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Negócio

Assumindo o controle: tecnologia organiza o trabalho das usinas


BiodieselBR.com - 06 set 2022 - 10:40 - Última atualização em: 09 nov 2022 - 11:35

Usinas de biodiesel – assim como outras plantas industriais complexas – são criaturas caprichosas. Para que tudo funcione sem sobressaltos é preciso coordenar o trabalho de dezenas de pessoas e controlar várias centenas de variáveis. Um desafio logístico tão enorme que depende de tecnologia de ponta para ser vencido. É onde entram os modernos sistemas de ERP.

A sigla – em inglês – significa Enterprise Resource Planning o que pode ser traduzido como ‘planejamento de recursos empresariais’ e descreve um tipo de plataforma de software cuja missão é interligar as áreas de uma empresa centralizando todas as informações relevantes para o negócio.

“[O ERP] faz a gestão da empresa desde a compra da matéria-prima até o produto acabado. E tudo o que está no meio disso, permitindo o monitoramento”.
Gley Camillo – especialista em Custo Agrícola e Gestão na CHB.

Em resumo: ele garante que todo mundo esteja sempre na mesma página e tenha acesso à melhor informação disponível para que o trabalho flua de forma ordenada e integrada. É o que explica o especialista em Custo Agrícola e Gestão da CHB, Gley Camillo, empresa que desenvolve a plataforma CHB focada precisamente nas necessidades das usinas de biodiesel e etanol. “[O ERP] faz a gestão da empresa desde a compra da matéria-prima até o produto acabado, permitindo o monitoramento de tudo o que estiver no meio do caminho”, diz.

Ela faz o que Gley define como uma ‘gestão por exceção’; ou seja, sempre que [uma inconsistência ao longo do processo é identificada, o profissional responsável é automaticamente notificado. “Se o gestor autoriza a compra de uma carga de 10 toneladas de óleo e chegam 10,5 toneladas, o sistema mostra que tem uma diferença. Isso dá uma baita tranquilidade para a gestão”, complementa.

A jornada dobiodiesel noCHBEmbora abranja todos os departamentos de uma usina de biodiesel, o CHB intersecciona em diversos pontos com o caminho que o biodiesel tem que fazer até ser fabricado. Caso identifique qualquer inconsistência ao longo desse trajeto, o sistema informa os responsáveis para que eles possam tomar as providências necessárias.Quando a direção da usina toma a decisão de produzir uma determinada quantidade de biodiesel, o sistema faz a requisição dos volumes adequados de óleos, metanol e catalisadores.Controle da produção Antes mesmo dos caminhões carregados de óleos, gorduras e outros insumos entrarem na usina, o sistema já está conferindo os dados da nota-fiscal e batendo com as informações que haviam sido inseridas pela equipe de comprasRecebimento da Matéria-PrimaOs óleos e gorduras têm sua qualidade controlada para certificar que eles estejam dentro dos parâmetros acertados entre a usina e os vendedores e são direcionados pelo sistema para os tanques apropriadosAnálise da matéria-prima e encaminhamento para o estoqueO biodiesel e a glicerina fabricadas são encaminhados para a tancagem da usina à espera da entrega para seus compradoresProduto acabadoEnquanto o biodiesel está sendo carregado, o sistema emite a nota fiscal, baixa no volume entregue no contrato da distribuidora e atualiza os números da tancagem da usina Finalização Quando o caminhão de uma distribuidora chega à usina com um pedido para carregar uma carga de biodiesel, o sistema confere se o contrato dessa distribuidora tem saldo suficiente para garantir a retiradaEntrega do biodieselOs dados da pesagem da matéria-prima são inseridos no sistema para que, mais uma vez, sejam comparados com as informações do pedido. Daí os óleos e gorduras são descarregados e seguem para os tanques intermediáriosPesagem e entrada nos tanques intermediáriosFonte: CHB Sistemas | Elaboração: BiodieselBR.com chbsucro.com.br

Essa também é uma das vantagens destacadas pela química industrial Aline Bassoli, supervisora do laboratório da Biopar MT – uma das clientes da CHB. Segundo ela, a integração entre as áreas permite a usina como um todo operar com mais eficiência. “Se a gente comprou um óleo com 1% de acidez e chega aqui um óleo com 1,2% a gente já sabe qual é o desconto aplicável. Antes precisava conferir e calcular tudo manualmente. O tempo da devolutiva é bem melhor”, pondera.

