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Biodiesel

Abastecer veículos com óleo de soja chama atenção do Tecpar


Folha de Londrina - 27 mar 2006 - 07:04 - Última atualização em: 09 nov 2011 - 19:22

A prática cada vez maior entre os agricultores do Paraná de abastecer veículos - tratores, colheitadeiras e até caminhonetes - com óleo de soja misturado ao diesel despertou a atenção do Instituto de Tecnologia do Paraná (Tecpar) devido ao número de consultas que passou a receber sobre os efeitos do produto vegetal no desempenho e durabilidade do motor.

O químico Bill Jorge Costa, da Divisão de Biocombustíveis do Tecpar, recomenda cautela, já que a combinação dos óleos combustíveis pode provocar de entupimento de bico a travamento do motor. Mas, ressalva, "não há resultados comprovados sobre o comportamento do motor a médio prazo".

A alta dos combustíveis e a queda do preço da principal commodity brasileira, a soja, está reativando o projeto de Rudolf Diesel (1858-1913), o inventor do motor que leva seu nome e que foi acionado pela primeira vez em 1893 com óleo de amendoim: produtores rurais de vários Estados estão misturando óleo de soja com o óleo diesel, em proporção que varia de 30% a 50%, para movimentar tratores, máquinas e até suas caminhonetes. Em alguns casos, não há mistura - utiliza-se apenas o óleo de soja.

Diesel defendia a utilização de óleos vegetais em sua engenhoca para ajudar "no desenvolvimento agrário dos países que o utilizarem". O invento de Diesel se disseminou, mas seu desejo foi contrariado pelo desenvolvimento do óleo diesel (derivado de petróleo), utilizado desde então para movimentar sua invenção. O biodiesel, composto sugerido pelo governo brasileiro, atende parcialmente ao desejo do inventor do motor, por prever a adição de 2% de óleo vegetal ao óleo diesel.

A Cooperativa Agroindustrial de Maringá (Cocamar) notou o surgimento desta tendência no final do ano passado, quando um número cada vez maior de cooperados passou a adquirir latas de 18 litros ou tambores de 200. Desde então, a cooperativa comercializou cerca de 100 mil litros do produto, a R$ 1,29 o litro. O litro do óleo diesel é vendido na região de Maringá entre R$ 1,76 e R$ 1,92. "Só com um trator e uma colheitadeira, vou economizar quase R$ 100 por dia com combustível", calcula o agricultor Leonardo Chavenco Neto, de Maringá.

João Luiz Ryzik, produtor no município de Floresta, estima que a economia, para quem combine metade de óleo de soja com metade de óleo diesel, é de 40%. A prática é adotada também por agricultores de Mato Grosso do Sul, São Paulo e Goiás.

O superintendente da Cocamar, Celso Carlos dos Santos Júnior, disse lamentar a utilização do óleo de soja como combustível, já que o produto é o derivado mais nobre da oleaginosa, mas essa prática, segundo ele, comprova as dificuldades pelas quais os sojicultores estão passando.

Em março de 2004 a soja era comercializada a R$ 54 a saca e hoje, a R$ 23. "O diesel", comparou, "é um produto subsidiado, que não demanda tanta tecnologia no processo de produção como a soja e, mesmo assim, o óleo comestível consegue ser muito mais barato". Esta desproporção, segundo ele, "é uma aberração".

Tags: Tecpar