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Os planos da Bionasa e o mercado de biodiesel


. - 04 jul 2011 - 08:56 - Última atualização em: 09 nov 2011 - 19:17

Até pouco tempo atrás, o empresário Francisco Barreto, sócio do Grupo Jaraguá Participações, só pensava em charutos, cigarrilhas de alto padrão para exportação e em produtos que pudessem adoçar o cafezinho nosso de cada dia. Porém, bastou o governo anunciar, em 2005, as diretrizes do Programa Nacional de Produção e Uso do Biodiesel (PNPB) para o instinto empresarial de Barreto aguçar. “Está aí um mercado em ascensão”, pensou. Não deu outra: a Jaraguá iniciou uma fase de diversificação nos negócios e entrou com força – e com R$ 430 milhões – no mercado do biodiesel. Em maio, inaugurou sua primeira fábrica, a Bionasa, em Porangatu, no norte de Goiás, com a pompa de ser a quinta maior indústria nacional do ramo e capacidade para injetar no mercado 235 milhões de litros do biocombustível, derivado de soja, sebo de boi, algodão e girassol, nesta ordem. “A demanda existe, é grande e vai crescer mais”, diz o executivo, tão confiante no setor que, no mesmo dia da abertura da Bionasa, anunciou a Onasa, unidade esmagadora de oleaginosas, vizinha à primeira.

O plano de investimentos da Jaraguá é de longo prazo e pode assustar quem está por fora desse mercado. Só com a Bionasa, a estimativa é faturar R$ 600 milhões em 2012 e R$ 900 milhões em 2013. Em 2014, quando a Onasa já estiver pronta, o faturamento esperado é de R$ 1,5 bilhão. As duas unidades já foram construídas no conceito de greenfield, para ser ampliadas rapidamente quando necessário. “Penso nisso, mas vamos deixar esse assunto para depois da Onasa”, afirma Barreto. O que o empresário quis dizer, mas não disse, é que ele já traça planos para investir na indústria oleoquímica (leia-se produzir glicerina, ácidos graxos e bases para plásticos biodegradáveis em escala industrial). Nesse caso, o mercado chinês seria cliente preferencial. “Não é maluquice de empresário, é a realidade de um mercado em expansão”, avalia Odacir Klein, presidente executivo da União Brasileira do Biodiesel (Ubrabio).


"Já existe uma demanda pelo biocombustível, ela é grande e vai crescer muito mais. Estamos investindo pensando no futuro" - Francisco Barreto, presidente da Bionasa

Segundo Klein, nos últimos cinco anos, o setor de biodiesel recebeu R$ 4 bilhões de investimentos. Até 2020, estima-se mais R$ 7,5 bilhões. “Os aportes dispararam em decorrência dos contratos de compra estabelecidos pelos leilões públicos da Agência Nacional de Petróleo (ANP)”, afirma. “Dos 85 mil metros cúbicos produzidos em 2005, saltamos para 6 milhões de litros em 2011. O setor cresceu de tal forma que hoje já seria possível atender a uma demanda de B10”, diz Klein, referindo-se à mistura de 10% de biodiesel ao óleo diesel convencional. Hoje, o máximo permitido pela ANP é de 5%. “As compras do governo dão garantia ao setor e mantêm a demanda aquecida”, explica Barreto. Da produção da Bionasa, pelo menos 47% irá para os leilões.

Um novo marco regulatório para o biodiesel é o que está faltando para que o setor bata a meta desses R$ 7,5 bilhões. Cléber Lima Guarany, consultor da Fundação Getúlio Vargas (FGV) e coordenador do estudo O biodiesel e sua contribuição ao desenvolvimento brasileiro, afirma que já seria possível até mesmo sinalizar o B20 no Brasil para daqui a nove anos. “Capacidade produtiva nós já temos e as pesquisas acerca de novas matérias-primas, como a canola, o pinhão-manso e a palma, estão avançando. É uma questão de tempo o governo anunciar um novo marco regulatório”, diz Guarany. Segundo ele, o ideal seria a sinalização para proporções de 10%, 17% e 20% nos anos 2014, 2018 e 2020, respectivamente. “O Brasil pode pensar em metas mais ambiciosas com certeza.”


Nas bombas: hoje, a mistura de biodiesel ao diesel convencional no país é limitada a 5% pela ANP

O presidente executivo da Ubrabio diz que as discussões no governo estão esquentando, mas em banho-maria. “Edison Lobão (ministro de Minas e Energia) deixou bem claro que há uma grande disposição do governo em sinalizar novo marco regulatório para o biodiesel. Existe hoje um grupo interministerial avaliando o assunto e, até o final do mês, os ministros já terão subsídios para resolver a questão”, diz. “O que está segurando essa questão é o índice da inflação. Eles estão tendo esse cuidado para não ocorrer com o biodiesel o que vimos acontecer em abril com o etanol.” Para o executivo, a solução seria a flexibilização, possível de ser alterada conforme a produção e a demanda. “Nós, que enxergamos pelo lado do produtor rural e da indústria, sabemos que temos condições de atender à demanda. Mas eles têm mesmo de ter esse cuidado, por isso, defendemos um marco regulatório flexibilizado.” É a briga de sempre, que só mudou de endereço, e, enquanto isso, cada um segue acendendo seu charuto e anunciando investimentos.

Viviane Taguchi
Fonte: Globo Rural