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Petrobras empregará mais de 70 mil famílias na produção de biodiesel


Folha Online - 25 jul 2007 - 08:27 - Última atualização em: 09 nov 2011 - 19:23

Natal - A produção de biodiesel pela Petrobras, que começará comercialmente a partir do ano que vem, deverá empregar mais de 70 mil famílias de agricultores que serão responsáveis por fornecer mamona, girassol, amendoim, algodão, dendê e outras oleaginosas. Por lei, a empresa é obrigada a comprar de 10% a 50% dos grãos da agricultura familiar, dependendo da região, para ter isenção de impostos como PIS e Cofins.

A estimativa é de que sejam necessários 315 mil hectares de área plantada para a produção das cinco usinas que a estatal pretende operar já no próximo ano. Só na região de Guamaré (RN), onde a empresa tem duas unidades experimentais de produção de biodiesel, cerca de 4 mil famílias deverão trabalhar no cultivo dos grãos.

No município de João Câmara (RN) a cerca de 120 quilômetros de Natal e 60 quilômetros das usinas, 148 famílias já trabalham em parceria com a Petrobras. No meio do semi-árido nordestino, elas colherão neste ano, pela primeira vez, sementes de girassol que serão usadas para fazer o combustível.
Divulgação

Agricultores em assentamento que planta girassol no Rio Grande do Norte

Os agricultores são antigos sem-terra que estão assentados ali há 13 anos. Moram em casas rústicas, mas todas com cisternas que foram instaladas em janeiro para guardar a água da chuva. Quase todas as casas têm também antenas parabólicas, compradas a crédito, única forma de captar o sinal da televisão.

Antes do Girassol, só o sorgo sobreviveu à falta de chuva na região. O grão era usado para alimentar os animais e vendido para mercados da região. Os agricultores tentavam plantar milho, arroz e feijão para a subsistência, mas só conseguiam colher uma em cada dez safras.

Depois de mais de uma década no lugar, é a primeira vez que o agricultor Francisco de Assis planta girassol. Ele juntou sete hectares da sua propriedade com outros sete do vizinho e plantou a flor que dará óleo. Até agora, não viu ainda o dinheiro da produção, já que a colheita é só em agosto. Mas está confiante de que, com o girassol, este ano será melhor do que os outros. "Antes, às vezes a gente tinha comida, às vezes não. Essa terra era só poeira, mas o girassol é valente. Confiando em Deus isso tudo vai dar certo", diz, apontando para a paisagem de girassol.

Cada hectare deverá render R$ 400 para o agricultor. Outros R$ 350 serão usados para pagar os custos, entre eles os recursos das máquinas e combustível adiantados pela Petrobras que se comprometeu a comprar toda a produção do assentamento.

O que sobra do Girassol --a chamada torta-- será usado para alimentar ovelhas, vacas e tilápias, criadas em um tanque artificial. A água do tanque é retirada de um poço cavado pela Petrobras no acampamento. Além disso, o projeto é usar as flores para fazer mel. Cada hectare poderá produzir até 30 quilos de mel.

Falta de grãos

O agricultor Antônio Pereira Barbosa alerta que muitas outras pessoas poderiam estar produzindo oleaginosas na região se o programa fosse estendido e se o acesso ao crédito fosse mais fácil. "Você não consegue pegar dinheiro no banco, é muita papelada, se não for casado direito não sai", reclama.

Apesar da aparente abundância de mão-de-obra, a Petrobras ainda não tem garantia de que a produção dos pequenos lavradores será suficiente para abastecer as usinas de biodiesel, o que poderá fazer com que grande parte da matéria-prima seja comprada de grande plantadores de soja.

"Ter no entorno das usinas uma produção de 50 mil toneladas de óleo vegetal não acontece da noite para o dia. Ainda não há uma tradição de cultivo de oleaginosas", pondera o gerente de Desenvolvimento Energético de Gás e Energia da Petrobras, Mozart Schmitt.

LORENNA RODRIGUES. A repórter viajou a convite da Petrobras