A experiência do Brasil com o álcool combustível
As primeiras experiências com a utilização do etanol em motores do ciclo Otto datam do início do século XX. Em 1912, alguns veículos foram movimentados, em caráter experimental. Em 1931, o Governo Brasileiro autorizou a utilização do álcool em mistura à gasolina, em proporções entre 2% e 5%, respeitada a disponibilidade regional do produto. Em 1961 esse intervalo de mistura foi elevado para de 5% a 10%. Atualmente, a mistura oscila em torno de 24%.
Sob o impacto do segundo choque do petróleo, o governo brasileiro fomentou a fabricação de carros movidos, exclusivamente, a álcool. Houve uma resposta rápida e positiva da sociedade, de maneira que, entre 1983 e 1988, esses veículos representaram, na média, mais de 90% dos veículos novos comercializados.
Entretanto, o ano de 1986 marcou o início da reviravolta. Inesperadamente, o mercado internacional assistiu a uma abrupta queda nos preços do petróleo, que saltou de uma média superior a US$ 27,00/barril em 1985, para menos de US$ 14,00/barril naquele ano. Manter os preços do álcool atraentes para o consumidor significaria sobretaxar o combustível fóssil, gerando recursos para subsidiar o renovável. Os impostos sobre a gasolina também eram utilizados para subsidiar o gás de cozinha e o óleo diesel, indispensável numa matriz de transporte em que mais de 65% das cargas eram movimentadas por caminhões.
Passada a crise, quando as vendas já davam sinais de recuperação (em 1992 e 1993 os veículos a álcool representaram uma média superior a 25% do total), nasceu um novo padrão tecnológico que veio colocar o carro a álcool definitivamente em segundo plano: os motores de até 1000 cilindradas. Como a relação de preços não era favorável ao álcool, a indústria automotiva concentrou os esforços de pesquisa numa geração de veículos a gasolina mais econômicos. Desse modo, em 1996 essa nova geração de veículos já representava 75% das vendas, enquanto a participação dos veículos a álcool despencou para menos de 1%.
Paralelamente a todo esse processo, ao tempo em que o setor sucroalcooleiro acumulava ganhos de produtividade, as cotações do petróleo reassumiram trajetória ascendente (flutuando na casa dos US$ 25,00/barril entre 2000 e 2002). Com esses preços mais elevados e uma maior carga tributária sobre o combustível fóssil, o álcool recuperou a sua atratividade, especialmente nas bombas das regiões produtoras. Isso motivou a indústria automotiva a investir no desenvolvimento de um novo padrão tecnológico, o “flex-fuel”. Esse novo padrão tecnológico entroniza o consumidor, que passa a decidir, soberanamente, sobre qual combustível deve abastecer seu carro, com base em considerações econômicas, ambientais e de desempenho do veículo.