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2010

Os desafios dos laboratórios de biodiesel


BiodieselBR.com - 22 mar 2010 - 16:00 - Última atualização em: 09 nov 2011 - 19:12

Enquanto a indústria do biodiesel se consolida, unidades de análise da qualidade buscam novas certificações e investem na ampliação de seu maquinário

No crescente mercado do biodiesel, muito se fala sobre quais são os desafios que as usinas brasileiras têm de enfrentar: variar as matérias-primas, atingir padrões de qualidade, dar oportunidade de crescimento a agricultores familiares, aumentar a produção, só para ficar em alguns. Mas e em outra parte igualmente importante do processo de produção de biodiesel – a certificação da qualidade do produto – quais são os desafios a serem superados neste momento?

A BiodieselBR entrevistou responsáveis por laboratórios de análise de combustíveis especializados em biodiesel e chegou à conclusão de quais seriam alguns dos pontos mais importantes enfrentados no atual mercado nacional:
- A compra de mais equipamentos
- A garantia da qualidade do trabalho dos laboratórios ligados às próprias usinas
- A certificação dos laboratórios no Inmetro

Primeiro, é preciso entender por que existem os laboratórios. Como todo combustível, o biodiesel precisa sair de fábrica já com certificado de qualidade emitido por laboratórios credenciados pela Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP). O documento, que precisa ser emitido a cada batelada produzida pela usina, traz em uma página o resultado de 22 análises de características do combustível, que vão desde a massa específica até o índice de iodo. Mas não é qualquer laboratório que está qualificado para realizar tais testes. A ANP credencia laboratórios só após realizar uma vistoria na qual verifica se o local tem equipamentos e processos de acordo com o que é estabelecido pelas normas técnicas aceitas pelo órgão.

 Análises exigidas pela ANP

1.    Massa específica a 20º C
2.    Viscosidade Cinemática a 40ºC
3.    Teor de Água máximo
4.    Contaminação Total máximo
5.    Ponto de fulgor mínimo
6.    Teor de éster mínimo
7.    Resíduo de carbono
8.    Cinzas sulfatadas máximo
9.    Enxofre total
10.  Sódio + Potássio
11.   Cálcio + Magnésio
12.  Fósforo
13.  Corrosividade ao cobre, 3h a 50 ºC máximo
14.  Número de Cetano
15.  Ponto de entupimento de filtro a frio
16.  Índice de acidez
17.  Glicerol livre
18.  Glicerol total
19.  Mono, di, triacilglicerol
20.  Metanol ou Etanol
21.  Índice de Iodo
22.  Estabilidade à oxidação a 110ºC


Apesar de nova, a indústria do biodiesel já promoveu uma saudável disputa de mercado entre os laboratórios especializados em análise de combustíveis. Como a ANP autorizou as próprias usinas a terem seus laboratórios de análise de qualidade, desde que credenciados na Agência, parte do movimento gerado pelo biodiesel em laboratórios independentes deixou de existir. “Houve uma queda significativa na demanda porque muitas usinas agora tem seus próprios laboratórios”, reconhece Elisa Maria Suchek, gerente da Divisão de Biocombustíveis do Instituto de Tecnologia do Paraná (Tecpar).

Isso criou um dos desafios atuais: os laboratórios independentes tentam evitar ficar sem trabalho. Para isso, investiram em novas certificações, como a do Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial (Inmetro). “A creditação do Inmetro garante que as análises são realizadas dentro do padrão internacional”, explica Carlos Yamamoto, coordenador do Laboratório de Análises de Combustíveis Automotivos (Lacaut), da Universidade Federal do Paraná (UFPR). Um certificado emitido por um laboratório creditado pelo Inmetro é um passo para uma usina de biodiesel tentar vender seu produto fora do país.

