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O pequeno agricultor e a falta de instrução


Edição de Out / Nov de 2011 - 15 out 2011 - 10:55 - Última atualização em: 25 jan 2012 - 17:37

Há décadas, governo após governo, inúmeros programas para resolver a pobreza no campo foram criados. Houve progressos, mas o problema continua. A solução não está com os produtores de biodiesel, nem com o Ministério do Desenvolvimento Agrário. A pobreza no campo está ligada à falta de educação e cultura das regiões e só vai acabar com décadas de estimulo à educação. Prova disso é a facilidade com que se consegue agricultores familiares no Sul e a dificuldade para contratá- los na região Nordeste.

Em regiões com nível educacional elevado, uma usina de biodiesel precisa investir muito menos para fazer com que o pequeno agricultor produza a matéria-prima desejada. Não importa se vai ser mamona, soja ou canola. A usina na região Nordeste precisa investir mais em assistência técnica, ensiná-los as vantagens de uma cooperativa, provê-los com maquinário e um monte de outras coisas que muitas vezes não são necessárias na região Sul.

Os diferentes estágios entre os produtores das regiões, aliados ao mercado de soja já estabelecido, fizeram com que o programa de incentivo à agricultura familiar incentivasse os agricultores que já tinham para quem vender sua produção. Talvez o maior erro do Programa Nacional de Produção e Uso de Biodiesel foi ter tratado todas as oleaginosas da mesma maneira, com os mesmos estímulos. Isso levou as usinas a optarem pelo que já estava pronto. Se oleaginosas alternativas oferecessem um retorno maior ao produtor de biodiesel, é possível que, transcorridos esses quase quatro anos de obrigatoriedade no uso de biodiesel, a soja não representasse mais de 80% da matéria-prima usada e a região Sul não tivesse virado a região- -propaganda do MDA na hora de apresentar seus resultados.

Trabalhando com as diferenças

Dentre os vários benefícios que o uso de biodiesel traz, apenas um é exclusividade brasileira: o uso de matéria-prima da agricultura familiar. Esse benefício, que continua a ser um ônus para o produtor, ainda não é um diferencial. Dentro de alguns anos, com a chegada de novos biocombustíveis e com a abertura do mercado de exportação, essa qualidade única do biodiesel produzido no Brasil pode ser uma vantagem competitiva e de mercado que fará toda a diferença. Por isso é preciso que haja uma preocupação maior com essa questão agora. As usinas e associações do setor não podem achar normal a lentidão e opacidade do MDA. Elas precisam mostrar que todos os lados têm a ganhar se houver mais agilidade e conversa franca.

Levar o Selo Combustível Social para as regiões que realmente precisam não é um trabalho fácil, por isso é compreensível não acertar da primeira ou segunda vez. Até o final do ano, o MDA deve publicar a terceira mudança nas regras do selo, que, todos esperam, consiga fazer com que o perfil dos agricultores incluídos mude. Tendo em vista o histórico de mudanças e transparência do órgão, não sei se esse resultado acontecerá. É muito provável que mesmo a nova normativa continue impedindo o investimento nas regiões mais pobres do Brasil, fazendo com que os pequenos agricultores, sem instrução, permaneçam dependentes da ajuda assistencial do governo.

Univaldo Vedana é analista do setor de biodiesel