PUBLICIDADE
CREMER2024 CREMER2024
Bio

Problema em barco de deputado motivou audiência sobre biodiesel na Câmara


BiodieselBR.com - 04 jul 2011 - 12:48 - Última atualização em: 09 nov 2011 - 19:17

Em 28 de junho, a Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável da Câmara dos Deputados realizou em Brasília (DF) uma audiência pública sobre as Políticas do Programa do Biodiesel. O encontro foi convocado pelo deputado Cláudio Cajado (DEM-BA) e reuniu representantes de toda cadeia do biodiesel para falar sobre as turbulências que o segmento vem enfrentando.

BiodieselBR fará uma série de reportagens sobre esta audiência pública começando pelos motivos inusitados que levaram à convocação do encontro.

Uma experiência pessoal levou o deputado Cláudio Cajado, do Democratas da Bahia, a convocar a audiência pública. O caso é que Cajado é dono de um barco em Salvador que, recentemente, precisou passar por um custoso processo de limpeza após o acúmulo de borra no fundo do tanque de combustível. “Quando abriram o tanque, tinha uma espécie de lama negra e eu não entendi o que era aquilo”, disse o deputado em sua fala durante a audiência. Ele acrescentou que foi o dono do posto de combustível da marina, onde o barco fica guardado, que o alertou que aquilo deveria ser resultado da mistura de diesel com biodiesel.

A suspeita, no entanto, é um verdadeiro tiro n’água, afinal o diesel náutico não leva biodiesel. Mas o contratempo pessoal levou o deputado baiano a acreditar que ele não era o único cidadão brasileiro amargando o mesmo tipo de prejuízo.

“Eu não quero tratar aqui como se fosse um problema pessoal. Não é. É uma questão que devemos debater com a sociedade porque o biodiesel é uma tecnologia nossa e se existem problemas eles precisam ser enfrentados”, opinou.

A explicação equivocada do profissional da Marina fez o deputado, por tabela, descobrir um dos atuais calos do setor e a principal crítica da Fecombustíveis. “Assim como eu tive prejuízo financeiro, diversos clientes de postos de combustíveis também”, informou o deputado, após a apresentação de Paulo Miranda Soares, presidente da Fecombustíveis.

Diesel marítimo
A superintendente de Biocombustíveis e de Qualidade de Produtos da ANP, Rosângela Moreira de Araújo fez questão de ressaltar que não há biodiesel no o diesel marítimo. Segundo ela existem particularidades importantes em relação ao óleo diesel marítimo que tornam pouco recomendável a adição de biodiesel.

Primeiro porque ele deve circular por águas internacionais e precisa seguir regras da Organização Internacional para Padronização (ISO); além disso, o diesel marítimo é usado em ambientes sujeitos a elevados graus de umidade que fariam com que o biodiesel acabasse absorvendo água, podendo gerar problemas nos motores. Em relação ao problema no barco do deputado, “ou o combustível tinha realmente biodiesel, o que seria o caso de uma ação de fiscalização, ou seria o caso de um passivo mais antigo”, destaca a servidora. A primeira hipótese é bastante improvável, pois como o biodiesel é mais caro que o diesel, a distribuidora não teria ganho financeiro nessa fraude.

Segundo ela, mesmo nos Estados Unidos esse tipo de problema ainda não está 100% equacionado. Para diminuir a formação de borras, o mercado norte-americano tem avaliado o uso de aditivos e biocidas. O problema é que os aditivos não funcionam em 100% dos casos. “Quando você fala em biodiesel de sebo não existem aditivos no mercado”, comenta, indicando que é preciso mais linhas de financiamento para pesquisas nessa área.

Já o presidente do conselho superior da Ubrabio, Juan Diego Férres, apontou um paradoxo no caso do diesel marítimo. Segundo ele, alguns países chegam a proibir o uso de diesel fóssil em aplicações náuticas por questão de segurança e esta seria uma vantagem do combustível derivado da soja. “O biodiesel tem um ponto de fulgor muito mais elevado que o do diesel fóssil. O ponto de fulgor é a temperatura em que o diesel vaporiza o que cria um risco evidente”, pontua. Ferrés ressaltou também que por ser biodegradável, um derramamento acidental de biodiesel seria menos nocivo.



Fábio Rodrigues - BiodieselBR.com