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[Entrevista] Basf apresenta sua visão do mercado de biodiesel


BiodieselBR.com - 25 mar 2011 - 14:45 - Última atualização em: 09 nov 2011 - 19:16

Prestes a completar um século de presença no Brasil – a primeira representação comercial foi aberta no Rio de Janeiro em 1911 –, a Basf, gigante alemã do ramo químico, tem metas ambiciosas para o mercado de biodiesel da América do Sul. Este ano a companhia inaugura uma fábrica de metilato de sódio em Guaratinguetá, e já está com outra igualzinha engatilhada na Argentina. Para saber mais sobre a visão da empresa, BiodieselBR conversou com o diretor de químicos industriais, Carlos Eggers, e com o gerente de marketing de químicos industriais, Fabrício Soto.


Por que a Basf tomou a decisão de investir numa segunda unidade de metilato na América do Sul meses depois de iniciar a construção da primeira? 
Carlos Eggers – Nossa decisão se baseia em três pilares. O primeiro é mercado. Se você olhar para o Brasil, vai ver que o consumo tem crescido rapidamente. Na lei que introduziu o biodiesel no Brasil [a lei 11.097 de janeiro de 2005], o B5 só deveria ser adotado em 2013, mas o que vimos foi que as autoridades foram antecipando os aumentos da mistura e chegamos ao B5 três anos antes do prazo. A trajetória da indústria argentina tem sido similar. Além de já serem grandes exportadores, eles introduziram o B5 em março de 2010, passaram para o B7 em setembro e já estão falando em B10. Isso quer dizer que o crescimento do mercado para metilato tem superado as nossas expectativas. Além disso, acreditamos que o potencial de crescimento continua elevado porque a produção nos dois países é competitiva em nível global.

O segundo pilar é a própria Basf. Temos uma tecnologia nova e altamente competitiva para a produção de metilato que está sendo implementada pela primeira vez aqui no Brasil, o que – somado ao diferencial dos sites e ao bom relacionamento com nossos clientes – nos deixa numa posição muito forte.

O terceiro é um grupo de fatores que chamamos de ambiente favorável e que mistura o apoio das autoridades, o espírito empreendedor dos produtores, o fato de Brasil e Argentina ainda serem grandes importadores de diesel mineral, o crescimento e estabilidade econômicos da região. Até a crise de 2008 nos ajudou, porque permitiu reposicionar a América do Sul e fazer o mundo ver que essa é uma região estável e com boas perspectivas.
 
Como está indo a construção das fábricas em Guaratinguetá e na Argentina?
Carlos Eggers – Vai muito bem. O ritmo está forte e já estamos entrando na etapa final de construção em Guaratinguetá. O start-up da produção deve acontecer no último trimestre do ano, como planejado. No caso da unidade da Argentina, vamos praticamente fazer um copy and paste do projeto que estamos construindo aqui. Isso deve acelerar o processo porque já temos boa parte da engenharia pronta. 

Os dois sites têm semelhanças. Em ambos teremos muita sinergia com outras plantas que temos na mesma área, vamos poder compartilhar infraestrutura e utilidades. Os dois têm localizações fantásticas. Na Argentina, por exemplo, estamos bem no coração da maior região produtora de biodiesel. A fábrica fica a 30 km de Rosário, que é capital da província de Santa Fé, onde se concentra quase 30% de toda a produção.

Qual o tamanho do mercado de metilato e quanto dele a Basf espera capturar?
Fabricio Soto – Somando o mercado do Brasil e da Argentina, devemos superar a cifra de 100 mil toneladas de metilato, e a nossa expectativa é que haja um crescimento forte nos próximos anos. A fábrica do Brasil tem capacidade para 60 mil toneladas, a da Argentina também. Isso já deixa claro que esperamos alcançar uma posição de liderança no segmento de metilato de sódio dentro do mercado sul-americano.

Na visão da Basf, em que pontos as indústrias brasileira e argentina de biodiesel diferem entre si?
Carlos Eggers – Cada país vem perseguindo modelos diferentes. O Brasil tem um mercado interno enorme do qual pode tirar vantagem para continuar crescendo por muito tempo. A Argentina começou exportando e hoje é o maior vendedor global de biodiesel, mas só começou a usar biodiesel em seu mercado no ano passado. Mas ambos os países possuem cadeias integradas e são muito competitivos em termos de matéria-prima. Este é um ponto em comum e contribui para que ambos tenham potencial para construir indústrias de biodiesel de nível mundial. 

