PUBLICIDADE
CREMER2024 CREMER2024
analise

Meio ambiente e transporte do biodiesel


BiodieselBR.com - 09 jun 2010 - 15:49 - Última atualização em: 09 nov 2011 - 19:13

A preocupação com os problemas ambientais, que são inerentes a todos os processos de geração de energia, é cada vez maior e tende a direcionar medidas preventivas, a fim de se evitar gastos futuros com reparação de danos ambientais, perdas de solo, conflitos pelo uso da água, entre outros, que são muito mais caros e de consequências imprevisíveis. A agroenergia é um setor que não está isento de tais preocupações, embora ainda não haja consenso sobre o balanço completo do carbono e de outros elementos. Apesar disso, não há dúvida de que, mesmo em uma condição não ideal de produção agrícola, o biodiesel no Brasil apresenta ganhos ambientais em relação aos combustíveis derivados de petróleo (box 5). Neste aspecto, um desafio para a cadeia do biodiesel é a produção de matérias-primas em sistemas agrícolas não agressivos ambientalmente, além do controle na produção industrial. 

BOX 5
Biodiesel, meio ambiente e saúde

É certo que a mistura diesel/biodiesel reduz a emissão de poluentes como o enxofre e de gases de efeito estufa (GEE). Um problema a ser contornado é o aumento de 2% a 4%, do teor de nitratos (NOx), para o caso do B20. Para o biodiesel de soja, os benefícios ambientais foram quantificados em alguns estudos para o B100, com os seguintes percentuais de redução: 67% de hidrocarbonetos (HC); 48% de monóxido de carbono (CO); 78% de dióxido de carbono (CO2); 47% de material particulado; 100% de óxidos de enxofre (SOx). Vianna e Wehrmann (2007) destacam a baixa redução de emissões totais para os padrões de uso real como B5, em que a redução da emissão de CO2, principal GEE, é de 7%, e de 9,5% para o B20. São ainda preliminares os estudos relativos à cadeia completa dos biocombustíveis no que se refere a seus impactos ambientais, pois isso depende de casos concretos e da gestão dos empreendimentos. Para a realidade brasileira, o balanço ambiental e energético é positivo, em relação aos combustíveis fósseis. Uma preocupação é a destinação do excesso de glicerina, que ainda não é toda utilizada no mercado com o manejo do solo e da água na etapa de cultivo.


Junto à estrutura de produção, a infraestrutura, em suas diversas etapas, tem no biodiesel o duplo desafio de dar suporte ao mercado e responder satisfatoriamente aos riscos ambientais. Embora a origem renovável do biodiesel seja minimizadora de riscos, o sistema de transportes do biodiesel tem merecido destaque, por ocorrer em caminhões-tanque, principalmente. Essa questão foi abordada no Plano Nacional de Energia (BRASIL, 2009b) – ver resumo no box 6.

As figuras 2 e 3 destacam os sentidos dos fluxos dos derivados de petróleo, geralmente das zonas litorâneas para o interior do país, e do biodiesel de oleaginosas, que segue do interior para as grandes cidades concentradas no litoral ou próximas a ele. Nota-se também a localização predominante das indústrias no Centro – Sul do país. Ao se dimensionar os impactos ambientais causados pelo transporte do biodiesel, cabe lembrar que, caso o biodiesel não existisse, o fluxo de caminhões com a soja para exportação continuaria a existir, podendo ser ainda maior. Ao instalar usinas de biodiesel no interior, casos de Mato Grosso e de Goiás, pode-se até reduzir o consumo de diesel, caso o farelo seja aproveitado parcialmente nas regiões produtoras.7

O mesmo estudo considera os números pequenos: equivalem de 0,4% a 1,2% da frota atual de todo tipo de caminhões-tanque no país, cerca de 65.000 (BRASIL, 2009b). Para a EPE, não há necessidade de aumento do sistema de escoamento da produção, mas apenas sua reconstituição e análise caso a caso de aspectos logísticos já disponíveis no mercado. No caso da transferência interregional (para o Sudeste, 2,962 milhões de litros/dia, vindos do Nordeste ou Centro-Oeste), o transporte mais adequado é o ferroviário. Mesmo para o B5, o transporte não tem sido um gargalo.

