Agrônomo formado e comentarista especializado em agricultura de diversos órgãos de imprensa, Xico Graziano, acrescentou uma visão de quem está de fora da cadeia produtiva do segmento na palestra “Uma análise externa sobre a inclusão social com o biodiesel”. Logo no começo de sua fala no Congresso Agribio ele explicou que se mantem atualizado sobre o assunto porque está sempre escrevendo e possui isenção, pois não é produtor de biodiesel, nem faz parte do governo.
Segundo ele, a tema central de hoje é a questão do desenvolvimento sustentável. “Pode demorar ainda, mas vamos ter que modificar todos os padrões de produção”, comentou. Ele acrescentou que as soluções não virão na velocidade necessária se deixarmos tudo por conta do mercado, o que, de acordo com Graziano, dá legitimidade para que o governo brasileiro atue estabelecendo políticas públicas para impulsionar a agenda do biodiesel e das demais energias renováveis. “Mas achar que só políticas públicas resolvem assuntos de economia também está errado. Os mercados existem e funcionam bem”, relativizou.
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Para o palestrante, caminhar sobre essa linha fina não é mesmo tarefa fácil, abrindo espaço para todo o tipo de críticas e falsas noções. Entre elas a de que seria errado que os agricultores familiares ganhassem mais dinheiro vendendo oleaginosas e emulando modelos que viriam da agricultura comercial. Ou que a dependência do biodiesel em relação à soja seria um desvio dos objetivos do programa. Segundo ele, existe a falsa impressão de que o plantio de soja é um negócio exclusivo de grandes produtores, o que ignora a produção das cooperativas de pequenos produtores rurais no sul do país. “Claro que existe uma frustração sobre a forma como o Sul se tornou o grande fornecedor do biodiesel, porque a expectativa inicial era que fosse o Nordeste”, comentou, reclamando da criação de expectativas irrealistas.
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Embora ressalte que a produção de bioenergia seja uma agenda do futuro e que o Brasil será um dos líderes dessa nova indústria global, Graziano apontou que existem complicações sobre como usar essa oportunidade como uma ferramenta para alavancar a inclusão das pequenas propriedades e assentamentos da reforma agrária. “Ninguém é contra a inclusão social. Ela é necessária, mas é complicado de fazer e criou certas confusões sobre a operacionalidade”, resumiu. Para então defender a necessidade de se manter separadas as ideologias políticas.
Movimentos sindicaisSua maior critica recaiu sobre a forma como o processo tem sido conduzido através dos movimentos sindicais. Para o palestrante essa mistura tem colocado o programa em terreno difícil ao abrir espaço para alguns agentes começassem a pedir “um aqui e outro ali”.
Mas ele também vê problemas em tratar agricultores muito diferentes pelas mesmas regras. Segundo Graziano é preciso reconhecer as diferenças entre lidar com os pequenos agricultores da Região Sul e os trabalhadores rurais de assentamentos no Nordeste e com o excesso de dependência do governo brasileiro em relação à Petrobras.
De acordo com o palestrante falta consistência nas estratégias políticas e aponta que parte dos problemas recentes vividos pela indústria do etanol foram criados por anos de subsídios à gasolina garantidos pelo próprio governo. “A Petrobras estava investido forte em etanol, mas agora está dando para trás porque a orientação mudou. Eu gostaria de ver o programa de biodiesel cada vez mais forte. Precisamos pensar grande nessa matéria e fazer com que a inclusão social não atrapalhe o processo produtivo”, disse. “Afinal, esse é um programa prioritário, ou não?”, arrematou.
Fábio Rodrigues - BiodieselBR.com