Brasil e Argentina são competidores naturais no mercado de biodiesel?
Carlos Eggers – Eu não vejo necessariamente uma relação de concorrência entre os modelos brasileiro e argentino. Os dois países são muito competitivos internacionalmente, mas também é preciso levar em conta que o mercado para energias renováveis está crescendo, especialmente num momento em que vemos muitos países adotando metas de aumento das fontes renováveis em suas matrizes. Então, teremos espaço para o crescimento dos dois. 

A Basf vê sinergias entre Brasil e Argentina para a criação de uma indústria regional?
Carlos Eggers – Essa é uma oportunidade. No ano passado, o Brasil foi o terceiro maior produtor do mundo e a Argentina, o quarto. Não tenho dúvidas de que serão os maiores, dentro de mais alguns anos. Como região produtora, a América do Sul só é superada pela Europa. Você vê que os governos estão implementando misturas obrigatórias, incentivando grandes investimentos no setor e querendo substituir a importação de diesel fóssil. Eles também querem encontrar novas alternativas de uso para sua produção de oleaginosas. 

Na opinião de vocês, há algum motivo para que a indústria brasileira continue falhando em entrar no mercado internacional? 
Carlos Eggers - Acho que [o motivo] foi a própria lei que criou o programa do biodiesel. Embora a implementação seja um caso de sucesso, ela não tinha foco nas exportações. Não que isso impeça a indústria nacional, mas se o modelo é instalar as usinas a 2 ou 3 mil quilômetros dos portos, fica muito mais complicado. Entre os produtores que estão mais perto dos portos, há gente preparada para entrar no mercado externo e, caso esta seja uma opção válida, isso vai acontecer.

Quais os principais desafios que o Brasil ainda deve superar para consolidar seu programa do biodiesel?
Carlos Eggers – É conveniente destacar que o balanço desses três anos é muito positivo. Dito isto, eu concordo que precisamos pensar o que mais podemos fazer para tornar essa atividade mais bem-sucedida. O biodiesel brasileiro tem vários desafios a serem vencidos, a começar pelo desenvolvimento de matérias-primas alternativas. O país tem potencial para o plantio de oleaginosas, incluindo espécies não comestíveis que poderiam colaborar para diminuir a polêmica sobre os recursos que estão sendo destinados à produção de biocombustíveis. Integrar a produção de biodiesel com a de etanol também é uma oportunidade. O Brasil é a nação mais competitiva do mundo em etanol e é altamente reconhecido por isso. 

Antes o senhor ressaltou a velocidade com que o Brasil chegou ao B5, mas isso também significa que a indústria esgotou seu espaço de crescimento até a aprovação de um novo marco regulatório. Como a Basf tem acompanhado essa questão?
Carlos Eggers – Não temos dúvidas de que os produtores e as autoridades vão criar ações para o setor da mesma forma que aconteceu no caso dos aumentos da mistura. O fato de o Brasil ainda ser importador de diesel, o potencial de geração de empregos e a alta competitividade, tudo isso cria bases muito boas para que produtores e as autoridades continuem agindo de forma conjunta para implementar novas medidas para o biodiesel. Já tem gente falando em B7 e no uso de B20 em frotas de transporte público. Com um pouco de capacidade de trabalho e criatividade, tem muita coisa que pode ser feita para trazer mudanças positivas.

Como a Basf vem acompanhando a produção científica e tecnológica brasileira na área de biodiesel? 
Carlos Eggers – Inovação é um dos pontos fortes da Basf. Estamos profundamente envolvidos com a cadeia de produção do biodiesel, especialmente com a produção de óleos vegetais. Temos uma plataforma de insumos agrícolas de alta tecnologia que tem dado uma série de contribuições para a produtividade dos agricultores brasileiros e sul-americanos. No caso específico da produção de metilato, as fábricas que estamos construindo no Brasil e na Argentina possuem uma tecnologia inovadora. 

Qual é a diferença da tecnologia de fabricação de metilato da Basf para a dos concorrentes?
Carlos Eggers – Por se tratar de uma tecnologia que queremos proteger, não podemos entrar em detalhe sobre o assunto, mas posso dizer que ela tem grandes vantagens em relação às que estão em uso. Ela foi desenvolvida em nossa matriz na Alemanha, mas a implementação da primeira unidade está sendo feita aqui no Brasil.

E a Basf pensa em novos investimentos focados no segmento biodiesel?
Carlos Eggers – Aqui na região, a Basf tem o setor agrícola como um de seus core businesses. Por isso, o setor agrícola do biodiesel tem recebido muita atenção e recursos de nossa parte. 

Fábio Rodrigues - BiodieselBR.com