Ultra Especializada

Embora haja uma variedade de plataformas do tipo no mercado, algumas das quais desenvolvidas por nomes globais, nenhuma delas conta com a expertise e empenho que a CHB vem dedicando ao setor de biocombustíveis ao longo de mais de três décadas. Fundada no distante ano de 1987 – quando a computação ainda soava como coisa de filme de ficção-científica – por Carlos Henrique de Barros e Mario Arias Martinez, a empresa logo descobriu que havia um nicho de mercado a ser explorado no agronegócio. “Meu sócio já tinha trabalhado em uma usina de etanol e foi convidado por uma outra fabricante para desenvolver o sistema de contabilidade e de gerenciamento dos pagamentos deles”, lembra Mario.

Mesmo que essa junção entre o agronegócio e informática soasse contraintuitiva nos anos 1980, ela fazia bastante sentido. “Essas empresas tinham um volume grande de funcionários. Eram duas mil, três mil pessoas o que gerava uma grande necessidade de informatizar processos de RH”, recorda-se.

Aos poucos, os horizontes foram se ampliando e a CHB passou a criar sistemas para o controle da logística, do financeiro, da produção rural até que, por fim, suas soluções já davam conta de praticamente toda a operação de uma usina. “Por volta de 1993, nós já tínhamos um corpo bastante robusto de softwares e começamos a expandir”, complementa acrescentando que, em paralelo, a empresa também passou a oferecer seus serviços também para produtores rurais.

Segundo Mario, o atual CHBAGRO é a quinta geração na evolução desses softwares pioneiros. “Temos uma longa estrada. A cada cinco anos mais ou menos nós praticamente refazemos todo o nosso sistema para que ele esteja sempre adaptado às tecnologias mais recentes”, diz destacando à adequação à computação em nuvem e ao mobile como os grandes diferenciais da encarnação mais recente da plataforma da empresa.

No meio desse caminho, quando as primeiras usinas de biodiesel começaram a ser instaladas no Brasil, em meados da década de 2000, foi muito natural que a CHB se sentisse em casa nesse novo filão. Pode não parecer, mas usinas de etanol e de biodiesel têm muito em comum. “São produtos diferentes, mas que têm processos e passam por controles muito parecidos (...) têm uma sinergia muito grande do ponto de vista dos sistemas”, ressalta o empresário.

A primeira cliente da CHB no setor de biodiesel foi a Biobrax, Instalada na cidade de Una (BA), a usina operou até 2013 e nunca chegou a ser uma grande fabricante. Foi um começo. Hoje o CHB está presente nas usinas de três grupos do setor de biodiesel.

Compreensão do negócio

Essa dedicação permitiu que a CHB aprofundasse seu entendimento do setor e suas necessidades. “As startups estão muito na moda. Como se você ter 35 anos de experiência não fosse uma vantagem. Nossa especialização e foco no setor traz vantagens que outras empresas não têm. A gente respira biodiesel e etanol”, orgulha-se Mario ressaltando que mesmo fornecedoras de porte maior têm dificuldade em atingir esse nível de refinamento. “Uma empresa grande faz o produto deles e você é que tem que se adaptar. Já a gente se adapta a condição do cliente”, pondera.

“As startups estão muito na moda. Como se você ter 35 anos de experiência não fosse uma vantagem. Nossa especialização e foco no setor traz vantagens que outras empresas não têm. A gente respira biodiesel e etanol”.
Mario Arias Martinez – sócio da CHB

Isso significa levar em consideração as particularidades e limitações que esses negócios enfrentam no dia a dia e oferecer soluções. A maioria das usinas está instalada fora dos grandes centros urbanos e, portanto, costumam não contar com uma internet das mais estáveis. “O sistema mobile responsável pelos apontamentos de campo do CHBAGRO não obriga que você esteja online 100% do tempo. Se a internet cai, o sistema salva o trabalho e transfere [os dados] assim que a conexão voltar”, orgulha-se Mario.

Essa compreensão em profundidade do ambiente de negócios dos clientes fez com que a CHB consolidasse as melhores práticas do setor. “Embarcado no nosso sistema vai um método de gestão que desenvolvemos a partir de nossa expertise e do que conhecemos do mercado”, diz Gley. O que não quer dizer que seja algo impositivo. “O cliente nos diz o que ele consegue fazer em termos de capacidade industrial, de material humano e o que ele precisa”, diz.

Há 8 anos na CHB durante os quais já passou por 15 unidades produtivas de biodiesel e de etanol, o analista de suporte, João Dias, explica que o trabalho começa sempre por um levantamento detalhado dos processos de controle já implementados pelo cliente. “Aí a gente vai colocando o processo dele dentro do nosso sistema. Vamos vendo onde é possível adequar o nosso sistema e, muitas vezes, também fazendo sugestões de ajuste no processo deles”, conta.

