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Congelamento: Tabela e novo parâmetro


Edição de Jun / Jul de 2011 - 05 ago 2011 - 09:04 - Última atualização em: 19 jan 2012 - 10:04

Tabela e novo parâmetro

Que os blends são uma opção, não se discute. No entanto, ainda é necessário arar e adubar muito o terreno para chegar a algo conclusivo. Trocando em miúdos: é preciso investir mais em pesquisa.

“No Brasil, existem poucos trabalhos relativos às propriedades de diferentes composições de biodiesel a baixas temperaturas. Ainda temos de pesquisar este assunto”, avalia Bill Costa, do Centro Brasileiro de Referência em Biocombustíveis (Cerbio).

Costa cita os estudos conduzidos por Nelson Roberto Antoniosi Filho, doutor em Química do Laboratório de Métodos de Extração e Separação (Lames) da Universidade Federal de Goiás, como um dos raros materiais sobre o assunto. Em 2006, o Lames/UFG e o Instituto de Tecnologia do Paraná (Tecpar) montaram uma parceria para avaliar a influência de diferentes percentuais de uma mistura de biodiesel metílico de nabo forrageiro e soja. Com enfoque semelhante e no mesmo ano, as instituições exploraram o comportamento do biodiesel metílico de palma. Há também outro trabalho de Antoniosi envolvendo misturas de soja e cupuaçu. Os resultados obtidos são bem interessantes e servem de base para o desenvolvimento de outras pesquisas nesse campo, com oleaginosas mais usuais.

Paralelamente às investidas ainda tímidas nos estudos para o aperfeiçoamento dos blends, há outras providências que visam a amenizar o problema. A ANP cogita reduzir o parâmetro para o ponto de entupimento, conforme afirmou por meio de sua assessoria. Entretanto, questionada sobre a existência de um grupo de trabalho com a finalidade de solucionar o dilema, a agência diz que “não montou nenhum grupo de trabalho com esse objetivo”.

Outra proposta que tem grandes chances de ser acolhida pela ANP é o uso de uma tabela, nos mesmos moldes da que existe hoje para a especificação do diesel. Nela, seriam apresentados os limites máximos de ponto de entupimento de filtro a frio para cada mês do ano e para grupos de Estados do Brasil – tudo girando em função das temperaturas. Segundo o Sindicom, autor da sugestão, “a superintendência de qualidade da agência está revisando a atual especificação do biodiesel (B100) e, possivelmente, utilizará esse recurso”.

Europa: sonho distante

Revisão de resoluções, de tabelas, investimento em pesquisas, soluções criativas. A ampla gama de esforços envidados com o objetivo de minimizar o problema tem dado resultados. A comprovação está na redução do número de ocorrências causadas pela solidificação do combustível. Tanto produtores como distribuidores concordam que houve uma reversão positiva do quadro. Mas ainda falta muito para se chegar a soluções mais efetivas, que permitam aos produtores ingressar no rico mercado europeu.

O ponto de entupimento não constitui o único empecilho. Há outras variáveis que irão influenciar na decisão dos europeus de importar ou não o nosso biodiesel, como adequação às normas de sustentabilidade, preço competitivo e produção em larga escala. Mas a questão representa ainda um grande desafio.

Se num país tropical como o nosso, o parâmetro do ponto de entupimento já causou transtornos, o que aconteceria, por exemplo, na Alemanha, onde os termômetros chegam na casa dos -20ºC durante o inverno?

Se quiserem mesmo conquistar o passaporte para a Europa, os produtores vão ter de superar as especificações da ANP. E órgãos reguladores, por sua vez, oferecer condições para que as usinas produzam um combustível capaz de enfrentar a concorrência já consolidada no cenário internacional do biodiesel. Enquanto produtores se limitarem a obter um combustível que somente atenda os padrões fixados pela ANP, ajustando o produto conforme a música tocada pelo clima brasileiro, podem ir aposentando a ideia de um dia enviar o nosso biodiesel para além da linha do Equador.