PUBLICIDADE
wide_generico wide_generico
Bio

Cresce polêmica sobre o ciclo de vida do biodiesel


BiodieselBR.com - 18 out 2011 - 08:27 - Última atualização em: 09 nov 2011 - 19:18

Um grupo de quase 150 cientistas e economistas especializados em áreas de estudos relacionadas ao clima, energia e agricultura assinaram uma carta para a Comissão Européia demandando que as políticas de biocombustíveis da União Européia passem a levar em conta o conceito de Modificação Indireta no Uso da Terra (ILUC, na sigla em inglês) na hora de contabilizar as emissões de gases do efeito estufa (GEE) desses combustíveis.

Em 2008, os países da UE adotaram a meta de chegar a 2020 usando 10% de combustíveis renováveis no setor de transportes. O que está em discussão no momento é quanto essa substituição realmente vai diminuir as emissões de gás carbônico.

Segundo o documento assinando pelos cientistas para que uma política de redução dos GEEs realmente surta feito é fundamental incluir todas as fontes relevantes de emissões. O estudo aponta que várias pesquisas publicadas nos últimos anos “indicam que os biocombustíveis convencionais podem, direta ou indiretamente, resultar em emissões substanciais de GEEs por meio da conversão de florestas e campos em plantações e pastagens para acomodar a produção de biocombustíveis”. O texto também sinaliza que a demanda criada pelos biocombustíveis eleva o preço das commodities globais, o que pode incentivar mais desmatamento em países em desenvolvimento.

O problema com isso é que os ecossistemas naturais fixam quantidades significativas de gás carbônico que acaba indo parar na atmosfera quando eles são substituídos por lavouras. Segundo os signatários, essa fonte de emissões não tem sido devidamente contabilizada nas análises de ciclo de vida dos biocombustíveis. “Todos os estudos sobre modificação do uso da terra indicam que as emissões relacionadas à expansão dos biocombustíveis são significativos e podem ser enormes”, afirma a carta. Ela também diz que se não levar em conta o ILUC, todo o esforço feito pelos países da UE para a adoção de energia renovável no setor de transportes poderá “falhar em oferecer reduções de carbono genuínas”. “Tudo isso poderá acabar como um mero exercício teórico que promove o desflorestamento generalizado e o aumento nos preços da comida”, sentencia o documento.

Impor barreiras de emissão de CO2 para os biocombustíveis de primeira geração vem sendo vista como uma forma de acelerar o amadurecimento das tecnologias de segunda geração. Hoje essas alternativas ainda são excessivamente caras para o mercado.

Intitulada “Declaração internacional de cientistas e economistas sobre biocombustíveis e uso da terra”, a carta é assinada por nomes importantews como: o especialista em energia renovável do Banco Muncial, Daniel Kammen, e o vencedor Nobel de Economia e professor da Universidade de Stanford, Kenneth Arrow.

A opinião dos produtores
Os produtores europeus de biocombustíveis tem criticado bastante os fundamentos científicos por trás do conceito do ILUC. Uma carta assinada por produtores de etanol afirma que os modelos usados para calcular os efeitos do ILUC não são “robustos o bastante para servirem de base à políticas”.

Em 07 de outubro, a Associação Européia do Biodiesel (EBB, na sigla original) publicou dois estudos sobre o tema nos quais afirma que o ILUC ainda não está cientificamente provado e aponta falhas na metodologia de uma pesquisa do International Food Policy Research Institute (IFPRI). “A demonstração de uma correlação entre a expansão das áreas agrícolas, por exemplo, não foi estatisticamente significante”, criticam os autores do estudo da EBB.

O secretário geral da EBB, Raffaello Garofalo, apontou que impor novas exigências poderá levar a um aumento nas importações de biocombustíveis para abastecer o mercado Europeu e que o produto poderá passar a ser produzido em regiões com padrões ambientais mais baixos. “Um dos paradoxos hipotéticos que a adoção de uma penalidade legal para o ILUC seria que o biodiesel de óleo de palma seria a alternativa mais barata e pratica”, ironiza. A EBB aponta que o óleo de palma é produzido em países como a Indonésia e a Malásia que possuem graves problemas de desmatamento. “Se isso se tornar o resultado de normas concebidas para assegurar a sustentabilidade ambiental, então, claramente tem algo errado”, alerta.

Mais informações
Declaração internacional de cientistas e economistas sobre biocombustíveis e uso da terra (.PDF em inglês)

Posição do EBB (.DOC em inglês)

Fábio Rodrigues - BiodieselBR.com