‘ANP ready’

De acordo com Gley, é nesse ponto que conhecimento de causa realmente costuma fazer diferença. “Para quem não sabe o que acontece dentro de uma usina, desenhar os processos vira um sofrimento. Um de nossos clientes já nos disse que foi um alívio não ter que ficar explicando cada passo”, complementa.

“Um de nossos clientes já nos disse que foi um alívio não ter que ficar explicando cada passo”.
Gley Camillo – especialista em Custo Agrícola e Gestão na CHB

Isso se traduz num controle mais orgânico do que acontece dentro da usina. “Ter todo o controle de entrada de matérias-primas e de tancagem integrado com a produção e o faturamento com ANP e Contabilidade não é algo comum entre os sistemas [de ERP] disponíveis”, assegura Gley.

É um alívio não apenas pelo lado mais industrial do negócio, mas também pelo lado regulatório. “Nossos processos têm foco nas exigências da ANP e do Fisco”, pontua Gley. Algo assim não seria possível sem um conhecimento pormenorizado das regras específicas do setor de biodiesel. “Na data de encaminhar os dados sobre a venda de biodiesel para a ANP e para a Receita, o sistema faz tudo de forma automática. Tudo o que a equipe da usina precisa fazer é conferir os números do relatório e, se estiver tudo OK, apertar um botão”, complementa.

Virada de chave

A duração de processo de implantação do CHB pode variar bastante dependendo do que a usina precisa e de quantas áreas ela vai interligar ao sistema – não é preciso fazer tudo de uma vez só –, mas costuma levar entre 2 de 6 meses. “Mas já pegamos usinas que precisavam implantar tudo em questão de semanas porque estavam para perder o acesso ao sistema que elas vinham usando antes ou tinham algum prazo contábil ou fiscal a cumprir. Não é comum termos prazos tão curtos, mas acontece”, comenta João Dias.

Segundo o analista tudo é negociado com as usinas antes de fazer a ‘virada’ – momento em que o sistema entra, de fato, em funcionamento. “Durante a homologação a gente faz a validação para ver se tudo está OK”, diz. Além disso, a relação entre a CHB e a usina não se encerra com a entrega. Além do suporte para resolver dúvidas e problemas, a empresa também faz uma rodada de feedback. “A gente faz um acompanhamento para ver o nível de ‘usabilidade’. (...) Também podemos fazer customizações caso o cliente precise”, explica.

Nem sempre é preciso começar tudo do zero. Muitas usinas já contam com algum tipo de sistema seja um de ‘grife’ ou um desenvolvido por fornecedores locais de menor porte. “Uma hora eles acabam atingido seu limite”, explica João acrescentando que, na maioria dos casos, é possível importar as informações anteriores “de forma rápida e prática”. “A não ser que esteja tudo muito confuso, nós tentamos, dentro do possível, manter as mesmas codificações e informações ao quais os funcionários do cliente já estão acostumados”, segue.

Em muitos casos, contudo, esse sistema de controle pode ser bastante ‘artesanal’ com cada área da usina sendo gerida por meio de planilhas. “Aí não fica algo sistêmico (...) isso acaba gerando muito retrabalho porque começa a ter duplicidade e conflito de informações e, se acontece um erro, você não consegue identificar de onde ele partiu”, descreve Gley.

“A segurança do que está armazenado [no sistema] faz com que a credibilidade interna melhore bastante”.
Aline Bassoli – supervisora do Laboratório da Biopar MT

Deixar as planilhas para trás foi o que levou a Biopar MT incluir seu laboratório dentro do sistema desde abril deste ano. A fabricante já usava o CHB em outras áreas e, segundo Aline Bassoli, havia necessidade de ter tudo mais atrelado. “Cada analista tem seu acesso e faz seus lançamentos sem o risco de perder o que já havia sido feito, como podia acontecer com as planilhas caso alguém apagasse ou alterasse alguma entrada por acidente. A segurança do que está armazenado [no sistema] faz com que a credibilidade interna melhore bastante”, diz lembrando que – por questões regulatórias – as usinas podem ser cobradas de informações de muitos anos atrás. Ter a garantia de que os dados vão estar disponíveis e são confiáveis é vital. “A gente tem como método guardar [as informações] durante anos sem o risco de perder algo (...) se a ANP nos pedir, a gente vai ter tudo em mãos de forma muito ágil”, diz.

A disponibilidade dos dados também abre novas oportunidades para que a direção das usinas assuma níveis novos de controle de seus negócios. “Os gestores costumam querer sempre mais informação. Eles logo descobrem que as informações que eles não tinham o hábito de acompanhar antes têm muito valor”, encerra Gley.

Fábio Rodrigues – BiodieselBR.com