FIGURA 2
Bases de distribuição de derivados de petróleo e fluxos no território nacional
Ipea 10

Fonte: Sindicato Nacional das Empresas Distribuidoras de Combustíveis e de Lubrificantes (Sindicom). Elaboração própria.


FIGURA 3
Localização das unidades produtoras de biodiesel e fluxos regionais estimados
Ipea 11

Fonte: Brasil (2009c), com adaptações dos autores.

Entre as preocupações ambientais em torno do biodiesel encontra-se a grande demanda por água, em todas as suas etapas de produção. Sem dúvida, esta é uma preocupação relevante. Pesquisas em andamento, apresentadas na Rede Brasileira de Tecnologia de Biodiesel, além de outras encomendadas pelos editais CNPq no 6/2009 em conjunto com oito fundações de amparo à pesquisa dos estados, são o caminho para dar respostas às questões ambientais do biodiesel. Os aspectos tecnológicos da cadeia seguem também este caminho com o apoio crescente às pesquisas e um maior interesse do setor privado. A fiscalização e o direcionamento do cultivo e de indústrias para regiões que comportem as atividades devem ser objeto de um Zoneamento Ecológico e Econômico (ZEE) do biodiesel e de arranjos produtivos locais (APLs), no sentido de desenvolver a cadeia sem afetar o meio ambiente.

A grande variedade de matérias-primas deve ser vista e desenvolvida no sentido de favorecer o balanço ambiental do biodiesel, também no local dos cultivos, em obediência à legislação ambiental. A não observância desta questão e a aposta apenas em monoculturas que impõem desequilíbrios ambientais significam perda de mercado, conforme impõe a União Europeia em suas normativas – que já afetam as exportações da Malásia –, ou mesmo conforme exigem positivamente grandes supermercados, atacadistas e outros, inclusive no Brasil. A destinação de recursos públicos sem a contrapartida ambiental na cadeia de produção não se justifica, inclusive por aumentar emissões de GEE ou de poluentes.

Referência
7. Para mais detalhes sobre linhas de pesquisa, temas e riscos do biodiesel, consultar o site da RBTB, disponível em: <www.biodiesel.gov.br/rede.html>

BOX 6
Transporte do biodiesel


O transporte do biodiesel no Brasil, utilizando diesel mineral, é uma preocupação em termos de sustentabilidade. Todas as distribuidoras de combustíveis estão conectadas por rodovias, exceto algumas na Amazônia, da mesma forma que as usinas de biodiesel. Como aborda a EPE (BRASIL, 2009b), caminhões-tanque deverão ser o principal meio de transporte do biodiesel, cuja rede de distribuição é apresentada nas figuras 2 e 3, que indicam as bases primárias e secundárias de distribuição de petróleo (figura 2) e a localização das usinas de biodiesel em operação (figura 3). Verifica-se a inversão dos fluxos entre um e outro local de suprimento de energia, o que não é um problema em si, apenas necessita de logística. A EPE estima o seguinte cenário da transferência regional do biodiesel, para 2008 e 2017:

2008 – O Centro-Oeste demandaria 27 caminhões tanque, de 30 m³, por dia; o Norte, 26; o Nordeste, 37; o Sul, 49 e o Sudeste, 115. No total, seriam necessários, no mínimo, 254 caminhões-tanque por dia.

2017 – O Centro-Oeste requererá 85 caminhões tanque por dia: o Norte, 68; o Nordeste, 116; o Sul, 155 e o Sudeste, 357. Serão necessários 781 caminhões tanque por dia, em 2017. (BRASIL, 2009b, p. 630).

Fonte: Ipea - Série Eixos do Desenvolvimento Brasileiro - Biocombustíveis no Brasil: Etanol e Biodiesel

Este estudo continua:


Tags: Ipea