Outro desafio previsto pelos laboratórios independentes ouvidos pela BiodieselBR é a aquisição de equipamentos cujo custo torna sua manutenção em correspondentes menores inviável. É o caso do equipamento utilizado na determinação do número de cetano, que exige um investimento de, no mínimo, US$ 300 mil. “Isso é só o valor do equipamento. Tem também o custo de manutenção dele, que é alto”, conta Bill Jorge Costa, diretor técnico do Tecpar.

Segundo Costa, um outro equipamento chamado Ignition Quality Tester pode ser utilizado na obtenção do número de cetano do biodiesel e é mais barato que a máquina usada atualmente. “Mas o uso desse sistema ainda não foi homologado”, adianta. No Brasil, apenas o Lacaut, da UFPR e o ASG do Brasil estão habilitados para realizar esse ensaio. Mas o investimento alto só se justifica se o laboratório tiver outra utilidade para o equipamento além da análise do biodiesel. “A gente tem porque faz pesquisa em cima nisso”, explica Yamamoto.

Na ASG, a explicação para a realização do teste de cetano é outra. A empresa, explica o químico responsável Alexandre Benedito Nicolini, tem sede na Alemanha. Lá, todas as bateladas passam por todos os testes, o que torna a compra de equipamentos mais caros uma necessidade. “Mandamos as amostras daqui para lá e temos os resultados em uma semana”, conta Nicolini.

Prazos
Outro desafio constante nessa indústria é a rapidez. A elaboração de Certificados de Qualidade do biodiesel é um trabalho ágil. Da entrada da amostra no laboratório até a emissão dos resultados são de dois a dez dias de prazo. No Tecpar a análise completa é realizada em até três dias. O laboratório recebe das próprias usinas amostras de três litros do lote de combustível a ser analisado. “Temos capacidade de processar até dez amostras por dia”, informa Elisa Maria Suchek. O custo da análise completa gira em torno de R$ 2.500,00.

A ANP determina que cada batelada produzida pelas usinas seja submetida às análises de qualidade. Além da Agência, empresas distribuidoras de combustível também exigem o documento na entrega do biodiesel. “Há também usinas que querem acompanhar a qualidade do material produzido. Na maioria dos casos elas nem realizam a análise completa. Só cromatografia, para saber se o processo foi completo”, explica Elisa.

Os laboratórios como o do Tecpar também são procurados por distribuidoras, cooperativas e outros usuários de biodiesel que querem uma análise independente da qualidade do combustível. “É uma situação curiosa com o biodiesel porque a ANP permitiu que as próprias usinas pudessem emitir seus certificados de qualidade. Nós entendemos que, se você produz, não pode certificar seu próprio produto”, aponta.

Na Granol, que possui laboratórios próprios, os resultados são certificados por uma rede de laboratórios.  “Participamos de Interlaboratoriais que convalidam permanentemente a assertividade dos nossos resultados”, explica José Mauro, da Granol. Para Mauro, a principal vantagem de ter um laboratório próprio é poder acompanhar de perto o processo produtivo. “[Ele garante uma] resposta mais rápida na tomada de decisões, garantia de atendimento a especificação antes de enviar a tanque de embarque e menor reprocesso. A redução nos custo total também ocorre ao longo do tempo amortizando o investimento”.

A Granol está credenciada na ANP para realizar todas as 22 análises de qualidade do biodiesel. No entanto, não são todas as usinas que possuem essa estrutura. “Quem não tem todas as análises credenciadas, terceiriza”, conta Yamamoto. É o caso do próprio laboratório da UFPR, que está credenciado para 19 análises. “Pedimos credenciamento para 21, mas dois processos foram aprovados e não apareceram na lista. Estamos pedindo para a ANP rever isso”, explica.

Outros dois testes deverão ser habilitados pelo Lacaut em breve. “A análise de enxofre vai ser viabilizada provavelmente ainda nesse primeiro semestre. No segundo semestre queremos implantar a análise do fósforo”, adianta.

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Rosiane Correia de Freitas de Curitiba - BiodieselBR.com