A estratégia das usinas e o novo marco regulatório do biodiesel
O setor produtivo anseia por uma mistura B20 em 2020,
com um crescimento gradativo no uso obrigatório de
biodiesel. Se esse pleito tiver sucesso, uma nova corrida
por expansão industrial seria desencadeada, garantindo
desenvolvimento para o país.
Este é um dos muitos benefícios de um novo marco regulatório,
que vão muito além das evidentes externalidades positivas
oriundas deste combustível renovável, mas há um outro lado
da questão. Para esta discussão avançar, os problemas precisam
se aproximar de uma solução, porém as usinas, talvez as maiores
interessadas, parecem trabalhar no sentido oposto. A série
de reuniões iniciada pela Casa Civil com diversos segmentos
do mercado de biodiesel, por iniciativa da própria instituição,
propiciou um ambiente ideal para as discussões em torno do
novo marco legal. Mas o que se viu foi uma mudança de foco,
graças às divergências internas dentro da associação que representa
o setor produtivo.
A Ubrabio sofreu nos últimos anos com a falta de profissionalização
de sua estrutura. Aqueles que vinham acompanhando
de perto o trabalho da entidade sabiam que a necessidade de
reestruturação estava latente. Agora, depois de sofrer um esvaziamento,
a associação decidiu se reorganizar, mas ainda não
está claro o grau de comprometimento com as mudanças.
Se não houver alteração na forma que as usinas atuam, o marco
regulatório do biodiesel pode não vir nem em 2012. Os últimos
quatro leilões mostram bem o grau de insegurança e ineficiência
que está vigorando no setor. Nestas disputas, o preço variou
entre alto e muito baixo, em comparação com o preço do óleo
de soja. Quando o preço foi baixo, o abastecimento teve problemas
e entraram em cena os leilões de estoque. Quando o preço
foi alto, a falta de oferta durante o leilão constrangeu.
Esta situação é, em certa medida, responsabilidade do próprio
governo, que, temendo uma competição predatória, evita
medidas enérgicas para garantir a disputa. Isso facilita os
pequenos deságios e, com a margem gerada nesses certames,
algumas usinas têm condições de depreciar significativamente
o valor do biodiesel na concorrência seguinte.
Este é um dos problemas que, além de atrasar o marco regulatório,
pode um dia atormentar as usinas. Mas temos outros
igualmente graves, que não são colocados na agenda de maneira
inteligente, como o impacto inflacionário gerado pelo
biodiesel, a (falta de) participação da agricultura familiar e a
resistência fundamentada das distribuidoras. Já passou da hora
do setor começar a discutir seu futuro seriamente.
Julio Cesar Simczak Vedana
Diretor de Redação