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Carlos Polastri: Leilões


Edição de Jun / Jul de 2011 - 15 jun 2009 - 08:33 - Última atualização em: 19 jan 2012 - 09:57
Hoje existem dois mercados de biodiesel: um que acontece nos leilões e outro entre as usinas. Qual dos dois está mais lucrativo?
Carlos Omar Polastri
Esse mercado não pode existir: ele é ilegal. Eu não posso produzir biodiesel no lugar de outra usina. A ANP não permite nem que unidades pertencentes a uma mesma empresa produzam biodiesel para cobrir as obrigações umas das outras.

Ainda assim, isso acontece, não?
Carlos Omar Polastri
A gente sabe que os fatos existem. A Cesbra não vende para outras usinas sob nenhuma hipótese, mas, vira e mexe, somos assediados por corretoras, como imagino outras usinas devam ser. Basta entrar nos sites das corretoras que vendem óleo para perceber que elas também andam listando os preços do biodiesel. Para que elas teriam essa informação se elas não deveriam atuar nesse mercado? Mesmo assim, lá estão os preços. Esse mercado não é atraente porque as indústrias que precisam recorrer a esse tipo de serviço são indústrias que venderam mal no leilão e não vão oferecer um preço muito melhor do que elas conseguiram. Se fosse para vender a esse preço, eu venderia no leilão.

As distribuidoras têm reclamado da qualidade do biodiesel entregue. As usinas andam fazendo biodiesel ruim ou o problema pode estar em outro elo da cadeia?
Carlos Omar Polastri
Na própria conferência da BiodieselBR do ano passado, uma distribuidora apresentou fotos dos seus tanques, onde havia glicerina. Sinal de que teve usina vendendo biodiesel de má qualidade. Mas os problemas podem ter mais de uma razão. Se o caminhão que fez o transporte estava contaminado por álcool, por exemplo, isso pode baixar o ponto de fulgor do biodiesel. Quem age certo e tem um produto de qualidade precisa que o mercado se balize pela qualidade. É importante que a qualidade do biodiesel não seja vista como uma virtude, mas como uma obrigação. Fazer biodiesel de qualidade não é mérito, é obrigação. Até porque biodiesel que não atende a norma é, no máximo, um éster metílico sujo, e não biodiesel de verdade.

Parece existir um consenso de que os últimos leilões foram simplesmente desastrosos. Você concorda com essa afirmação?
Carlos Omar Polastri
Plenamente. O 19º leilão não foi apenas desastroso. Ele ultrapassou as raias da desonestidade empresarial e até as do bom senso puro e simples. No 20º você teve preços de biodiesel um pouco melhores. Agora, no 21º, os preços do óleo foram muito ruins e as projeções mostravam que o preço do óleo não ia baixar. No ano passado a tonelada de óleo custava entre R$1.800 e R$ 1.900, agora ela custa entre R$ 2.450 e R$ 2.500. Quem vendeu apostou numa queda da cotação do óleo, e essa queda não aconteceu.

A concorrência dentro dos leilões está ficando predatória?
Carlos Omar Polastri
Predatória é a melhor palavra para descrever o que está acontecendo nos leilões.

O atual modelo de leilões ainda funciona ou é preciso passar para um novo modelo?
Carlos Omar Polastri
Da forma como está sendo feito, o leilão eletrônico está sendo apropriado para esse ato predatório e é responsável por esse risco que o programa está tendo agora. Se os leilões não acabarem logo, acredito que muito em breve vai haver uma segregação importante de empresas, e isso pode até mesmo balançar o PNPB.

Como se dá a relação entre as grandes e as pequenas usinas?
Carlos Omar Polastri
Simplesmente não existe.

A Ubrabio não teria o papel de mediar a relação entre esses atores?
Carlos Omar Polastri
Embora devesse facilitar esse tipo de aproximação, a Ubrabio não faz isso. Ela se preocupa em fazer um acompanhamento do programa em nível macro, mas no nível mais prático do dia a dia ela não contribui com praticamente nada. Todas as tentativas de encontrar soluções para o setor são atos isolados de grupos que conversam um pouco mais. Onde estava a Ubrabio no momento em que temos um grupo enorme de produtores pequenos e médios precisando de ajuda? Tivemos que nos reunir com a ANP porque a Ubrabio não tomou a iniciativa. A disputa interna que anda acontecendo na Ubrabio está ligada a isso. Na mesma semana em que um grupo de usinas foi à ANP com o pires na mão, a Ubrabio resolve comemorar seu quarto aniversário fazendo uma festa para o Edison Lobão [ministro das Minas e Energia]. Enquanto as associadas tomam milhões de prejuízos, a Ubrabio está preocupada em homenagear o ministro. É como o cara que fica tocando violino e bebendo champanhe no deck do Titanic enquanto o navio faz água e o pessoal que pagou passagem está morrendo afogado.