Exclusivo: BiodieselBR tem acesso ao custo da Petrobras com o releilão
A Petrobras é hoje peça fundamental do setor de biodiesel. Não pela produção de biodiesel vinda da sua subsidiária, mas pela atuação da estatal na comercialização desse biocombustível. Desde o começo do programa ela tem atuado como uma intermediária no comércio de biodiesel fazendo a ligação entre as usinas e as distribuidoras.
Para as usinas essa intermediação é importante por que traz segurança na hora de receber pelo biodiesel vendido. Já as distribuidoras podem contar a Petrobras para fornecer o biodiesel caso haja algum problema com a usina. É bom para esses dois lados.
A situação só não é perfeita por que a Petrobras cobra um valor para fazer essa intermediação e ressalta a mais evidente ineficiência do PNPB. A última edição da revista BiodieselBR mostrou que esse volume financeiro já pode ter ultrapassado a marca de um bilhão de reais desde 2008. Nos leilões com entrega em 2011 esse custo ficou próximo de R$ 0,15 por litro de biodiesel. Esse valor acaba sendo repassado aos consumidores, forçando um aumento no preço do diesel na bomba.
Por estar diretamente ligado ao preço final do diesel, o ágio cobrado pela Petrobras sempre gerou incômodo no setor. É difícil encontrar alguém que considere esse valor de 15 centavos por litro justo. Até mesmo dentro do governo esses valores incomodam algumas pessoas e a Petrobras foi chamada para apresentar suas explicações.
Os valores apresentados pela Petrobras foram obtidos com exclusividade pela BiodieselBR. Veja na tabela abaixo os valores da estatal para o releilão do último trimestre de 2011:
Formação do preço de partida Leilão de Biodiesel - 4º trimestre de 2011 |
|
Itens |
Custos/receitas |
Armazenagem |
R$ 6.017.490,00 |
Cabotagem |
R$ 1.400.000,00 |
Transporte Coleta UPB's |
R$ 17.299.880,47 |
Transporte Suprimento BD's |
R$ 4.834.766,81 |
Inspeção em UPBs e Terminais |
R$ 4.303.466,40 |
Operação Br em Bds |
R$ 1.708.439,60 |
Custo financeiro de carregamento de estoque |
R$ 12.310.836,00 |
Perda do Valor do estoque |
R$ 0 |
Perdas com Leilão de estoque |
R$ 0 |
Custo de materiais e serviços |
R$ 3.749.686,40 |
Custo com pessoal |
R$ 1.870.645,72 |
Receita de ágio excedente do |
R$ 0 |
Resultado planejado |
R$ 53.495.211,40 |
Volume comercializado (M³) |
620.000 |
Custo por metro cúbico (R$/m³) |
R$ 86,28 |
Preço partida para o leilão (R$/m³) |
R$ 2.391,68 |
Olhando a tabela vemos que a Petrobras concluiu que precisava cobrar R$ 86,28 por metro cúbico de biodiesel vendido no releilão e que sua intenção era vender 620 milhões de litros, faturando quase R$ 53,5 milhões de reais com a operação. O resultado real desse leilão foi uma venda de 609 milhões de litros, com um ágio por metro cúbico de pouco mais de 16 centavos, e um faturamento total de mais de R$ 106 milhões.
Ou seja, mesmo que os números apresentados pela Petrobras ao governo estejam corretos, a estatal acabou faturando o dobro do esperado e teve um lucro de mais de 50 milhões no último trimestre de 2011, somente com o intermédio dessa negociação. Um lucro de quase 100% sobre o custo apresentado.
Contudo acreditar nesses números da própria estatal é uma prova de fé. É difícil acreditar que o custo trimestral com pessoal é realmente de quase 2 milhões de reais. Se houver 15 pessoas trabalhando exclusivamente com os releilões, cada uma estaria recebendo R$ 41.569,90 por mês. A mesma dificuldade é encontrada ao analisar os outros números apresentados.
Considerando que esses são os números reais, porque a Petrobras está ficando com valores entre 50% e 100% maiores que seus custos? É papel de quem organiza os leilões cobrar a estatal para que os valores recebidos acima desses cálculos não fiquem com ela. Ou, no máximo, que tenha um pequeno lucro, para que o negócio possa ser justificado em uma prestação de contas. Os valores acima do custo deveriam ser devolvidos proporcionalmente para as distribuidoras, ajudando a diminuir o impacto do biodiesel no preço do diesel.
Esta deve ser a primeira etapa. Enquanto isso, o setor pode analisar esses números apresentados pela Petrobras e verificar se são valores razoáveis.
Em tempo. A Petrobras foi questionada sobre esses números e disse que não se manifesta sobre os releilões. Com esses números apresentados, não é difícil entender porque a ela prefere ficar em silêncio.
Miguel Angelo Vedana é diretor-executivo da BiodieselBR e faz parte do conselho editorial da revista BiodieselBR.