pico no preço do petróleo Brent de US$ 150 o barril no terceiro trimestre e alerta que as economias em desenvolvimento, com menos capacidade para reduzir os impostos sobre os combustíveis, serão as mais duramente atingidas.

“Enquanto os EUA, a Europa ocidental e outros países mais ricos do mundo poderão fornecer algumas dessas isenções fiscais, imprimir algum dinheiro... as nações mais pobres não terão as mesmas ferramentas”, disse ele. “Essas serão as pessoas que sofrerão primeiro e essas são algumas das consequências não intencionais das políticas que provavelmente virão.”

Harry Dempsey, Tom Wilson e Neil Hume – Financial Times