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Congelamento: Blends e Aticongelantes


Edição de Jun / Jul de 2011 - 05 ago 2011 - 08:59 - Última atualização em: 19 jan 2012 - 10:03

Blends

Além de depositar suas esperanças nos blends, os produtores de biodiesel têm reduzido a concentração de sebo nos períodos mais frios. É o caso da Biopar. A usina está sediada em Rolândia (PR), uma região que, durante o inverno, costuma apresentar baixas temperaturas. Para contornar o problema do ponto de entupimento, a empresa diminui a concentração de gordura animal. Enquanto nas estações mais quentes a proporção gira em torno de 40% de sebo, no frio, cai para até 20%. “De maio em diante, ficamos atentos”, diz o diretor industrial da Biopar, Nivaldo Tomazella, que já enfrentou problemas por conta do ponto de entupimento. “Então, trabalhamos com uma composição de cerca de 70% de soja e 30% de gordura animal, sendo que usamos uma proporção muito pequena de sebo de origem bovina, algo em torno de 5%. O restante é de gordura de frango e porco”, completa.

Essa proposta de usar um mix de sebo e soja (ou outro óleo) nas épocas mais frias surgiu em meados de 2009, depois de produtores e distribuidores terem passado por maus bocados nos dois anos anteriores. Segundo o Sindicato Nacional das Empresas Distribuidoras de Combustíveis e de Lubrificantes (Sindicom), que liderou a iniciativa, essa providência não eliminou o problema, porém contribuiu para uma acentuada redução das ocorrências.

Não é difícil explicar por que os blends de óleos vêm conquistando os corações dos produtores. Até o momento, essa é a alternativa que tem apresentado o melhor custo-benefício.

Tomazella, da Biopar, conta que, antes, no inverno, a tendência era a soja ter seu valor depreciado – e o sebo acompanhava. Não é o que ocorre mais. “A gordura animal consegue manter seu preço estável durante o ano porque atende a outros setores, como o dos cosméticos”, explica . “Acaba compensando mais trabalhar com a soja”.

A questão não é só o custo, mas o grau de eficácia da medida. Isso porque o óleo de soja é bem menos propenso a se cristalizar que o sebo. Numa mistura B20, o biodiesel de soja teria um ponto de névoa (ou “ponto de nuvem”, que é quando determinados componentes do biodiesel começam a formar cristais) próximo a -31,8 ºC. Em contrapartida, o biodiesel de sebo animal, na mesma mistura, apresentaria um ponto de névoa aproximado de -21ºC. Numa mistura B50, a discrepância aumenta: um biodiesel de soja registraria um ponto de névoa de -20,5ºC, enquanto no de sebo esse valor seria de 2ºC.

Anticongelantes

Outra possibilidade para driblar o problema são os anticongelantes. Entretanto, sua aplicação enfrenta resistências por parte de produtores. A alegação é que os aditivos disponíveis no mercado teriam eficácia reduzida. Tomazella, da Biopar, está entre os que se frustrou com os resultados apresentados pelos anticongelantes. “Na prática, não funcionou”, afirma.

O diretor diz que irá testar uma nova geração de aditivos este ano, mas continua priorizando investimentos em pesquisas para matérias-primas com bom desempenho a baixas temperaturas. “Em 2008, tivemos uma experiência muito interessante com adição de óleo de mamona. Essa matéria-prima mostrou-se quase como um anticongelante natural”, conta.

Outras duas usinas procuradas – a Granol e a BSBios – afirmam que também não usam anticongelantes em seu biodiesel, cuja matéria- prima majoritária é a soja. “A empresa não tem a necessidade de utilizar anticongelantes, pois o nosso ponto de entupimento é bastante baixo”, sustenta Erasmo Carlos Battistella, diretor superintendente da BSBios.

BiodieselBR conversou com um executivo de uma das maiores produtoras mundiais de aditivos para combustíveis, que pede para ter o nome e o cargo preservados. Ele é categórico ao afirmar que a tecnologia disponível hoje no mercado consegue responder razoavelmente bem ao biodiesel à base de canola ou colza, mas não apresenta resultados similares no caso do sebo, mesmo o que contém misturas de óleo de soja. “Nenhum dos produtos disponíveis no mercado foi bem-sucedido na sua missão de ‘atrapalhar’ o processo de cristalização do biodiesel produzido com gordura animal ou com óleo de palma. Essas matérias-primas tendem a se solidificar com uma velocidade espantosa. Uma coisa é melhorar a característica, outra é contrariar a natureza”, conclui.

Para ele, a saída para o problema do ponto de entupimento do biodiesel brasileiro está nas misturas de oleaginosas. “É testar novas composições e combinações para aprimorar as características do produto.” Mas até chegar a esse estágio, os produtores têm um longo caminho a percorrer.