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Exclusivo: BiodieselBR tem acesso ao custo da Petrobras com o releilão


Miguel Angelo Vedana - BiodieselBR - 18 jan 2012 - 16:00 - Última atualização em: 07 mar 2012 - 18:41

A Petrobras é hoje peça fundamental do setor de biodiesel. Não pela produção de biodiesel vinda da sua subsidiária, mas pela atuação da estatal na comercialização desse biocombustível. Desde o começo do programa ela tem atuado como uma intermediária no comércio de biodiesel fazendo a ligação entre as usinas e as distribuidoras.

Para as usinas essa intermediação é importante por que traz segurança na hora de receber pelo biodiesel vendido. Já as distribuidoras podem contar a Petrobras para fornecer o biodiesel caso haja algum problema com a usina. É bom para esses dois lados.

A situação só não é perfeita por que a Petrobras cobra um valor para fazer essa intermediação e ressalta a mais evidente ineficiência do PNPB. A última edição da revista BiodieselBR mostrou que esse volume financeiro já pode ter ultrapassado a marca de um bilhão de reais desde 2008. Nos leilões com entrega em 2011 esse custo ficou próximo de R$ 0,15 por litro de biodiesel. Esse valor acaba sendo repassado aos consumidores, forçando um aumento no preço do diesel na bomba.

Por estar diretamente ligado ao preço final do diesel, o ágio cobrado pela Petrobras sempre gerou incômodo no setor. É difícil encontrar alguém que considere esse valor de 15 centavos por litro justo. Até mesmo dentro do governo esses valores incomodam algumas pessoas e a Petrobras foi chamada para apresentar suas explicações.

Os valores apresentados pela Petrobras foram obtidos com exclusividade pela BiodieselBR. Veja na tabela abaixo os valores da estatal para o releilão do último trimestre de 2011:

Formação do preço de partida Leilão de Biodiesel - 4º trimestre de 2011

Itens

Custos/receitas

Armazenagem

 R$ 6.017.490,00

Cabotagem

 R$ 1.400.000,00

Transporte Coleta UPB's

 R$ 17.299.880,47

Transporte Suprimento BD's

 R$ 4.834.766,81

Inspeção em UPBs e Terminais

 R$ 4.303.466,40

Operação Br em Bds

 R$ 1.708.439,60

Custo financeiro de carregamento de estoque

 R$ 12.310.836,00

Perda do Valor do estoque
(aproximadamente 50.000 m³)

 R$ 0

Perdas com Leilão de estoque
2º trimestre de 2011

 R$ 0

Custo de materiais e serviços

 R$ 3.749.686,40

Custo com pessoal

 R$ 1.870.645,72

Receita de ágio excedente do
leilão 1º trimestre - Previsão (90%)

 R$ 0

Resultado planejado

 R$ 53.495.211,40

   

Volume comercializado (M³)

620.000

Custo por metro cúbico (R$/m³)

 R$ 86,28

   

Preço partida para o leilão (R$/m³)

 R$ 2.391,68


Olhando a tabela vemos que a Petrobras concluiu que precisava cobrar R$ 86,28 por metro cúbico de biodiesel vendido no releilão e que sua intenção era vender 620 milhões de litros, faturando quase R$ 53,5 milhões de reais com a operação. O resultado real desse leilão foi uma venda de 609 milhões de litros, com um ágio por metro cúbico de pouco mais de 16 centavos, e um faturamento total de mais de R$ 106 milhões.

Ou seja, mesmo que os números apresentados pela Petrobras ao governo estejam corretos, a estatal acabou faturando o dobro do esperado e teve um lucro de mais de 50 milhões no último trimestre de 2011, somente com o intermédio dessa negociação. Um lucro de quase 100% sobre o custo apresentado.

Contudo acreditar nesses números da própria estatal é uma prova de fé. É difícil acreditar que o custo trimestral com pessoal é realmente de quase 2 milhões de reais. Se houver 15 pessoas trabalhando exclusivamente com os releilões, cada uma estaria recebendo R$ 41.569,90 por mês. A mesma dificuldade é encontrada ao analisar os outros números apresentados.

Considerando que esses são os números reais, porque a Petrobras está ficando com valores entre 50% e 100% maiores que seus custos? É papel de quem organiza os leilões cobrar a estatal para que os valores recebidos acima desses cálculos não fiquem com ela. Ou, no máximo, que tenha um pequeno lucro, para que o negócio possa ser justificado em uma prestação de contas. Os valores acima do custo deveriam ser devolvidos proporcionalmente para as distribuidoras, ajudando a diminuir o impacto do biodiesel no preço do diesel.

Esta deve ser a primeira etapa. Enquanto isso, o setor pode analisar esses números apresentados pela Petrobras e verificar se são valores razoáveis.
Em tempo. A Petrobras foi questionada sobre esses números e disse que não se manifesta sobre os releilões. Com esses números apresentados, não é difícil entender porque a ela prefere ficar em silêncio.

Miguel Angelo Vedana é diretor-executivo da BiodieselBR e faz parte do conselho editorial da revista BiodieselBR.