Análise Semanal 25.abr.08
Pressão sobre os biocombustíveis diminue
Os biocombustíveis passaram meses sendo atacados por governos, ONGs, organismos internacionais, ecologistas e outras pessoas com alguma influência, que acusavam a produção destes como a principal causa do aumento do preço dos alimentos. Por outro lado, empresas e governos dos principais países produtores defendiam os biocombustíveis sem apontar quem seriam os verdadeiros culpados pela alta do preço dos alimentos.
Nos últimos quinze dias, quatro causas começaram a serem aceitas e ganharam força como as principais pela escalada dos alimentos:
- O preço do petróleo
- A demanda mundial aumentando mais do que a média histórica
- A especulação financeira
- Secas e outras problemas climáticos reduzindo a produção de grãos.
Sobre o preço do petróleo muito já foi escrito e falado sobre a dependência mundial por este produto. Para a agricultura ele é imprescindível do plantio até a mesa.
O aumento do consumo mundial principalmente na Ásia é um fato. A China que há dez anos tinha soja para exportar, mesmo com sua pequena produção de cerca de 11 milhões de toneladas, hoje importa mais de 30 milhões de toneladas anuais. A produção atual da China não alcança quinze milhões de toneladas. No caso do milho, neste ano o país passará de exportador para importador.
Depois do estouro da bolha imobiliária americana, os fundos precisavam de outro porto seguro para suas finanças e escolheram as commodities. Com o grande volume de dinheiro da especulação indo para esse setor, os preços têm subido e como existe perspectiva de subir mais, mais dinheiro é aplicado, iniciando uma bolha especulativa das commodities agrícola.
O governo brasileiro que sempre defendeu os biocombustíveis dizendo que a cana não devasta floresta e que cada ano produzimos mais alimentos resolveu se defender atacando: apontou o dedo para o petróleo. Saiu da defesa com explicações que não convenciam os acusadores internacionais, para o ataque à verdadeira causa do aumento generalizado dos preços dos alimentos, o petróleo.
O aumento do consumo de grãos e a quebra de safra em alguns países em razão do clima podem ser demonstrados com o problema do arroz. Em 2008 a produção mundial será de 625 milhões de toneladas para um consumo de 623 milhões de toneladas. Somente 7% deste total é comercializado entre países e 90% da produção e do consumo ocorre no continente asiático. Se o arroz não é usado para a produção de biocombustíveis porque nos últimos meses chegou a preços nunca antes alcançados? São duas causas principais: aumento da demanda e diminuição da oferta causada por intempéries.
Com o trigo vem acontecendo a mesma coisa. Problemas de seca na Austrália e na Ucrânia reduziram a oferta mundial.
Com esses fatores sendo apontados pelo governo brasileiro é provável que os países desenvolvidos e outros órgãos mundiais comecem a mudar o discurso. Será muito difícil dizer que o petróleo custando o quádruplo do que custava em 2003, é um agente secundário na alta mundial do preço dos alimentos.
Usinas clandestinas
As pequenas usinas de biodiesel do Mato Grosso são as campeãs em receber notificações e multas da Secretaria da Fazenda Estadual. Onze usinas no Estado foram fiscalizadas. Os fiscais encontraram usinas sem registro na ANP, licenciamento ambiental e autorização do corpo de bombeiros, além de não recolherem o ICMS. Aparentemente diversos fabricantes de biodiesel do Estado não entenderam ainda que a produção de biodiesel é regulada por lei. Não importa se a utilização de biodiesel for para consumo próprio ou venda. Não importa se é uma usina pequena, média ou grande. É necessário cumprir todos os requisitos da Lei 11.097, dos diversos Decretos sobre o assunto e das Portarias e Resoluções da ANP. A Lei existe para todos os tamanhos de usina.
Cana-de-açucar = biodiesel
Transformar o açúcar da cana em óleo, esta é a proposta que a empresa americana Amyris está se propondo a fazer em parceria com a brasileira Cristalsev em Sertãozinho (SP). Microorganismos transformam a sacarose em óleo, matéria-prima para o biodiesel.
Pouco se sabe sobre essa tecnologia, principalmente no que se refere ao custo de produção e a produtividade de biodiesel por hectare de cana, mas ela poderá alterar o perfil das usinas brasileiras. Se o custo de produção for melhor que o praticado atualmente, as esmagadoras de grãos sairão de cena para a entrada das empresas sucroalcooleira.
Com a cana-de-açúcar, o Brasil terá uma matéria-prima para produzir biodiesel em quantidade suficiente para substituir boa parte do diesel de petróleo. Entretanto isso só poderá ocorrer em meados da próxima década.
Conferência BiodieselBR 2008
- Rio de Janeiro: 30 de maio
- Cuiabá: 20 de junho
- São Paulo: 08 de agosto
- Curitiba: 29 de agosto
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