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Granol e Grupal investem no crambe. Expansão ainda depende das usinas


BiodieselBR.com - 04 abr 2011 - 06:35 - Última atualização em: 09 nov 2011 - 19:16

Objeto de pesquisas há mais de 15 anos, uma planta da família da canola vai se desenvolvendo para ser matéria-prima da indústria do biodiesel. É o crambe, uma oleaginosa com grande potencial de produção na região Centro-Oeste, mas que ainda tem participação insignificante no biodiesel nacional.

Para o engenheiro agrônomo Renato Roscoe, da Fundação MS, entidade que possui a única variedade da planta registrada no país, o que falta para nova cultura deslanchar é estabelecer uma cadeia produtiva. “Sempre trabalhamos com uma empresa que garante a compra do grão”, explica. “Se não houver garantia de compra, preferimos não expandir a cultura.”

Apesar das dificuldades iniciais, Roscoe garante que o programa da planta vai bem. “É só uma questão de confirmar o mercado, o produtor criar confiança na existência desse mercado, porque está muito vantajoso o sistema de remuneração”, aposta. “O mais importante é que as indústrias já estão dominando a parte de logística, recepção e processamento do crambe.”

Em Sorriso (MT), foram plantados mil hectares, em parceria com a empresa Grupal. A previsão é plantar outros 4 mil hectares em Mato Grosso do Sul, onde a usina parceira é a Granol. “Aqui a gente inicia o plantio mais tarde, abril é um ótimo mês para o plantio”, explica. Já em Goiás, onde havia a expectativa de plantar 3 mil hectares, em parceria com a Caramuru, o excesso de chuva atrapalhou o plantio.

Há grandes áreas plantadas também no estado de São Paulo e no Paraná, em caráter experimental.

“Para os próximos anos, a expectativa é de crescimento”, garante Roscoe, que prevê o aumento da área plantada para 10 mil no curto prazo em Mato Grosso do Sul. “O estado tem uma demanda represada muito grande, porque não tinha ninguém comprando. Agora que temos comprador, vai expandir bastante.”

O crambe é uma cultura de inverno. A diferença para sua prima bem próxima, a canola, é que o ciclo é mais curto, de 90 dias, e ele tolera mais temperaturas altas. “É por isso que a gente consegue plantar um pouquinho mais para cima, aqui no Centro-Oeste”, diz o engenheiro agrônomo. Além de resistir à seca, a planta é bem tolerante à geada, comum no Oeste do Paraná e no Sul de Mato Grosso do Sul. “Tolera geadas brandas e até geadas um pouco mais fortes em algumas fases da cultura”, afirma Roscoe. “É uma cultura que tem algumas vantagens de rusticidade.”

A única limitação séria da cultura é a exigência de solos bem corrigidos, pois a planta é muito sensível à acidez do solo e ao alumínio trocável.

Além do biodiesel, o óleo tem aplicações na indústria química, para extração do ácido erúcico.

A torta tem restrições de uso em ração animal para monogástricos – suínos e aves. Para bovinos, a restrição é só na palatabilidade. “Mas já fizemos trabalhos com a Universidade Federal de Viçosa para ver até quando a gente conseguiria inserir de [torta de] crambe na dieta de bovinos”, conta o agrônomo. “Chegamos até 15% da matéria seca total sem nenhum problema, com ganho de peso bem satisfatório.”

Em uma tese de mestrado apresentada recentemente na Universidade Católica Dom Bosco (UCDB), o farelo de soja foi substituído pelo farelo de crambe na alimentação dos ovinos em até 90%, sem diferença de ganho de peso e sem prejuízo para os animais. “Com os resultados obtidos, algumas empresas quiseram trabalhar com o farelo em escala mais industrial, em confinamentos”, revela Roscoe. “O confinamento Malibu usou uma parcela grande para experimentar em escala comercial, com excelentes resultados. Há mais uns três ou quatro produtores que também fizeram testes. Agora estamos na fase de registro do farelo no Ministério da Agricultura.”

A Fundação MS está importando variedades alternativas para aumentar a diversidade. Há novas linhagens em fase bem avançada de melhoramento. A fundação envia sementes a mais de 20 universidades conveniadas no Brasil inteiro, que estudam desde o óleo e o uso do farelo, até toda a parte agronômica, como as questões de espaçamento, déficit hídrico e padrões de germinação. A partir do acompanhamento dos trabalhos, a fundação mantém um banco de dados para dividir essas informações com os produtores.

Saiba mais sobre a planta:
Crambe: Uma fonte promissora
Crambe: Pé no chão

Ari Silveira - BiodieselBR.com