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O aperto do leilão 27


Edição de Out / Nov 2012 - 30 out 2012 - 15:15 - Última atualização em: 13 dez 2012 - 10:39
Falta de oferta de biodiesel marca resultado do certame

Fábio Rodrigues, de São Paulo

O 27º Leilão de Biodiesel foi o segundo certame realizado desde que o Ministério de Minas e Energia (MME) resolveu reinventar o sistema de comercialização de biodiesel em maio passado. Embora possa ser considerado bem-sucedido em termos gerais, o leilão evidenciou um ponto latente de fratura no setor. O ostensivo detalhe não passou despercebido por ninguém: a fraca oferta de biodiesel pelas usinas.

Se quisessem, as fábricas poderiam colocar no mercado até 1,66 bilhão de litros de biodiesel a cada trimestre. No entanto, colocaram menos de 850 milhões de litros à venda – mais ou menos metade de sua capacidade produtiva nominal. Em termos de preço o resultado acaba sendo melhor, pois oferta baixa se traduz em preços maiores.

PMRs

Em meio a uma das maiores altas já registradas nas cotações internacionais do óleo de soja – em função das quebras de safra registradas este ano na América do Sul e nos Estados Unidos –, a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) optou por adotar um cenário mais otimista, deixando diversos fabricantes perplexos e furiosos. Empresários ouvidos por BiodieselBR na ocasião já diziam que havia a possibilidade de muitas usinas participarem da disputa com capacidade reduzida.

Como de costume, a ANP deu sua tradicional escorregada. De acordo com a Portaria 476/2012 do MME, os preços por metro cúbico no leilão deveriam ser sempre múltiplos de 5. A regra foi sumariamente ignorada pelos técnicos da agência, o que levou a preços máximos de referência (PMRs) impossíveis. Dessa maneira, com uma regra contradizendo a outra, as empresas não poderiam ofertar no sistema Petronect o preço máximo da ANP.

Some-se a esse primeiro problema dificuldades não resolvidas com o abastecimento de metanol, causadas por uma prolongada greve da Receita Federal e potencializadas pelas manifestações de caminhoneiros contra a Lei do Descanso (que limita o número de horas que os motoristas podem trabalhar de forma contínua). As incertezas das usinas quanto à garantia de abastecimento do insumo para operarem normalmente levaram algumas a fazer ofertas mais modestas. O resultado foi um mercado avesso a assumir riscos.

Resultados

No fim das contas, os distribuidores pagaram R$ 2,1 bilhões para comprar 773,3 milhões de litros de biodiesel e fazer frente à demanda prevista no último trimestre do ano. O preço médio do litro ficou em R$ 2,734 – incluída aí a margem de seis centavos por litro negociado que a Petrobras cobrou para gerenciar o sistema.

Mas a oferta ficou apertada. Das 39 empresas que participaram da disputa, nada menos que 27 esgotaram suas ofertas. Outras quatro superaram a marca de 80% vendidos. Isso significa que, apesar da conjuntura não ser exatamente favorável, a imensa maioria das usinas atingiu suas metas comerciais para o trimestre. Apenas Brejeiro, Abdiesel, Bianchini e Bio Vida ficaram sem vender nada.

Preço ruim?

Esta foi a primeira vez que as usinas puderam reduzir os preços entre as duas rodadas de compras das distribuidoras. Apesar de muitas terem reclamado do preço máximo, a maioria das 14 usinas que venderiam biodiesel no segundo dia de negociações com as distribuidoras decidiu aproveitar a possibilidade para tentar vender mais. Nada menos do que nove delas baixaram seus preços em 10 centavos ou mais.

Volta por cima

Compensando o fiasco do Leilão 26, a Granol voltou a ser a maior vendedora do Brasil. Suas duas usinas venderam 105 milhões de litros. Com isso, a empresa vai faturar R$ 284 milhões neste trimestre apenas com o biodiesel.

A homologação do Leilão 27 saiu apenas quatro dias depois de encerrada a disputa. Um avanço substancial em relação ao leilão anterior, no qual a homologação só foi sair depois de iniciado o período oficial de entregas.