DuPont aposta na segunda geração dos biocombustíveis
Toneladas de bagaço de cana tem sido exportadas, anualmente, pela subsidiária brasileira da DuPont a seu quartel-general nos EUA. É a munição com que a empresa decidiu se alistar na batalha em defesa do biocombustível, que vem se tornando alvo de críticas de instituições preocupadas com os aumentos nos preços mundiais dos alimentos. Segundo informou ao Valor o presidente da DuPont para a América Latina, Eduardo Wanick, a empresa está muito próxima de tornar comercialmente viável a segunda geração dos biocombustíveis, com tecnologias que devem favorecer a produção de etanol de cana, no Brasil.
"Estamos prevendo para breve um investimento importante no Brasil, associado à tecnologia de conversão do bagaço de cana em etanol", revelou o executivo, que disse não poder, ainda, dar detalhes.
A Du Pont, 73ª maior empresa industrial e de serviços dos EUA, com faturamento de US$ 29,3 bilhões em 2007 e 59 mil empregados nas subsidiárias de mais de 70 países, concluiu, segundo Wanick, que é um exemplo de sucesso na aplicação de ciência e tecnologia a produtos de consumo, no mercado americano, mas não tinha o mesmo desempenho nos emergentes. "Escolhemos a América Latina para aprender a fazer isso melhor", disse o executivo, que é brasileiro e já dirigiu a DuPont no Brasil.
A empresa aposta na segunda geração de biocombustíveis, com a produção de etanol a partir do bagaço e resíduos agrícolas. Diferentemente dos concorrentes, que enfocam a produção de etanol a partir do açúcar convertido da celulose com seis átomos de carbono, a Du Pont vem pesquisando também a extração, do etanol a partir de outro produto da conversão da celulose, o açúcar com cinco átomos de carbono, de fermentação bem mais difícil. "Estamos trabalhando muito na fermentação desse açúcar; os concorrentes tendem a ignorá-lo, mas isso faz com que se perca metade do potencial da celulose", disse Wanick.
A tecnologia do etanol a partir da celulose estará disponível, para adoção pelas usinas, em dois a quatro anos, prevê. Outra linha de pesquisa, que deve gerar frutos em prazo de três a seis anos é apontada com entusiasmo do executivo, pelas potenciais vantagens para o Brasil. Wanick comentou que o biobutanol, outro tipo de álcool produzido de celulose, com maior densidade energética (ou seja, produz mais energia) tem como característica a não absorção de água, o que permite seu transporte pelos mesmos dutos usados na distribuição de combustíveis como a gasolina.
"Criar uma outra infra-estrutura de distribuição é um grande problema", lembrou o executivo. "Poder colocar o biobutanol nos mesmos pipelines (dutos) usados para gasolina vai ajudar a reduzir as barreiras de entrada ao biocombustível, e isso beneficia o Brasil, grande produtor", disse. A DuPont já fez testes com o novo combustíveis em automóveis comuns, não preparados para rodar com álcool, e comprovou que o biobutanol permite ótimo desempenho nos carros hoje fabricados para usar gasolina como combustível, garantiu.
"O biobutanol vai ser a chave para acesso a mercados que, até agora, relutavam a entrar no etanol devido ao investimento na infra-estrutura adicional", previu Wanick. As usinas já existentes poderão fabricar o novo produto com açúcar de cana, nas mesmas usinas hoje usadas para o etanol. "Toda a parte de moagem de cana é igual, só daí para frente o processo é diferente", explicou o executivo.
O uso da celulose na fabricação de álcool combustível serve para a produção à base de cana e à base de milho, mas a cana leva vantagem, segundo Wanick, porque o bagaço já é subproduto do processo industrial, na usina. No caso do milho, o resíduo celulósico, o sabugo, não vai para a usina de álcool, e exige uma estrutura adicional, para recolhimento.
O uso do bagaço para produção de álcool, especialmente se for bem-sucedida a estratégia da DuPont, de usar inclusive o açúcar de difícil fermentação, permite aumentar em até 70% a produção atual, o que leva Wasnick a prever que essa tecnologia será fundamental para responder às preocupações com os efeitos ambientais do biocombustível. "Vai-se produzir 70% a mais no mesmo hectare; para a sustentabilidade da indústria de biocombustíveis isso é chave".
Sergio Leo