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Energia

Grupo Bertin faz reestruturação e prepara ida à bolsa


Valor Econômico - 03 jul 2007 - 09:07 - Última atualização em: 09 nov 2011 - 19:23

No fim de 2005, o grupo Bertin decidiu que precisava ter um curtume na China. Enfrentando uma concorrência acirrada com os próprios chineses, só conseguia exportar couro do tipo wet blue para aquele país e não encontrava espaço para os couros semi-acabados e acabados, de maior valor, produzidos em seus curtumes aqui no Brasil. Não hesitou. Fez um joint venture - a Wonder Best Holding Co - com um sócio chinês, e construiu uma fábrica para processamento de couros semi-acabados e acabados na província de Guandong, que entrou em operação no início de 2007 e deve faturar US$ 40 milhões este ano.

O episódio, que marca a internacionalização da área de couros do Bertin, dá uma idéia da importância da verticalização na estratégia do grupo e também da sua forma discreta de atuar. Discreta a ponto de, no recente "boom" dos frigoríficos de carne bovina - com abertura de capital e aquisições - alguns analistas do setor considerarem que a atuação do Bertin é tímida.

O diretor-financeiro do grupo, Douglas de Oliveira, discorda da análise. Segundo ele, o Bertin passa por mudanças atualmente que permitirão à empresa ir para o mercado "muito mais preparada".

Em maio de 2006, o Bertin contratou uma consultoria em governança corporativa e este ano começou a preparar a reestruturação societária do grupo, que atua em agroindústria, infra-estrutura e energia. "O objetivo da reestruturação é a simplificação, a transparência", diz Oliveira, que está na empresa desde 2002, depois de passar por Bunge e Coopersucar.

Hoje, o grupo é formado por mais 30 empresas nas diferentes áreas de atuação, e na reesturação desenhada passaria a ter uma holding, dentro da qual ficariam três "sub-holdings": agroindústria, infra-estrutura e energia. Em agroindústria, seriam incluídos alimentos, couro, higiene e beleza, equipamentos de proteção individual e dog toy (para cães). Em infra-estrutura entrariam construção, rodovias e saneamento e em energia, biodiesel, pequenas centrais hidrelétricas (PCHs) e álcool.

O grupo também passa por uma reestruturação operacional desde novembro passado, o que o diretor-financeiro chama de "varredura do processo" para melhorar a rentabilidade. A expectativa de Oliveira é de que em seis meses os ajustes estejam finalizados, abrindo o caminho para lançar ações na Bovespa entre o fim deste ano e o primeiro semestre de 2008.

De acordo com o executivo, ainda não está definido qual das sub-holdings teria ações lançadas no mercado. De qualquer forma, o que o Bertin vai "vender" ao mercado é seu diferencial em relação às outras empresas do setor de carnes, como Friboi e Marfrig, que foram à bolsa este ano.

Diferencial que, diz Oliveira, está na verticalização, que permite "mitigar riscos", na lucratividade da empresa e nos investimentos em projetos sustentáveis, como o que aguarda financiamento de US$ 90 milhões do International Finance Corporation (IFC), para expansão das operações em Marabá (PA).

Um exemplo de como a verticalização pode mitigar riscos, afirma o diretor-financeiro, é que o episódio da febre aftosa em outubro de 2005, que ainda impede o Bertin de exportar carne bovina in natura de São Paulo e do Mato Grosso do Sul, significou um impacto de 12% no faturamento do grupo. Teria sido pior, avalia Oliveira, não fosse a verticalização que aproveita quase todos os subprodutos do abate dos animais, desde o couro até o biodiesel de sebo bovino.

"O mercado veio para ficar, a liquidez é alta, não estamos vivendo uma bolha e há mercado para todos", afirma o diretor, amenizando a importância do pioneirismo na abertura de capital.

A diversificação é outro caminho que o Bertin escolheu, com a entrada em infra-estrutura e em energia. "A decisão estratégica de diversificação foi acertada", diz o diretor-financeiro. O grupo hoje tem a concessão das rodovias Colinas, Univias e MG 50 e espera vencer novas licitações. Atua ainda em saneamento, com a Águas de Guariroba, no Mato Grosso do Sul.

Em agosto, a empresa deve começar a operar sua unidade de biodiesel de sebo bovino, em Lins. Ainda em energia, a empresa constrói duas PCHs, tem uma operando e três projetos à espera de aprovação do Ibama. O Bertin também decidiu investir em usina de etanol, em parceria com a JB Agropecuária. A unidade será construída em Dourados (MS).

Tags: Bertin