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Carlos Polastri: Pequenas usinas


Edição de Jun / Jul de 2011 - 15 jun 2009 - 08:27 - Última atualização em: 19 jan 2012 - 10:01
Quem está capitaneando esse movimento dos pequenos e médios?
Carlos Omar Polastri
Não existe propriamente um cabeça. Na reunião éramos 11 representantes desse grupo, que reúne 44 usinas de biodiesel. A participação de empresas do Mato Grosso é muito forte, o que é natural, uma vez que as pequenas e médias estão muito concentradas lá.

E por que os pequenos deveriam ser salvos?
Carlos Omar Polastri
Antes de mais nada, porque isso é constitucional. O artigo 170 da Constituição Brasileira manda que o governo federal tenha uma consideração especial com as pequenas e médias empresas. O segundo motivo é que as grandes usinas que produzem seu próprio óleo estão recorrendo a uma série de manipulações dos custos da matéria-prima. Eles têm uma estratégia consciente de segregar esse mercado para tomar conta dele, da mesma forma como as usinas de etanol fizeram em seu próprio segmento.

Por que participar dessa reunião se a Cesbra tem planos de se tornar uma grande no médio prazo?
Carlos Omar Polastri
Porque a Cesbra tem objetivos que não poderão ser alcançados se o programa acabar ficando nas mãos dos verticalizados. Não adianta nada investirmos para chegar a 200 mil toneladas por ano se as coisas continuarem no caminho em que estão. Se a tendência atual se mantiver, pode ser que a Cesbra tenha que abdicar de seus planos de se tornar um grande produtor de biodiesel e começar a buscar outro caminho de crescimento. Se as coisas continuarem como no leilão 21, vamos deixar de participar de outros leilões e vai acabar chegando o momento em que não vai mais valer a pena nem continuar produzindo os 60 mil que temos. Por enquanto, o fato de estarmos solicitando esse aumento de capacidade é mais uma aposta na eficiência e no aprimoramento do mercado. Estamos apostando na abertura do mercado interno e das exportações de biodiesel.

São várias apostas no futuro. Como vocês visualizam o setor de biodiesel por volta de, digamos, 2020?
Carlos Omar Polastri
Eu gostaria de ver o setor de biodiesel repetindo o sucesso do etanol, com o Brasil se tornando o Oriente Médio Verde da América do Sul. Para isso precisamos abrir o mercado externo para o biodiesel brasileiro e de uma política de produção do óleo de soja aqui no Brasil. Sei que é impossível acabar com a exportação de commodities, mas podemos fazer com que um percentual maior da soja que hoje exportamos em grão seja transformada em farelo e óleo aqui no Brasil antes de ir para fora. Assim agregamos mais valor nesse material e exportamos produtos manufaturados, quem sabe até biodiesel.

Qual seria a melhor saída para os produtores de biodiesel hoje? Aumentar a mistura obrigatória novamente ou incentivar a exportação?
Carlos Omar Polastri
Incentivar a exportação logo de uma vez. O aumento da demanda interna para o B7 já seria um cobertor curto e mesmo o B10 não daria. Oficialmente, a oferta está 130% acima da demanda. E assim que o B7 chegar, as usinas vão imediatamente iniciar um novo ciclo de aumentos de capacidade; e quando o B10 chegasse, estaríamos novamente muito acima. Então, ao invés de darmos mais uma canetada para aumentar o mercado interno, poderíamos dar uma canetada que ajudasse a abrir o mercado externo.

E seria possível consertar os gargalos que têm impedido as exportações do biodiesel brasileiro com uma canetada?
Carlos Omar Polastri
Há a taxa cambial, que faz com que nossos produtos fiquem caros no mercado externo. Mas também temos os compromissos de longo prazo que os exportadores brasileiros de soja assumem e que não permitem que o óleo de soja fique no país e seja manufaturado. A safra de 2012 está sendo comercializada agora e isso significa que o custo do óleo de soja que está ficando aqui no Brasil é especulativo. O produtor de soja pensa: “Quer pagar nosso preço? Ótimo! Se não quiser, eu mando para fora.” Poderíamos criar mais incentivos para que uma parte dessa soja toda ficasse aqui. E nem precisa ser muita. Se apenas 5% de todo volume de soja que produzimos e é exportado ficasse no país, teríamos uma oferta de óleo maior e, consequentemente, um custo menor.

A capacidade autorizada pela ANP realmente corresponde à capacidade real das usinas?
Carlos Omar Polastri
Não. Mas também não acredito que o problema seja tão grave assim. De fato, a maioria das usinas têm capacidades autorizadas bem maiores do que as reais, mas estamos conseguindo cumprir a demanda e isso é o que realmente importa. Parte do problema está na forma como a ANP avalia a indústria para permitir o aumento da capacidade. Ela deixa de olhar para a capacidade real do maquinário para olhar a tancagem. Acontece que tancagem é barata, então fica fácil aumentar uma empresa de 100 para 200 mil toneladas no papel. Mesmo que a oferta não esteja 130% acima da demanda, como dizem os números oficiais, estimo que a capacidade real esteja entre 70% e 80% acima da demanda. Por isso o B7 seria um cobertor curto para o segmento.

Por que mentir sobre a capacidade de produção?
Carlos Omar Polastri
Com certeza, a possibilidade de aumentar as vendas nos leilões é o objetivo principal, mas há vários outros motivos para os empresários mentirem sobre sua capacidade: valorizar seu negócio, perspectiva de futuro e até ego. Tem gente que não quer que sua usina tenha capacidade menor que a dos outros.